Bombeiros fazem levantamento sobre alvarás das boates na Grande Florianópolis

Apesar de garantir ser prioridade e rotina o trabalho de fiscalização de alvarás de boates, bares e casas noturnas que funcionam no Estado, o Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina fará um levantamento da situação de cada estabelecimento.

A informação é do tenente-coronel Altair Salésio Rodrigues, chefe de comunicação do Corpo de Bombeiros. Ele determinou na manhã deste domingo à equipe técnica um panorama dos alvarás e a condição dos lugares na Grande Florianópolis.

Bombeiro há 29 anos, o oficial se disse chocado com a tragédia na boate em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e relatou a situação local nesta entrevista a seguir concedida na tarde deste domingo por telefone:

ENTREVISTA: Tenente-coronel Altair Salésio Rodrigues, chefe de comunicação dos Bombeiros em SC.

Diário Catarinense – Qual é a situação, o panorama das boates e casas noturnas em SC em relação ao alvará?

Altair Salésio Rodrigues – Todos os estabelecimentos com problemas estamos encaminhando para o Ministério Público de Florianópolis. Vou dar um exemplo, local de reunião de público aqui em Florianópolis: mercado público. É um local que tem problema e está no MP.

DC – Há boates irregulares?

Salésio – Daí não posso dizer de cabeça porque não sei. Mas todo local que a gente detecta problema encaminhamos ao MP, porque não temos poder de polícia, que daria o poder de interditar o local.

DC – Como avalia situação das boates no Estado?

Salésio – A questão de segurança contra incêndio temos priorizado bastante aqui e em Balneário Camboriú, que é outro local de grandes boates. Temos atuado fortemente na fiscalização e cobrado principalmente naquilo que é fundamental: as rotas de fugas.

DC – É isso que as boates precisam melhorar ainda, as rotas de fugas?

Salésio – A rota de fuga é a coisa mais importante, deixá-la desobstruída, não colocar uma cadeira, uma mesa a mais. Porque no caso de um sinistro é o local onde as pessoas vão sair. É importante deixar bem sinalizadas também. Aqui em SC não pode fazer decoração ou tratamento acústico com material combustível. Deve ser material retardante ao fogo. Não pode ser espuma.

DC – Todas as boates devem ter mais de um local de saída?

Salésio – A questão não é uma, duas ou três entradas. Você tem que trabalhar o volume de pessoas que vai ter naquele espaço. Se for 200 pessoas, tem que ser compatível. Regra geral: no mínimo duas saídas. E essa dimensão é em função do fluxo.

DC – E os extintores?

Salésio – Também são fundamentais. Isso também em função do tamanho da casa, iluminação de emergência, sinalizadores, sinalização de abandono do local, sistema de combate a incêndio com água, que são as mangueiras e muita gente tem mania de botar quadro em cima porque é feio ou esconder o extintor porque não é bonito na decoração.

DC – Qual a orientação de prevenção nesse momento aos donos das casas?

Salésio – Tem que seguir as normas de segurança estabelecidas pelo Corpo de Bombeiros. Não adianta ter rota de fuga com porta de emergência e estar com ela bloqueada por algum motivo, ‘ah porque alguém pode entrar, porque consigo botar mais uma mesa a mais ali e vou ganhar mais gente na casa’. Todos os extintores e mangueiras devem estar em perfeita condição de uso e você tem respeitar a lotação da casa.

DC – Aconteceu algo, fumaça, qual a orientação?

Salésio – Você tem que der duas equipes: da evacuação e de combate a incêndio da própria casa. Em SC estamos trabalhando para conseguir na Assembleia aprovação das brigadas de incêndios em shows, boates. Existe uma lei e estamos regulamentando isso. Não adianta ter sistema e não saber usar.

DC – Hoje, as boates são obrigadas a ter brigadas de incêndio?

Salésio – Hoje, por lei é obrigado a ter. Estamos fazendo a regulamentação, como vai acontecer, para que não se tenha exageros nem para mais nem para menos. Em 2013 vamos começar essa fiscalização.

DC – Hoje, há lugar que preocupa?

Salésio – De momento o que mais chama a atenção é o mercado público, pelo histórico. O problema de excesso de lotação é outro detalhe que preocupa. Agora, todas que me recordo estão dentro do padrão e possuem autorização. Inclusive hoje eu pedi para a equipe técnica fazer um levantamento de como está cada situação das casas da região (Grande Florianópolis). Aí vamos ter uma noção de como está isso. Tudo o que a gente fizer para salvar vidas é importante.

DC – O que pode nas boates em relação a fogos e sinalizadores?

Salésio – Cada Estado tem a sua legislação própria. Em SC, em lugares fechados podem apenas os fogos para show pirotécnico indoor, que tem composição química diferenciada. Em lugar aberto não pode perto de redes elétrica, postos de combustíveis e depósitos de gás.

DC – E o que houve na boate de Santa Maria, como enxergam?

Salésio – A gente que trabalha na área fica chocado. A gente não aceita. É uma tragédia que tinha que ser evitada. A gente não pode deixar que isso aconteça.