Borderline é um transtorno de personalidade que afeta de 1% a 2% da população em geral, mas, por ser relativamente pouco estudado no país e não existir muitos profissionais brasileiros especializados na doença, seu diagnóstico e tratamento são considerados difíceis pela comunidade médica em relação a outros distúrbios psiquiátricos. Segundo a psicanalista Taty Ades, esse desconhecimento é reflexo dos escassos investimentos públicos em pesquisas sobre o assunto.
Continua depois da publicidade
Ela explica que o indivíduo borderline apresenta transtorno limítrofe de personalidade, ou seja, está entre a neurose e a psicose. Os sintomas podem ser confundidos com os do transtorno de bipolaridade. “As pessoas que possuem borderline sentem um vazio crônico, angustias constantes, oscilações de humor, tentativas diversas de suicídio, automutilação e medo ao extremo do abandono, além de dependência afetiva na vida amorosa e em geral. Impulsividade e compulsões podem causar agressões constantes a elas próprias ou aos outros”, diz a psicanalista.
O tratamento envolve terapia comportamental ou psicanalítica, além de remédios que estabilizem o humor e controlem as compulsões. Antipsicóticos também podem ser usados. Embora a medicina considere borderline uma doença sem cura, Taty Ades acredita na recuperação total. “Estou desenvolvendo uma pesquisa particular psicanalítica com um paciente e estamos chegando a quase 100% de cura. Será uma grande revolução para a saúde”, afirma.
Confira a seguir o depoimento de uma paciente publicado no site Espaço ORG2, do psicólogo e psicoterapeuta Ailton Bedani:
Continua depois da publicidade
“É muito difícil para mim explicar como me sinto e como me sentia. Os sentimentos realmente me avassalam. Houve vezes em que senti como se fosse explodir por causa dos sentimentos. Era como se minha pele fosse mover-se lentamente e eu me sentia como se tivesse sido apanhada numa armadilha. Eu sentia vontade de gritar ou fazer alguma coisa para aliviar os sentimentos. Eu geralmente escolhia me queimar ou cortar. Isto era um alívio para mim […] O ato de mutilar-se é uma coisa muito poderosa. Mais do que controle, lhe dá uma sensação de existir. Você vê o sangue ou a carne queimada e você sabe que você é real.
“Talvez a mutilação física tenha me permitido focalizar minha atenção do lado externo ao invés de na dor interna. […] Eu me sentia deprimida a maior parte do tempo. Às vezes senti que não podia prosseguir com a vida. Não é que houvesse algo tão errado com a minha vida, mas tinha algo faltando. É como se houvesse um enorme buraco dentro de mim. Às vezes quando estou sozinha consigo senti-lo, o vazio dentro de mim. Não há nada lá. Tentei muitas coisas para preencher este vácuo: comidas, álcool, drogas, sexo, relacionamentos. Mas nenhuma destas coisas o fez ir embora. Eu quero tanto me sentir inteira, mas eu simplesmente não consigo.”