Sujeito quer escrever um livro e se muda com a família para um lugar tranquilo cercado por neve. No passado, ali ocorreu um terrível crime. Coisas estranhas começam a acontecer, e ele surta.
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Essa referência ao clássico O Iluminado, de Stanley Kubrick, é uma das tantas que A Casa dos Sonhos evoca sem a menor inspiração.
O filme que entra em cartaz amanhã na Capital é exemplo de como um bom elenco e um prestigiado diretor pouco podem fazer para dar liga a um roteiro, no caso, pouco iluminado. Esse é um risco permanente de quem faz cinema, o de deparar com um projeto que parece promissor no papel mas, na realização, ruma ao desastre.
A história: Daniel Craig interpreta Will Atenton, executivo do ramo editorial que decide largar o emprego em Manhattan para realizar o antigo sonho de escrever um livro. Ele se muda com a mulher, Libby (Rachel Weisz), e a duas filhas pequenas para uma casa em reforma na Nova Inglaterra. Já instalados, descobrem que ali, anos atrás, um homem matou a mulher e as duas filhas pequenas. Episódios estranhos começam a ocorrer, e Will desconfia que o criminoso, posto em liberdade após uma temporada num sanatório, está à espreita. Nesse processo, sua própria sanidade é colocada à prova. A chave do mistério é a vizinha da casa em frente, Ann (Naomi Watts), que tinha ligação com a família massacrada.
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Dirigido pelo irlandês Jim Sheridan, A Casa dos Sonhos tem a partir daí um série de reviravoltas que exigem, mais que atenção, muito boa vontade do espectador para não se sentir ludibriado com os caminhos tortos que levam à amarração final. Testes de audiência indicaram que o barco estava indo a pique antes mesmos de zarpar. Cenas tiveram de ser refeitas em meio às dificuldades de brechas nas agendas do elenco.
Sheridan diz que essa versão não é a dele, pois os produtores mutilaram o filme na sala de montagem. Craig e Rachel ficaram ao lado do diretor e se recusaram a promover o filme.
Indicado ao Oscar de direção pelos filmes Meu Pé Esquerdo (1989) e Em Nome do Pai (1983), Sheridan parece ter se dado conta tarde demais, com o contrato já assinado, que estava diante de uma roubada. Começou a brigar com os produtores na pré-produção, continuou nas filmagens e na finalização, feita a sua revelia. Pediu para ter seu nome retirado dos créditos, mas não conseguiu.
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O diretor propôs mudanças no roteiro de David Loucka, cujo trabalho anterior, o drama criminal Borderline (2002), não teve maior repercussão. Em síntese, Loucka faz um confuso emaranhado de situações clichês de filmes de suspense e terror (veja ao lado) com os quais Sheridan, fora de sua, digamos, zona de conforto dramática, não soube lidar. Talvez daqui a alguns anos surja a “versão do diretor”, mas seria uma espantosa façanha fazer deste um filme melhor.
Para não dizer que tudo foi um desastre na empreitada, A Casa dos Sonhos serviu para Daniel Craig e Rachel Weisz engatarem um apaixonado romance que virou casamento.