O Brasil atingiu neste ano o menor número de praias classificadas como boas em seis anos, aponta levantamento feito desde 2016 pela Folha no verão, que começa nesta quarta-feira (21). Segundo a pesquisa, Santa Catarina registrou uma piora considerável em comparação ao ano passado. No momento, o Estado conta com 85 pontos impróprios para banho nas praias do litoral, a partir do último relatório de balneabilidade do Instituto do Meio Ambiente (IMA).

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Apenas 29% dos pontos monitorados pelo país de novembro de 2021 a outubro de 2022 ficaram limpos em todas as medições, contra uma média de 36% nos mesmos períodos anteriores. A conta não inclui 2020, quando o monitoramento sofreu um apagão por causa da pandemia.

No entanto, o total de praias ruins durante o mesmo período cresceu, passou da média de 10% para 13%. Já os números de locais regulares (26%) e péssimos (16%) se mantiveram na média, mas aumentaram em relação ao ano passado. O restante dos pontos não teve medição (16%).

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No início de tarde de segunda-feira (19), quase não era possível ver a faixa de areia do Porto da Barra, uma das praias mais disputadas de Salvador. Sombreiros abertos aplacam o sol de 28°C, e banhistas aproveitam as águas calmas que são porta de entrada para a Baía de Todos-os-Santos.

Mas o mar está impróprio para banho, segundo o último boletim do Inema, órgão ambiental do governo da Bahia. É a primeira vez que a capital baiana não registra nenhuma praia própria para banho o ano inteiro, cenário que se repete em outras cidades turísticas como Porto Seguro, no extremo sul da Bahia.

— Não estava sabendo disso. Para mim, é uma surpresa — diz Marcos Cerqueira, 43, que acabava de sair da água com aparência cristalina.

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Avaliação da balneabilidade das praias brasileiras

A poluição das praias é um termômetro dessa situação, já que o parâmetro usado é a quantidade de coliformes fecais no mar. Um trecho é considerado próprio para banho se tiver registrado menos de 1.000 coliformes para cada 100 mililitros de água, na semana de análise e nas quatro anteriores.

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A partir daí, cada ponto é classificado como bom (próprio em todas as medições), regular (impróprio em até 25% delas), ruim (até 50%) ou péssimo (impróprio em mais da metade do período), seguindo método da Cetesb, companhia ambiental de São Paulo.

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As informações são dos órgãos ambientais de 13 estados litorâneos, com exceção de Pará, Piauí e Amapá, que não monitoram, e Ceará, que neste ano disse ter sofrido um ataque hacker. Paraná e Rio Grande do Sul só medem na alta temporada, e Rio de Janeiro, Pernambuco e Maranhão continuam com muitos pontos sem monitoramento mesmo depois da pandemia.

A diminuição das praias consideradas limpas atinge todas as regiões do litoral brasileiro. No Nordeste, os estados que mais contribuíram para a queda foram Bahia, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Maranhão. Nestes dois últimos, agora não há nem sequer um trecho bom.

No Sul, Santa Catarina e Paraná também registraram piora considerável em comparação ao ano passado, contrastando com uma melhora no Rio Grande do Sul. Já no Sudeste, São Paulo foi o principal responsável pelo recuo, em praias como São Sebastião, Ilhabela e Bertioga. A Cetesb culpa as chuvas.

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— O primeiro semestre foi bem complicado, especialmente entre abril e maio. Já o segundo semestre não foi assim, e o número de praias impróprias está baixo — diz Claudia Lamparelli, gerente do setor de águas litorâneas.

Quando chove, ligações clandestinas fazem o esgoto extravasar para as galerias pluviais (onde só deveria passar água da chuva), e ruas e valões têm sua poluição “lavada” para bueiros e córregos, incluindo fezes de animais que também possuem coliformes.

Um sistema que já não dá conta da demanda em tempos normais fica ainda mais sobrecarregado durante o verão, quando a população de muitas cidades litorâneas dispara –os pontos péssimos se concentram em 68 de 360 delas. Nas cidades do interior, os rios fazem o trabalho de carregar tudo isso até o mar.

Marco legal do saneamento básico

A piora na balneabilidade do litoral brasileiro é observada mais de dois anos após a aprovação do novo marco legal do saneamento básico, que estimulou a participação de empresas privadas nos serviços e definiu 2033 como meta para a universalização da água potável e da coleta e tratamento de esgoto.

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Para Luana Pretto, presidente do Instituto Trata Brasil, só será possível ver os efeitos práticos da lei no meio ambiente e na qualidade de vida daqui a dois ou três anos –isso se não houver revogações sinalizadas pela equipe de transição de Lula (PT), vistas por ela como um retrocesso.

— Existe um ciclo: primeiro, há projetos de engenharia e licenciamento ambiental. Então, iniciam-se as obras, que duram em média três anos. Só depois teremos mais pessoas ligadas à rede e redução do esgoto bruto lançado nos rios e mares — diz a engenheira civil.

Sinal disso é que os próprios índices de saneamento não melhoraram até agora. A parcela de brasileiros com coleta de esgoto só avançou de 55% em 2020 para 55,8% em 2021, mesmo ritmo dos anos anteriores. Já o índice de esgoto gerado tratado piorou (de 50,8% para 50,3%), com uma população que continua crescendo.

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Sem contar os problemas para a vida marinha, já que a presença de coliformes indica que outras substâncias estão sendo lançadas in natura nas bacias hidrográficas, como detergentes, resíduos sólidos e compostos químicos.

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O também biólogo Mário Moscatelli, ativista ambiental no Rio de Janeiro, concorda que ainda é cedo para ver resultados do novo marco legal do saneamento. Ele estima que apenas de cinco a dez anos será possível ter ideia do impacto dos serviços. Porém, o biólogo já vê progressos.

— Eu reclamava havia 20 anos de um vazamento de esgoto na lagoa Rodrigo de Freitas [na zona sul carioca]. Duas semanas depois [que a nova empresa assumiu], o problema foi resolvido. Existe uma expectativa de melhora, antes não havia — afirma.

Praias próprias para banho em SC

O quarto relatório de balneabilidade da temporada 2022/2023 do Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA), divulgado na última sexta-feira (16), aponta que 85 pontos avaliados do litoral catarinense estão impróprios para banho. Do total, 152 pontos estão adequados para banho. O número que representa 64,14% dos locais pesquisados pelos técnicos do IMA.

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A pesquisa analisa amostras de 237 locais em mais de 100 balneários de 27 municípios catarinenses. De novembro a março, na alta temporada, as análises são realizadas semanalmente.

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Em Florianópolis, dos 87 pontos onde há coleta, 61 estão em condições próprias, o que representa 70,11% dos locais.

Para conferir as situação das praias catarinenses, todos os relatórios estão disponíveis no site de balneabilidade do IMA.

*Com informações de Júlia Barbon, João Pedro Pitombo, Marcelo Toledo, José Matheus Santos e Caue Fonseca