Passava das 20h do último sábado e o vento soprava do leste, com o céu anunciando chuva para dali algumas horas. Pescadores conhecidos, que esperavam a noite cair ali nas areias da praia da Armação, no Sul da Ilha, ainda insistiram para que Márcio José Gonçalves – conhecido por Baga – não fizesse a loucura de entrar no mar naquelas condições.
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Mas Baga estava decidido e corajoso. Tomou o último gole de cerveja, comprou um maço de cigarro e partiu sozinho em uma “batera” – pequena embarcação – para quebrar as primeiras ondas.
– Vocês querem entender de mar mais do que eu? – teria dito ao pescador Cristiano Duarte, o Perna, um dos últimos a avistarem o rapaz.
O destino final era a praia do Pântano do Sul, trajeto feito em duas horas com barco a motor. Com apenas dois remos e o tempo se fechando, o pior aconteceu. Baga não apareceu na praia do Bar do Arante nem na madrugada de sábado, nem no dia seguinte e até esta quinta-feira os bombeiros seguiam com as buscas pelo paradeiro do rapaz de 38 anos, aumentando a angustia da família de seis pessoas que vivem na região.
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O pequeno barco usado pelo pescador na trágica viagem, e que tinha sido comprado por Márcio naquele dia, foi encontrado no domingo pelo helicóptero do Grupo de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros. No interior da batera havia apenas um chapéu e o celular do rapaz. Nenhum familiar quis comentar sobre o ocorrido.
Primeira “batera”
A “batera” amarela com laranja era o primeiro barco de Baga. Comprado de um amigo da região por R$ 1 mil, a embarcação seria usada no domingo para a estreia de uma rede nova para pescar linguado. Segundo relato de conhecidos, duas pessoas se ofereceram para buscar a embarcação na Armação na manhã seguinte, mas mesmo assim Baga preferiu arriscar.
– Ele era pescador experiente, não tinha medo. Quando se tem muita confiança corre-se muito risco. Ir de batera, com dois remos apenas e do jeito que estava o tempo… a gente insistiu para ele não ir, mas não teve jeito – lamentou Cristiano Duarte.
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Márcio José era conhecido por pescar garoupas nas proximidades das ilhas irmãs, a doze quilômetros da praia do Pântano do Sul. Diversas vezes fez o caminho em “bateras” emprestadas, semelhantes a que usou na noite de sábado. As buscas devem continuar nesta sexta-feira, de acordo com o Corpo de Bombeiros.