Bolt x Gatlin, duelo de feras no ‘Ninho do Pássaro’

Se fosse um combate de boxe, o jamaicano Usain Bolt (1,96 m/92 kg) e o americano Justin Gatlin (1,85 m/81 kg) não lutariam na mesma categoria.

Nos 100 m, cada um usará suas caraterísticas para buscar o ouro, no duelo entre os campeões das últimas três olimpíadas (2004 para Gatlin, 2008 e 2012 para Bolt).

Grande astro do atletismo mundial, Bolt é favorito pelo retrospecto nos últimos grandes campeonatos, mas Gatlin obteve um desempenho bem melhor neste ano.

Confira o raio-x do duelo pelo posto de homem mais rápido do mundo.

. Largada:

Vantagem Gatlin. “Ele explora o potencial físico logo na largada, com o pé direito ligeiramente na diagonal. É pura bestialidade, eficiente e brutal, de ponta a ponta”, analisa o francês Stéphane Caristan, que já foi campeão europeu dos 110 m com barreiras e é comentarista da televisão Eurosport. O nova-iorquino tem passada menos ampla e corre com perna esticada, como se fosse dar chutes de futebol.

No caso de Bolt, o trajeto do calcanhar é mais longo, passando até a altura do joelho para parar quase no glúteo. Nesta fase de aceleração forte (até 40 metros), Gatlin tem uma frequência melhor, com mais penetração no ar. As primeiras passadas de Bolt se desenvolvem com menos segurança, por conta da sua morfologia (é mais alto que a maioria dos velocistas) e de problemas na coluna que atrapalham seu desempenho desde a adolescência.

Se, depois deste primeiro round, Gatlin tiver entre 1,5 e 2 m de vantagem, o jamaicano estará à beira do nocaute.

. Fase lançada:

Vantagem Bolt. “O jamaicano tem passadas mais largas, de 2,70 m na fase máxima de velocidade”, destaca Guy Ontanon, técnico de Jimmy Vicaut, recorde europeu dos 100 m (9.86 m).

Quando quebrou o recorde mundial dos 200 m (19.19), no dia 20 de agosto, em Berlim o ‘Raio’ tinha alcançado a velocidade incrível de 44,7 km/h. Quatro dias antes, Bolt já tinha cravado a melhor marca da história nos 100 m (9.58), com apenas 41 passadas.

Apesar da estatura mais baixa, Gatlin também tem passada larga, que lhe valeu o apelido de Guepardo, o animal mais veloz da terra (cerca de 110 km/h). Quando se sagrou campeão mundial dos 100 m em 2005, em Helsinque, o americano precisou de apenas 42 passadas. Desde que voltou da segunda suspensão por doping, depois de quatro anos afastado, Gatlin aumentou a frequência (43,5 passadas) para “ganhar explosão”.

. Fatores invisíveis:

A vitória também será decidida por fatores invisíveis ao olho humano. Fatores neuro-musculares, ligados à velocidade de condução do fluxo nervoso.

Ambos os atletas parecem mais fortes do que nunca mentalmente. Bolt, que completou 29 anos nesta sexta-feira, se mantém firme, apesar do início de temporada pouco animador. “Treinei duro nas últimas semanas para estar no auge da minha forma e defender meus títulos”, garantiu o jamaicano.

“Nunca me lesionei, e fiquei afastado do esporte durante quatro anos. Meu corpo descansou e me sinto como um homem de 27 anos, não de 33”, disse Gatlin à AFP no mês passado.

* AFP