Em 13 de julho de 1892, começava a história do Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville (CBVJ). A entidade, que completou 130 anos na última quarta-feira, dia 13, celebra o tempo de continuidade e as contribuições que tornaram a presença da corporação mais ativa na cidade.
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Seja com combate a incêndios ou com socorros prestados em acidentes, a entidade esteve presente durante este período para ajudar os moradores de Joinville e região. O AN conversou com representantes da corporação e lideranças de Joinville para conhecer mais sobre as origens, o trabalho, as dificuldades e os próximos desafios do CBVJ.
Ao entrar na unidade central da corporação (são nove espalhadas em pontos estratégicos da cidade), é possível notar a estrutura tão consistente quanto a história. A torre do quartel, o edifício imponente de 2,5 mil metros quadrados e a grande quantidade de frotas destacam a presença da instituição no espaço.
Para o presidente da instituição, Moacir Thomazi, a perenidade é uma das marcas que manteve as operações de pé. Durante esse tempo, ele afirma que a instituição funcionou de forma ininterrupta durante 24 horas por dia. Uma conquista em meio a acontecimentos que impactaram o mundo, como a 2ª Guerra Mundial e a pandemia de Covid-19.
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– Vivemos momentos de risco, mas hoje não há riscos para a guarnição parar de funcionar, seja qual motivo for. Chegamos aos 130 anos de forma estruturada no administrativo, financeiro e operacional, com condições de dar caráter de perenidade – diz.
Segundo Thomazi, a entidade nasceu por necessidade, pois na época não havia sistema preventivo de incêndio em Joinville. Em 1892, a colonização germânica ditava o ritmo da cidade, o que fez os imigrantes alemães importarem o hábito do trabalho voluntário.
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– Estava queimando a casa e iria chamar quem? Então, as sociedades se organizaram e foram surgindo pela ausência do Estado – contextualiza o mandatário.
O diretor-executivo e responsável por “apagar o fogo internamente” Matheus Cadorin alega que os primeiros bombeiros optaram por tomar a iniciativa, ao invés de esperar que alguém tomasse providência por eles.
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– Não dá para contar a história de Joinville sem contar a dos bombeiros e vice-versa. Isso é resultado de uma cultura associativista europeia, que funcionou aqui, mas dificilmente funcionaria em outro local que não tivesse essa cultura da ajuda – pontua Cadorin.
A diferença entre bombeiros voluntários e militares
O CBVJ se desprendeu do Estado para prestar os serviços. Ao contrário do Corpo de Bombeiros Militar (CBM), a entidade atua de forma privada com o sustento de doações financeiras da comunidade. A principal é feita por meio de débito na conta de luz.
O presidente acredita que os trabalhos são feitos de maneira eficiente em ambas as instituições, contudo, para os voluntários existe uma facilidade burocrática ao adquirir equipamentos e veículos, como a falta de obrigatoriedade de fazer uma licitação.

– O serviço público tem dificuldade que nós não temos. Se uma ambulância nossa sofrer um acidente e dar baixa, a única limitação (para consertar o automóvel) é financeira. Tendo dinheiro, manda arrumar e no dia seguinte a ambulância está rodando – explica.
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Os voluntários também se distinguem dos militares pelo próprio nome. Ou seja, são pessoas que usam o tempo livre para ajudar nos serviços da corporação, diferente dos militares que ocupam cargos públicos remunerados.
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De acordo com dados disponibilizados no site do CBVJ, foram 186,7 mil horas de serviços gratuitos à população em 2021. Segundo o comandante Carlos Kelm, a vontade de servir à comunidade pode ser explicada por uma série de justificativas.
– Cada um tem a sua razão, não é todo mundo motivado pela mesma causa. Uns são pelo parentesco, “meu pai é bombeiro”, um se interessa porque quando era pequeno sonhou em dirigir o caminhão dos bombeiros, e outro é porque quer vestir o uniforme – comenta Kelm.
Entenda as atividades dos bombeiros
O comandante Kelm afirma que os tipos de ocorrência mais comuns da corporação são os atendimentos pré-hospitalares em acidentes de carro e moto (70%), busca de desaparecidos e salvamento (20%) e combate a incêndio (10%).
