Há quem valorize as bandeiras dele, há quem não suporte o tom. Tem o público que repete seus gestos e frases, tem pessoas que se sentem degradadas e segregadas por ele. É nesse cenário de divisão entre integral apoio e total rejeição que Jair Bolsonaro (PSC) chegou sexta-feira a Blumenau para palestrar sobre temas diversos em um evento aberto na Vila Germânica. E é dessa forma que o Santa te convida a entender essa visita: da mesma maneira que um fato possui inúmeros vieses, a presença desse personagem no Vale ganha múltiplas interpretações. Caso você seja um daqueles que não se convence pelo discurso desse rosto do Partido Social Cristão, clique aqui e embarque no texto sobre as nuances mais frágeis do deputado carioca. Se você está entre os que consideram Bolsonaro um “mito”, vá para o texto abaixo. Agora, se independente de lado, você pretende interpretar os acontecimentos e exercitar a consciência política, mergulhe em ambos. Boa leitura!

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A opção

Tido pela direita conservadora como nome preferido para 2018, deputado Jair Bolsonaro é ovacionado em evento na Vila Germânica

O desembarque de Jair Bolsonaro em Santa Catarina ilustrou uma coincidência temporal que mais serviu como condimento àquilo que se preparava em Blumenau. Enquanto a 1,5 mil quilômetros do Parque Vila Germânica, dois dias antes, aerólitos formados por proteína animal despedaçavam o pouco que restava de confiança na política, o deputado federal aproveitava os ventos favoráveis em território aliado para solidificar ainda mais o que para muitos já é maciço: a candidatura à presidência. O discurso inflamado e seguro, alimentado por salvas de palmas por ora recheadas de ovações mostrou o quanto um posicionamento alternativo ao cenário centrista que se desenha como pré-requisito para agradar destros e canhotos, pode, sim, se transformar em opção de governo. E Bolsonaro, inclinado a estar em partes diferentes do muro – e não em cima dele – sabe se aproveitar muito bem disso.

Ao colocar os pés no palco do Eisenbahn Biergarten, de frente para 3 mil pessoas, o parlamentar social-cristão provocou festa e euforia. E essa reação do público é fácil de explicar: no contexto pós-eleições de 2014, em que o Brasil ficou dividido entre o tucano Aécio Neves e a petista Dilma Rousseff, a fatia da direita conservadora ficou órfã de uma opção – Levy Fidélix, o homem do aerotrem, não conta, combinado? E é justamente na cidade em que 73,1% dos eleitores optaram pelo neto de Tancredo – o homem dos maus bocados recentes – que Bolsonaro se apoia para constituir uma base forte rumo ao Planalto em 2018, graças à rejeição quase crônica à esquerda. E pelo que foi visto em Blumenau sexta-feira à tarde, entre jovens e outros nem-tão-jovens-assim, há apoio para que isso ocorra.

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O discurso de Jair Bolsonaro é linear, mas nem por isso deixa de atrair os que o veem como um modo de contrapor os falatórios alimentícios recheados com coxinhas e mortadelas. Seja no tom que apoia a diminuição do Estado, a defesa das Forças Armadas, a contrariedade ao Estatuto do Desarmamento, a redução da maioridade penal ou então o ensino conservador nas escolas. Não importava qual fosse o assunto levantado na Vila Germânica, já que tudo era hors concours perante os presentes. Lá, inclusive, o deputado estava à vontade. Ao lado de seu pimpolho – e também parlamentar – Eduardo Bolsonaro e de Rogério ¿Peninha¿ Mendonça, falou no seu estilo informal, fazendo valer os brilhosos olhares de quem estava presente. Ao fim, uma longa salva de palmas de 34 segundos foi precedida por gritos de ¿mito¿.

O fato é que diante de um toma lá, dá cá, de explosões políticas, aversão às coisas que pendem a bombordo, e banalização do discurso de desprendimento aos políticos de estimação, Bolsonaro encontrou um nicho e nele preenche lacunas. Impulsionado pelo fato de não ter sido afetado por nenhum tipo de delação, não ver seu nome envolvido em escândalos de corrupção ou listas afins, trilha seu caminho político para o ano que está por vir com sonhos altos. Se dará certo, 2018 dirá.