O deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) tornou-se réu no Supremo Tribunal Federal (STF). Pela afirmação de que não estupraria a deputada Maria do Rosário (PT-RS) porque ela “não merece”, feita em dezembro de 2014, o parlamentar responderá a ações por incitação ao crime de estupro e injúria.

Continua depois da publicidade

A 1ª Turma da Corte aceitou nesta terça-feira denúncia da Procuradoria-geral da República (PGR) e uma queixa-crime de Rosário. Dos cinco ministros do colegiado, quatro votaram pela abertura das ações — Luiz Fux (relator), Luiz Edson Fachin, Rosa Weber e Luis Roberto Barroso. Marco Aurélio contrariou a posição dos colegas.

Leia mais

Jair Bolsonaro diz que não “estupra” Maria do Rosário porque ela “não merece”

“Não merece ser estuprada porque é muito feia”, diz Bolsonaro

Continua depois da publicidade

Presidente da Comissão de Direitos Humanos pede cassação de Bolsonaro

As declarações de Bolsonaro, citadas na denúncia, foram feitas no plenário da Câmara e em entrevista a Zero Hora. Em 2014, ele respondeu a um discurso no qual Rosário, ex-ministra dos Direitos Humanos, apoiou investigação de crimes da ditadura. Defensor do regime, o deputado disse à petista:

— Há poucos dias, tu me chamou de estuprador no Salão Verde, e eu falei que eu não estuprava você porque você não merece.

Ouça entrevista concedida por Bolsonaro a ZH em dezembro de 2014:

O parlamentar repetiu as declarações para ZH, quando afirmou que não estupraria Rosário “porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia, não faz meu gênero”. Em 2003, em discussão com a deputada, ele já havia dito que não a estupraria porque “não merece”.

No julgamento desta terça-feira, a defesa de Bolsonaro afirmou que o contexto das declarações era uma resposta a Rosário, que atribuiu ao político a responsabilidade por estupros que ocorreram no país.

Continua depois da publicidade

Deputado reivindica imunidade parlamentar

A defesa alega que ele não incitou o crime e destaca que deputados têm imunidade parlamentar, ou seja, não podem ser processados por opiniões. A maioria da turma do STF entendeu que, neste caso, as falas de Bolsonaro não tinham relação com seu mandato.

— Imunidade não significa impunidade — pontuou Rosa Weber.

Em seus votos, os ministros destacaram a gravidade das falas. Barroso disse que as afirmações contribuem para a cultura do estupro.

— (As frases) têm em potencial para estimular perspectiva da superioridade masculina em relação às mulheres, além de prejudicar compreensão contra consequências dessa postura — apontou Fux.

Bolsonaro questionou a decisão afirmando que, a partir de agora, a imunidade de opinião não é mais “absoluta”. Ele lembrou que tem projetos para punições mais severas a estupradores:

Continua depois da publicidade

— Ninguém mais do que eu defende a mulher dessa violência.

“Em um país em que a cada 11 minutos é cometido um estupro (…), é fundamental combater a cultura do estupro, e, para tal, a decisão de hoje é um passo extremamente importante”, escreveu Rosário, em nota.

Entenda o caso

— Em 2014, Jair Bolsonaro falou no plenário da Câmara que não estupraria a deputada Maria do Rosário porque ela “não merece”. Em entrevista a Zero Hora, o parlamentar repetiu que não estupraria a colega “porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia”.

— A Procuradoria-geral da República denunciou Bolsonaro por entender que ele fez incitação ao estupro com suas declarações.

— A defesa disse que não houve incitação ao estupro e destacou que Bolsonaro é protegido por imunidade parlamentar em suas falas.

Continua depois da publicidade

— Por quatro votos a um, a 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal aceitou tornar o deputado réu em duas ações, por incitação ao estupro e injúria. Se for condenado, pode pegar pena de três a seis meses de prisão, mais multa. Não há previsão para o julgamento.

Leia as últimas notícias de Política