Foram retomadas nesta terça-feira as buscas aos dois homens desaparecidos desde sexta-feira. Eles estavam em uma baleeira que naufragou perto da Ilha do Arvoredo, em Florianópolis. De acordo com o Grupo de Busca e Salvamento (GBS) dos Bombeiros, os trabalho serão contrados no local onde o corpo do terceiro tripulante foi encontrado, a 20 quilômetros de onde aconteceu o naufrágio. Segundo o GBS, a área é muito grande e a varredura será feita no sentido Norte/Sul.

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Rui dos Santos, 50 anos, foi localizado por volta das 11h por um barco de pescadores de Itajaí que passava pelo local. A Capitania dos Portos foi acionada e fez o translado até o Porto de Itajaí, onde aguardavam técnicos do Instituto Geral de Perícias e o Instituto Médico Legal. Bombeiros do Grupo de Buscas e Salvamento explicaram que o rosto de Santos estava bastante queimado de sol, o que indica que ele permaneceu durante muito tempo no mar, ainda vivo.

A identificação do corpo foi feita à tarde pelo único sobrevivente do acidente, o empresário Belarmino João Francisco, 53 anos, morador de São José. Rui será enterrado hoje, na Capital.

Enquanto isso, a apreensão continua entre os De Maria. Dalmo é o quinto filho que desaparece no mar. Com problemas de saúde, agravados pela notícia no último final de semana, a mãe Salma, 71, está de cama. O pai, Maurino José de Maria, 80, disse não ter mais esperanças de encontrar o filho com vida. Usou de poucas palavras para resumir o sentimento de dor.

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– Uma ida sem volta.

Altino Florêncio de Maria, 69, é irmão de Maurino. Acostumado ao mar, acha que o sobrinho se valeu da experiência acumulada ao longo dos anos.

– Se não fosse a onda grande, nada disso teria acontecido.

Altino conta que esteve com o irmão no sábado. Mas até ontem à tarde não tinha encontrado forças para ir até a casa dos De Maria. A distância entre uma casa e outra é de 20 metros.

– A gente não tem o que dizer.

A última despedida do irmão

As buscas continuarão hoje. Na praia, a cerca de cem metros do rancho onde uma placa anuncia passeios ao mar, permanece atracado o barco Noé. Foi na pequena embarcação que Dalmo transportou os últimos passageiros para embarcar na baleeira que despedaçou-se no mar. Ontem, Noé servia de pouso para as gaivotas.

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Dorival Maurino de Maria, 48 anos, o Tato, é o último dos seis filhos de Salma e Maurino. Eles tiveram 11 filhos, sendo que cinco dos seis homens desapareceram no mar. Dois naufrágios ocorreram fora do litoral catarinense – um no RS e outro no RJ. Tão intensa quanto a dor da notícia das mortes foi o desfecho de um desaparecimento. O corpo nunca foi localizado. Em memória, no cemitério da comunidade, três sepulturas e quatro fotografias dos De Maria.

Assim como os irmãos, Tato também foi pescador. Mas só por quatro anos. Diz não entender como conseguiu migrar para outra profissão, sendo a pesca uma atividade presente na família. Tato trabalha no almoxarifado da prefeitura de Bombinhas. Ontem, ele recordava da última vez em que se encontraram. Foi na tarde de sexta-feira, antes da ida ao mar:

– Por causa do horário de trabalho, não era comum eu vê-lo saindo. Na sexta-feira consegui uma carona e cheguei mais cedo em casa. Lembro dele acenando para mim.

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A certeza do ir e a incerta do voltar

Rose Gerber é doutoranda em Antropologia pela UFSC e faz pesquisa sobre pesca no litoral catarinense. Para ela, apesar da dor da perda atingir toda a família, duas são as pessoas que mais sentem os desaparecimentos – a mãe e a mulher do pescador.

A realidade se torna ainda mais dura quando corpos não são localizados. No caso das esposas, além de muitas vezes ficarem sozinhas para o sustento dos filhos, enfrentam ainda a questão do tempo de espera para o reconhecimento da ocorrência da morte. A Lei 8.213/1991, em seu artigo 78, trata da morte presumida para o segurado do direito previdenciário. Seis meses depois é concedida a pensão provisória.

Sobre tragédias sucessivas, como o caso da família De Maria, de Canto Grande, onde cinco filhos desapareceram no mar, a doutorando explica o que ouve dos próprios pescadores durante as entrevistas realizadas.

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– Eles têm a certeza do ir e a incerteza de voltar.

A pesquisadora conta que são dois os argumentos desses profissionais para não desistirem da profissão:

– São pessoas que praticamente só sabem pescar, aprendizado que vem desde dos tempos de criança. Além disso, o mar remete a eles um sentimento de liberdade.

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