Pode soar pretensioso. Antipático, até. Mas a visão azul esverdeada do mar de Bombinhas poderá, em breve, ter seu preço. Eleito um dos três melhores destinos de praia do país pelos leitores da revista Viagem e Turismo _ prêmio anunciado na quinta-feira _ o município avalia a possibilidade de cobrança de taxa para os turistas que não vão passar a noite na cidade.

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A ideia, ainda em fase de estudos, é conter a entrada excessiva de visitantes para proteger as belezas naturais, principal atrativo turístico da cidade, e garantir a mobilidade urbana.

– É o primeiro passo para transformar o município em uma cidade-parque, como Fernando de Noronha – diz o secretário de Turismo, Cláudio Souza.

Dona de uma natureza exuberante, Bombinhas tem 39 praias em uma área de apenas 33 quilômetros quadrados. Ao contrário das demais cidades da região, o principal acesso não é feito pela BR-101, mas através do município de Porto Belo.

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O trecho entre as duas cidades, de 18 quilômetros, chega a levar mais de duas horas para ser percorrido durante o verão – não somente um transtorno para moradores e turistas, mas também um risco para o atendimento de saúde. Durante o verão, casos graves dependem de resgate aéreo.

Para minimizar o impacto ao trânsito, hoje é cobrada taxa de R$ 300 pela entrada de ônibus de turismo na cidade. A expectativa é que, com a cobrança de um valor também para os carros de passeio, o tráfego possa fluir com maior rapidez.

– Não que não tenhamos interesse no turista que vai passar o dia, pelo contrário, sabemos que ele pode vir a se tornar um hóspede. Mas não suportamos a carga e esse turista não nos deixa resultado. No final, sai falando mal porque encontra um trânsito terrível – diz o presidente da Associação Empresarial de Bombinhas (AEMB), Francisco Maciel.

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Segundo ele, o principal problema com o turista de um dia só é que, via de regra, ele nem sequer consome no comércio local. Mais de 80% chega cedo, ocupa a praia e traz comida e bebida de casa.

Maciel acredita que uma solução mais rápida para o volume de turistas seria a implantação de estacionamento pago, aos moldes da zona azul, nas principais praias do município.

Sinal de alerta

A ideia também faz parte dos planos de Ana Paula Silva (PDT), eleita prefeita de Bombinhas nas últimas eleições:

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– Dependendo do tom da transição, poderemos implantar a zona azul já nesta temporada – diz.

Ana Paula concorda com a instituição do pedágio como forma de minimizar o impacto ambiental do turismo em Bombinhas. A prefeita eleita pretende dar sequência aos estudos e, se possível, instituir a medida na temporada 2013-2014.

-_ Ficamos sensibilizados com o reconhecimento de Bombinhas como uma das melhores praias do país, mas vejo como um sinal de alerta. É como se nos dissessem: vocês têm um paraíso, cuidem dele.

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Reflexo da taxa depende da forma de aplicação

A cobrança de pedágio urbano pode ser uma solução para garantir a viabilidade turística de Bombinhas, que recebeu na última temporada 130 mil turistas, quase 10 vezes o que tem de habitantes. Mas, se não for instituída de forma adequada, pode afastar os visitantes e prejudicar a principal atividade econômica da cidade.

– Se bem aplicado pode inclusive ser positivo, para reforçar a imagem de um destino com preocupação em manter o uso da cidade dentro de sua capacidade de carga ambiental e social. Mas se aplicada sem os devidos cuidados, pode ser indelicado com o turista, não garantindo o princípio da hospitalidade, fundamental na atratividade de qualquer destino – avalia Francisco Antônio dos Anjos, pós-doutor em Urbanismo e Ordenamento de Território e coordenador do mestrado e doutorado em Turismo e Hotelaria da Univali.

Para Carlos Alberto Tomelin, doutor em Turismo e Hotelaria, o esclarecimento de como será usado o recurso arrecadado com a taxa é essencial para manter a credibilidade do destino turístico:

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– O ideal seria que a cobrança iniciasse de forma opcional num primeiro momento, para não criar uma imagem negativa do município.

Obra do segundo acesso segue suspensa

A abertura de um segundo acesso a Bombinhas poderia diminuir o impacto à mobilidade urbana na região central pela chegada dos turistas . A proposta inicial, de uma estrada cortando o Morro da Antena, foi suspensa pela Justiça há dois anos, através de uma ação do Ministério Público Federal de Itajaí (MPF).

A obra, de responsabilidade do Governo do Estado, teve o trajeto questionado porque, na avaliação do procurador Roger Fabre, as licenças ambientais teriam sido emitidas sem que os impactos ao meio ambiente tivessem sido avaliados corretamente.

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Nos últimos dois anos foram apresentadas outros estudos de traçado – incluindo um túnel e uma estrada na encosta do morro. No momento, os projetos passam por uma nova análise de custos, a pedido do MPF.

– Temos propostas bem consistentes, com possibilidade de ser executadas nos próximos anos _ diz a prefeita eleita de Bombinhas, Ana Paula Silva.

Confira entrevista com o procurador do MPF, Roger Fabre, aqui.

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