Quando criança, os brinquedos do quarto de Joannes Spezia resumiam-se a aviõezinhos e pequenos helicópteros. O sonho de ser piloto de uma aeronave o acompanhou desde então. Hoje, aos 32 anos, o bombeiro voluntário de Guaramirim vê seu objetivo mais perto de ser atingido por meio de um plano público. É que por trás da tentativa de comprar uma aeronave de resgate para o Vale do Itapocu, Joannes quer garantir um atendimento ágil para as situações de emergência que ocorrem na região.

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A história de Joannes é marcada por uma dedicação firme. Centrado, ele foca-se totalmente no voo, seja estudando ou lendo sobre o assunto. Bombeiro voluntário desde 2003, ele divide o seu tempo entre o estudo, a profissão, o voo e as formas de arrecadar verbas para cursar as aulas de piloto. Em 2010, fez o seu primeiro curso de voo, em Blumenau.

Para arcar com os altos custos, ele começou a juntar e vender materiais recicláveis. Em cinco meses, arrecadou R$ 6 mil e pagou o curso, assim como as despesas de viagem. Atualmente, faz aulas em Joinville.

O preço das aulas, somado ao custo de locomoção e alimentação, chega a R$ 700 a hora.

Para arcar com tantos gastos, Joannes vende o que pode. Além dos recicláveis, comercializa balas e guloseimas para os colegas bombeiros, vende produtos de limpeza e já fez até uma rifa no fim do ano. Também já fez fretes com a caminhonete que usa para a coleta dos recicláveis e ministra cursos em empresas. Tudo isso entre os plantões nos bombeiros e a faculdade de educação física, que foi concluída em dezembro.

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– A primeira vez que voei foi a coisa mais maravilhosa do mundo. Hoje é uma realização: acionar, tirar do solo, manobrar e pousar de volta, tudo sozinho, é muito gratificante.

Um plano para atender a todo o Vale do Itapocu

Em 2008, Joannes fez um projeto que mostrava que seria possível manter uma aeronave de resgate no Vale do Itapocu. Guaramirim é uma das cidades com maior número de acidentes de trânsito no País – média de 4,5 mil ocorrências atendidas por ano -, o que justifica a operação.

Se as demais cidades do Vale do Itapocu forem englobadas, esse número é ainda maior. Com os dados na ponta da língua, Joannes explica que a manutenção da aeronave é possível, ignorando antigas afirmações de que a ideia é uma loucura.

– Temos 283 mil habitantes nos sete municípios do Vale. O valor para a manutenção é de R$ 60 mil por mês, o que daria R$ 0,22 por habitante. Em Guaramirim, fizemos uma campanha pelas contas de água e elevamos a arrecadação de R$ 2,6 mil para R$ 19 mil. Se procurarmos a população, veremos que o apoio é grande – diz.

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Para comprar o helicóptero, que, dependendo do modelo, pode variar entre R$ 2 milhões e R$ 4 milhões, a proposta é contar com o apoio do município. Em reunião realizada na Associação dos Municípios do Vale do Itapocu (Amvali), o projeto foi apresentado aos prefeitos. Além do governo, Joannes tem um plano que inclui a população. A ideia é vender cotas fixas para arrecadar a verba.

Equipe inicia os preparativos

Para finalizar o curso de piloto privado, faltam 14 horas-aula. Depois, serão necessárias 64 horas para a formação como piloto comercial e cerca de dez horas para ter a carteira de instrutor de voo.

Além disso, será preciso realizar provas para poder atender aos resgates. Enquanto a carteira e a aeronave não estão disponíveis, Joannes já convocou os colegas de Guaramirim para iniciar os preparativos.

Vinte e cinco alunos, todos bombeiros, estão em formação, recebendo treinamentos para atuar em unidades aéreas.

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Intitulado Departamento de Operações Terrestres, Aéreas e Aquáticas de Resgate – Núcleo de Operações Aéreas de Resgate (Dotaar – Noar), o grupo começou as aulas em agosto do ano passado.

Joannes ministra parte dos conteúdos, juntamente com o piloto Rodrigo Capeletti, da Horus Escola de Aviação Civil, de Joinville, outro voluntário nessa causa. No total, serão 450 horas de curso, que deve ser finalizado entre março e abril deste ano. A equipe deve passar por uma prova da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para tripular a aeronave e realizar os atendimentos de resgate.

– Além do curso dos tripulantes, eu gostaria de apoio para finalizar as horas de aula até a metade de 2015, para até o fim do ano ter a credencial para resgate – diz Joannes.

Oficial da Marinha promete apoio

Para o trabalho do Núcleo de Operações Aéreas de Resgate (Noar), Joannes conta com um aliado experiente. Verli Lima Pereira, 48 anos, é nascido em Joinville, foi criado em São João do Itaperiú e cresceu visitando Guaramirim e região.

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Após o concurso para a Marinha, Verli fez testes e foi um dos nove formandos do Grupamento de Mergulhadores de Combate (Grumec), uma unidade de forças especiais da Marinha Brasileira.

Convocado para atuar no Haiti, Verli irá adiar a aposentadoria, que ocorreria em março de 2015. Quando retornar ao Brasil, no fim do ano que vem, ele encerra suas atividades na Marinha e seu plano é voltar a Guaramirim. Hoje, ele mora no Rio de Janeiro. Vai atuar junto a Joannes, amigo há mais de 20 anos.

Se boa parte das técnicas aprendidas na Marinha são voltadas para as operações de combate, no Vale do Itapocu, Verli utilizará todo o conhecimento de salvamento adquirido, incluindo o mergulho, uma de suas especialidades. Uma força a mais para o grupo, que se forma já contando com a experiência de um profissional.