O Brasil tem se mostrado uma potência paraolímpica em Pequim: prova disso é o nono lugar em que ficou no quadro geral de medalhas, com 16 ouros. Até terça, o país estava em 10º. A 16ª medalha foi conquistada na madrugada desta quarta, último dia de competição, no futebol de cinco, contra China.
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Os donos da casa abriram o placar com Yafeng Wang. O empate brasileiro saiu apenas no segundo tempo e a virada veio com um gol de pênalti, quando faltava menos de um minuto para o fim da partida.
Com a nona posição no quadro de medalhas, o país ficou à frente da Espanha, da França e da Alemanha. É o melhor resultado da história do país desde os Jogos da Alemanha, em 1972.
Em Atenas/2004, o Brasil ficou em 14º lugar, com 14 medalhas douradas, uma a mais que em Sydney/2000. O número de atletas na delegação quase duplicou em relação a 2004: passou de 98 para 188. Esse é um dos fatores apontados por David Farias Costa, 40 anos, presidente da Confederação Brasileira de Desportos para Cegos, para a evolução do Brasil nos Jogos. Também contaram a maior disponibilização de recursos, atletas mais profissionais e o próprio esforço de atletas, técnicos e entidades.
– Na nossa Confederação, por exemplo, cerca de 200 atletas conseguem viver exclusivamente do esporte. Isso faz com que sejam cada vez mais capacitados – explica o presidente, que afirma receber cerca de R$ 2 milhões de verbas anuais para a confederação, vindas do Ministério do Esporte e do Comitê Paraolímpico Brasileiro.
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David, porém, ainda não considera o Brasil uma potência paraolímpica:
– Potência, mesmo, é a China. Temos mais de 20 milhões de pessoas com deficiência no país, mas o esporte ainda não é acessível a todos. Poderíamos ter um desempenho ainda melhor nos Jogos se tivéssemos centros de treinamento com refeição, bons instrutores e equipamentos.
Ex-medalhista brasileiro no atletismo, Robson Caetano acredita que a evolução do Brasil se dá por causa da atenção que os meios de comunicação, especialmente a TV, dão ao esporte.
– Isso causa um otimismo muito grande em pessoas que estão escondidas em casa, presas em suas cadeiras de rodas. A partir do momento em que a TV mostra que isso existe, cria-se uma aceitação tanto do público quanto dos próprios deficientes – sustenta Caetano.
André Meneghetti, 28 anos, reserva da natação na categoria S11 (cego total), pensa parecido. O nadador acrescenta que o esporte paraolímpico oportuniza que um mesmo país consiga mais de uma medalha em cada prova. Exemplo: nas provas de natação tradicionais, há um ouro no feminino e outro no masculino. Na paraolímpica, em algumas provas as categorias vão de S1 a S13, distribuindo até 26 ouros.
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– No caso da natação, temos verdadeiros ícones, como Daniel Dias e André Brasil, talentos individuais que nos proporcionaram vários pódios – diz Meneghetti.
Vale lembrar que o número de medalhas na modalidade só não foi maior porque Clodoaldo Silva, grande esperança em Pequim, teve de trocar de classe na última hora, prejudicando seu desempenho – em Atenas/2004, foram seis ouros e uma prata.
Você pode estar se perguntando: por que o Brasil é potência paraolímpica e não consegue o mesmo feito na Olimpíada? Segundo Robson Caetano, não há como compará-las:
– O esporte paraolímpico é muito mais recente do que o tradicional e veio para suprir uma necessidade americanizada de mutilados de guerra. Os recordes, nível de exigência e treinamento são muito diferentes.
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