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Os encarregados pelo trabalho são as 1,7 mil pessoas que fazem parte de toda a guarnição, entre eles: bombeiros voluntários, mirins, banda, brigadistas, atendentes, socorristas, motoristas e técnicos administrativos. Eles têm à disposição uma frota total de 55 veículos, entre caminhões, van, barco, tanque e outros automóveis.
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A função mais disputada é a do bombeiro. Em junho, no mais recente curso de formação, o CBVJ recebeu 904 inscrições para o cargo, sendo que apenas 80 vagas foram oferecidas. Além de se tornar apto a combater um incêndio, o bombeiro também desenvolve as seguintes habilidades: salvamento aquático, resgate técnico vertical (nas ocorrências em lugares altos), resgate veicular (em caso de acidente de trânsito), entre outras competências.

Apesar do serviço filantrópico, as atividades dos bombeiros têm gastos como qualquer outra empresa, como folha de pagamento, gasolina, comida, água e luz. De acordo com o diretor-executivo da entidade, Matheus Cadorin, o trabalho é voluntário, mas a atividade é cara. Por essa razão, ele reforça a necessidade de arrecadar recursos para sustentar a atuação da corporação.
– Todo o lucro que a gente busca é revertido integralmente na atividade. Se não, eu começo a perder capacidade de atendimento. Por exemplo, se não tiver dinheiro suficiente para a manutenção da ambulância, terei que dar baixa nela. E isso não pode acontecer jamais, porque quem perde é a pessoa que precisa de socorro – alerta Cadorin.
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Importância dos bombeiros para o empreendedorismo
A atuação do órgão não se restringe apenas a incêndios e acidentes. A presidente da Acij, Maria Regina de Loyola Rodrigues Alves, justifica que o CBVJ tem papel de destaque na economia da cidade.
– O Corpo de Bombeiros representa a síntese do associativismo voluntário, que tem contribuído para o desenvolvimento econômico e social de Joinville ao longo dos 171 anos da cidade, que responde pelo terceiro maior PIB da região Sul – comenta Maria.
Bombeiro voluntário há 20 anos, o prefeito Adriano Silva (Novo) aponta que os serviços de segurança da entidade são importantes para o estímulo ao empreendedorismo joinvilense.
– O nosso Corpo de Bombeiros realiza um serviço fundamental para os empreendedores, que são as vistorias, feitas gratuitamente. Isso é fundamental para fomentar e estimular a atividade empreendedora em Joinville – declara o prefeito.
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Os próximos 130 anos
Já se passou mais de século desde que a entidade foi fundada, mas quais são os desafios a serem cumpridos para os próximos 130 anos? Pensando lá na frente, o diretor-executivo Matheus Cadorin revela que uma das principais apostas na parte operacional é o investimento no programa de bombeiros mirins.
A iniciativa de 38 anos ensina comportamentos de segurança para crianças e adolescentes. O objetivo é construir um legado de consciência sobre a atividade dos bombeiros, para no futuro, se a pessoa entrar ou não na corporação, ela terá uma mentalidade e um conhecimento de técnicas capazes de proteger a comunidade.
Além disso, Cadorin afirma que a manutenção da instituição passa pelo engajamento com elementos e atividades do futuro, como criptomoeda e metaverso.
– Na parte administrativa, a gente tem que ampliar as novas frentes de arrecadação – diz.
A história marcada em quatro momentos:
- Em 1952, surgiu a Sociedade Corpo de Bombeiros Voluntários, responsável pela gestão financeira. Além da revitalização da entidade, o então presidente, Walter H. Meyer, propôs a construção de uma nova sede e base operacional, prédio ocupado até os dias atuais na Rua Jaguaruna, próximo ao Shopping Mueller, no Centro;
- Entre 1978 e 1979, a Associação Empresarial de Joinville (Acij) adotou a instituição. Na mesma época, o CBVJ iniciou o processo de descentralização, com a instalação de outras unidades nos bairros;
- No centenário de 1992, a corporação passou a ter os serviços de resgate veicular e de atendimento pré-hospitalar (APH). O movimento foi considerado pioneiro, pois o Samu de Joinville começou a atender apenas em 2002;
- Com uma mudança no estatuto dos bombeiros, as mulheres tiveram direito de trabalhar na corporação em 1993, após 100 anos de existência.
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Sob supervisão de Lucas Paraizo
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