Até 2014, Matheus Vieira Ferreira, 18 anos, nunca havia entrado em um ringue. Acompanhava artes marciais pela TV e costumava brigar na escola. Era um adolescente agressivo, que não se importava com os estudos. O boxe mudou a vida dele.

Continua depois da publicidade

Alessandra Mendes, 16, era conhecida como a “valentona” da escola, e o desempenho nas disciplinas era ruim. Foi para a aula de boxe pela primeira vez há dois anos. Por ser mulher, sofreu preconceito até dentro de casa, mas não desistiu.

Matheus e Alessandra não se conheciam. Ele mora no bairro Itaguaçu, região continental de Florianópolis, e ela em Biguaçu. Nesta história, há algo em comum: eles tiveram suas realidades transformadas pelo esporte.

– Depois que comecei a fazer boxe, minha vida melhorou. Mudou minha alimentação, postura, relação com a escola, meu tom de falar com as pessoas, porque eu era muito agressivo, irritado. Com o boxe, comecei a me acalmar – relata Matheus.

O garoto, que está no 3° ano do ensino médio, já é monitor das aulas de boxe e, até o fim do ano, será promovido a instrutor. Para o futuro, Matheus sonha em cursar faculdade de Direito ou Educação Física e ser professor do esporte.

Continua depois da publicidade

Desejo que é compartilhado por Alessandra, que quer ser professora de Educação Física e lutadora profissional.

– O boxe mudou a minha vida. Fui só por curiosidade, para ver como era. Gostei e penso em seguir carreira. Já participei de dois campeonatos, mas ainda estou evoluindo. Deixei de ser aluna nota zero e a valentona da escola, e hoje presto mais atenção nas aulas e não sou mais de brigar – garante.

Trabalho voluntário

As histórias dos dois se cruzam com a do atleta e guarda municipal Deniz José da Silva, o Malagueta, 36 anos. Ele dá aulas de boxe para a garotada desde 2010, quando improvisou um espaço na garagem de casa, no bairro Tijuquinhas, em Biguaçu. Dois anos depois, as atividades passaram a ser no salão paroquial da igreja Santo Antônio, onde ocorrem até hoje. São cerca de 30 crianças e adolescentes atendidas pelo projeto na cidade, incluindo Alessandra.

Em Florianópolis, as aulas do Boxe na Escola são promovidas pela Guarda Municipal desde 2014 e ocorrem três vezes por semana na base da corporação e na academia Garra, no Córrego Grande. São atualmente 40 alunos, sendo um deles Matheus, mas o projeto na Capital tem capacidade para atender mais de 100 pessoas.

Continua depois da publicidade

Dar aulas de boxe de forma voluntária foi a forma encontrada por Deniz para retribuir a oportunidade que teve na adolescência. Caçula em uma família de 13 irmãos, humilde e sem estudos, Silva abandonou a escola aos 14 anos. Rebelde, tomava um rumo nada promissor.

– Eu e minha família passamos muita dificuldade. Estudar foi algo difícil, porque não tinha referência em casa, ninguém tinha terminado o ensino fundamenta. Meu professor de capoeira, mestre Tuti, foi uma referência, e eu fui o primeiro a terminar o ensino médio na família e fazer faculdade – conta Malagueta.

Estímulo à disciplina

Da capoeira, Deniz foi para o boxe e se apaixonou. Em 2010, teve a ideia de montar o projeto.

– Nasceu pela vontade de colaborar com a comunidade. Eu não estaria aqui hoje se não fosse pelo esporte – justifica.

Continua depois da publicidade

Hoje ele é referência para crianças e adolescentes, muitos com problemas familiares e histórico de agressão.

– Estamos resgatando essas crianças. Temos ex-alunos que se tornaram instrutores e hoje estão na Marinha, na Aeronáutica, que trabalham e tomaram outro rumo – conta cheio de orgulho.

Em Florianópolis, duas escolas são parceiras do projeto, a João Alfredo Rohr, no Córrego Grande, e a Almirante Carvalhal, em Coqueiros.

– Temos relatos de professores e diretores sobre a melhora dos alunos em sala de aula – diz.

Os filhos de Jana Mafalda, 37, Kauã e Kadu, de 11 e 10 anos, participam do projeto.

– O bom deste trabalho é que tira as crianças do computador e desenvolve a disciplina através do boxe – reflete a mãe.

Continua depois da publicidade

Quer participar? Saiba como!

– As aulas de boxe ocorrem em Florianópolis e Biguaçu. Na Capital, as atividades são às segundas e quartas-feiras à tarde, e nas quintas pela manhã, na base da Guarda Municipal (Rua Capitão Euclides de Castro, 236, Coqueiros).

– Na academia Garra, no Córrego Grande, as aulas são às terças de manhã e à tarde.

– Em Biguaçu, as aulas ocorrem no salão paroquial da igreja Santo Antônio, bairro Tijuquinhas, à noite. Os horários e dias podem mudar conforme a demanda.

– As aulas são gratuitas e abertas para meninas e meninos de oito a 18 anos.

– Contato: e-mail para boxenaescola@gmail.com ou telefone (48) 9-9915-0227.