Em meio à crise do coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem dado demonstrações de impaciência com seus apoiadores. As respostas ríspidas, antes reservadas apenas aos jornalistas, agora são dadas também a pessoas que integram a claque que costuma ir à portaria do Palácio da Alvorada para chamá-lo de mito, rezar por ele e também fazer pedidos.
Continua depois da publicidade
> Em site especial, leia mais sobre o coronavírus
Nesta quarta-feira (22), um senhor começou a falar pedindo que Bolsonaro desse atenção aos lotéricos do país. Bolsonaro logo interveio.
– O senhor não está acompanhando os lotéricos, então. Com todo respeito. Nós convidamos vocês, demos uma cesta de vantagens sem vocês pedirem nada. O pessoal, 98% ficou satisfeito. Fecharam as lotéricas. Fiz um decreto, abri, 3.000 loterias fechadas. Então, não sei mais o que o senhor quer – disse o presidente.
Logo depois foi chamado por um outro homem que pediu que o presidente gravasse vídeo de apoio a uma "maratona verde" de plantio de árvores em Londrina (PR). Outra resposta ríspida.
Continua depois da publicidade
– Quando eu convido, estou presente. Não tem como – afirmou Bolsonaro, ao justificar a negativa ao apoiador.
> Moraes, do STF, atende pedido de Aras e autoriza inquérito para investigar atos pró-golpe
Na segunda-feira (20), ao tentar minimizar as críticas que vinha recebendo pela participação em um ato pró-golpe militar, Bolsonaro deu um pito em um apoiador que pedia o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF).
> "Não sou coveiro", diz Bolsonaro sobre qual seria número aceitável de mortes por coronavírus
– Esquece esta conversa de fechar. Aqui não tem que fechar nada, dá licença aí. Aqui é democracia. Aqui é respeito à Constituição brasileira. E aqui é a minha casa e a tua casa, então peço que, por favor, não se fale isso aqui – afirmou Bolsonaro.
Continua depois da publicidade
Na quarta-feira passada (15), Bolsonaro ouviu cobranças de apoiadores aglomerados e não escondeu seu incômodo.
– Pessoal, se eu parar aqui para ouvir cada um com um problema, não paro mais – disse.
> Um dia após ato pró-golpe, Toffoli afirma que não há solução fora da democracia
> Forças Armadas trabalham por "estabilidade e obedecem a Constituição", diz Ministério da Defesa
Na manhã de 6 de abril, o presidente também perdeu a paciência com um homem que falava contra a prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
– Chefe, o que o senhor quer, eu concordo, mas passa pelo Parlamento. O Parlamento negou várias vezes o que o senhor quer. Dá para entender que não é uma canetada minha? – questionou o presidente, diante da insistência do apoiador.
Continua depois da publicidade
Em algumas ocasiões, Bolsonaro também pediu rapidez a religiosos que anunciam que vão fazer alguma oração por ele.
> Painel do Coronavírus: veja em mapas e gráficos a evolução dos casos em Santa Catarina
Em frente ao Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência, depois de passarem pelo check point em que os veículos são revistados e antes de cruzarem o detector de metais e o equipamento de raio-X, os visitantes são orientados a deixar em armários todos os seus objetos, com exceção de telefones celulares. Cartas, sugestões de projetos de lei e bandeiras, por exemplo, não podem mais entrar na área reservada aos fãs de Bolsonaro.
As pedras do canteiro antes serviam de escada para quem queria visualizar melhor o presidente. Agora, a área onde está a mangueira plantada na portaria principal do palácio no fim da década de 1950, está isolada por faixas. Quem tenta burlar a nova regra é repreendido pela segurança.
Os que ficam encostados na grade que os separa de Bolsonaro testam o humor do presidente a cada dia. Durante alguns dias, o presidente também foi cobrado pela liberação do auxílio emergencial de R$ 600.
Continua depois da publicidade
O humor de Bolsonaro com os militantes começou a mudar com o agravamento da crise do novo coronavírus e chegou ao ápice durante o processo de fritura e demissão do então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
Nos últimos dias, o presidente tem se mantido na defensiva por causa das críticas à sua participação no ato a favor de um novo AI-5, o mais radical ato institucional da ditadura militar (1964-1985), que abriu caminho para o recrudescimento da repressão.
Além disso, Bolsonaro deu início a uma operação que pode deixá-lo numa saia-justa com sua militância. O presidente tem recebido dirigentes de partidos do centrão no Palácio do Planalto para que seu governo negocie cargos em troca de apoio.
Na manhã desta quarta-feira, os jornalistas tentaram questioná-lo sobre o assunto, mas ele ignorou as perguntas.
Continua depois da publicidade
– Eu não vou falar com a imprensa, porque eu não preciso falar. Então, vocês não distorcem mais. O que eu li hoje, inventam tudo. Então, podem continuar inventando – disse Bolsonaro, antes mesmo de ser indagado pelos jornalistas.