O presidente Jair Messias Bolsonaro (PSL) estava em casa. O Estado que deu ao capitão reformado 75% dos votos no segundo turno da eleição em 2018 recebeu nesta quinta-feira (2) a primeira visita oficial do novo chefe da República. Bolsonaro participou da abertura do 37º Congresso dos Gideões Missionários da Última Hora, em Camboriú.

Continua depois da publicidade

No encontro evangélico, o presidente eleito com bandeiras conservadoras e slogan que preconizava "Deus acima de todos" encontrou ambiente afável e acolhedor. O que também lhe permitiu uma trégua nas polêmicas que permeiam os primeiros meses de governo.

A passagem de Bolsonaro começou com a chegada pontual às 17h25min no Aeroporto de Navegantes. De lá, partiu em helicóptero até o estádio municipal de Camboriú. O local de pouso estava cercado por seguranças da Polícia Federal, Exército, Polícia Militar e seguranças da presidência. Tudo dentro do previsto pelo forte esquema de segurança montado, com 320 agentes dedicados à proteção do presidente.

Até então, Bolsonaro havia tido pouco contato com a população. Acenou de longe para um grupo que assistiu ao pouso da sacada de uma lanchonete e para moradores que estavam perto do carro. Ao chegar ao ginásio em que ocorrem as palestras do Congresso dos Gideões Missionários, o presidente reuniu-se com o governador Carlos Moisés. A principal reivindicação do governo do Estado foi na área de Infraestrutura.

O governador pediu recursos emergenciais para obras em rodovias federais como a BR-470, BR-280 e BR-282. Em seguida, dos bastidores do evento, Bolsonaro fez sua tradicional transmissão ao vivo em seu Facebook ao lado do empresário catarinense Luciano Hang e do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno.

Continua depois da publicidade

Na ocasião, defendeu a permanência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sob a alçada do Ministério da Justiça, tema que ainda não havia abordado.

Na cerimônia dos Gideões, Bolsonaro evitou polêmicas e teve um discurso movido por patriotismo. Destacou os potenciais do Brasil, como a biodiversidade e riquezas minerais, e comparou com a realidade de Israel, país que já visitou como presidente no início do ano.

— O que nos falta é fé. É acreditar. É ter a certeza que cada um de nós pode mover esse país para o lugar que ele merece, um lugar de destaque no mundo — enfatizou.

Bolsonaro agradeceu as orações e classificou como milagre o fato de ter sobrevivido após o atentado de setembro do ano passado. Voltou a falar como candidato em alguns momentos, como quando repetiu versículos ditos na campanha, como o de que "Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos".

Continua depois da publicidade

Em oito minutos de fala, o presidente adotou tom semelhante ao do discurso de 2018, quando ainda era pré-candidato, mas evitou polêmicas como ideologia de gênero. Tampouco falou sobre pautas políticas como a reforma da Previdência.

— Como já foi dito aqui. Se o justo governa, o povo se alegra. Vim aqui pedir aos senhores e senhoras que continuem orando pelas autoridades do Brasil. Não percamos a fé, vamos manter viva a chama da esperança pra que possamos de fato bater no peito e falar: eu sou brasileiro com muito orgulho.

O evento organizado em um enorme ginásio no Centro de Camboriú foi uma verdadeira celebração religiosa, com presença de pastores de todo o país. Do lado de fora, a multidão que veio até de outros países para o congresso movimentava um enorme mercado de lojas e vendedores ambulantes, que comercializavam desde Bíblias e moda evangélica até roupas, decoração e eletrônicos.

À noite, a cerimônia teve apresentações de crianças, vídeos sobre os projetos solidários dos Gideões em todo o mundo e fiéis em momentos de devoção. Bolsonaro ganhou ainda um troféu de homenagem dos evangélicos.

Continua depois da publicidade

Veja o momento em que o helicóptero chega a Camboriú:

Visita de Bolsonaro mobiliza fiéis e admiradores

O reencontro de Santa Catarina com um presidente de direita foi eufórico como a onda que levou Bolsonaro à Presidência no ano passado. O Estado dos protestos contra João Figueiredo, em 1979, e de uma quase indiferença recente com Michel Temer desta vez registrou uma recepção afetuosa ao chefe da República.

Se faltava proximidade e calor humano com o presidente na chegada e na saída pelo forte esquema de segurança, os sinais de apoio ainda estavam presentes. Do lado de fora, de forma mais sutil do que era no período eleitoral. Mas durante a celebração, os gritos de "Mito!" e as ovações voltaram a ser entoadas com força pelos espectadores que apoiavam o capitão.

Alguns visitantes como o autônomo Orides José Rocha, 59 anos, tinham na visita de Bolsonaro um fator secundário na noite. Ele considerou a presença do presidente boa para o evento e disse simpatizar com Bolsonaro. Porém, por outro lado, afirmou ver com desconfiança a mistura muito próxima de política e religião. A principal expectativa, segundo ele, era pelo anúncio de uma notícia boa para o Estado.

Para outros, as polêmicas deste início de governo não abalam a fé e a admiração por Bolsonaro. O motorista de aplicativo Franz Reiter, 28, esperou mais de três horas na fila para acessar o ginásio.

Continua depois da publicidade

Ele era um dos poucos avistados com camisas com o rosto do presidente, que ficaram famosas nas eleições. Diz que acompanha Bolsonaro desde 2013 e se identifica com a ideologia do capitão.

— O Brasil estava perdido com a esquerda. Estava na hora de parar com o politicamente correto, colocar ordem nas coisas — conta o rapaz, que já assistiu à visita do presidente no mesmo evento no ano passado.

De um estádio de futebol em Camboriú, Bolsonaro partiu de carro até o ginásio onde ocorreu o evento.
De um estádio de futebol em Camboriú, Bolsonaro partiu de carro até o ginásio onde ocorreu o evento. (Foto: Isac Nóbrega/Presidência da República)

Polêmicas e pautas de SC ficaram de fora da visita

A passagem por Santa Catarina permitiu a Bolsonaro uma trégua nas polêmicas que cercam o presidente nas últimas semanas e neste início de governo.

Nem o presidente nem ninguém da comitiva, que ao contrário do esperado não contou com os ministros Onyx Lorenzoni (Casal Civil) e Paulo Guedes (Economia), deu entrevista coletiva.

Continua depois da publicidade

Na fala no palco do Gideões, Bolsonaro também não abordou temas da agenda do governo, como reforma da Previdência ou relações internacionais com a Venezuela. Já as pautas locais ficaram restritas à conversa de portas fechadas com o governador Carlos Moisés.

Às 21h, como previsto, Bolsonaro foi levado em comboio até o estádio, onde pegou o helicóptero até Navegantes para retornar a Brasília.