Em seu primeiro encontro com Joe Biden desde que o americano chegou ao poder, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL) fez uma defesa da soberania da Amazônia, criticou a política do “fique em casa” para o combate à pandemia e disse que pretende terminar seu governo de modo democrático.

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Ele pediu por eleições limpas, confiáveis e auditáveis.

— Para que não sobre nenhuma dúvida depois. Tenho certeza que ele será realizado nesse espírito democrático. Cheguei pela democracia e tenho certeza de que quando deixar o governo também será de forma democrática — afirmou.

Os dois presidentes se reuniram pela primeira vez nesta quinta-feira (9), depois de um ano e meio de uma relação distante, em que não houve nem sequer um telefonema entre os líderes de dois dos maiores países das Américas. A reunião começou por volta de 16h (20h em Brasília), em um pavilhão de exposições em Los Angeles, onde se realiza a nona edição da Cúpula das Américas.

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Nas palavras iniciais, Biden fez elogios ao Brasil. Disse que o país tem uma democracia vibrante, com instituições eleitorais robustas, que tem feito um bom trabalho para proteger a Amazônia e que pretendia tratar de algumas questões de interesse comum com o brasileiro.

Bolsonaro chamou Biden de “prezado companheiro” ao concluir sua fala. 

— Em alguns momentos nos afastamos por questões ideológicas, mas com nossa chegada ao governo, nunca tivemos afinidades tão grandes — ressaltou, repetindo posição frequente durante o mandato de Trump.

No encontro, todos das comitivas dos dois países estavam de máscara, exceto os presidentes. Biden e Bolsonaro se sentaram a cerca de dois metros de distância. Eles se olharam pouco enquanto falavam. Bolsonaro discursou por mais tempo do que Biden e buscou justificar suas posições, como a postura adotada no conflito com a Rússia. Eles não responderam a perguntas. Em seguida, a conversa seguiu a portas fechadas.

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Os líderes foram acompanhados por outras autoridades. Do lado brasileiro, a lista incluía o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o chanceler Carlos França, os ministros da Justiça, da Saúde e do Meio Ambiente, o embaixador nos EUA, Nestor Forster, e o secretário de Assuntos Estratégicos, João Alfredo Júnior.

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Do lado americano, estiveram o secretário de Estado, Antony Blinken, o conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, o secretário-assistente para o Hemisfério Ocidental, Brian Nichols, o diretor de Departamento Ocidental do NSC (Conselho de Segurança Nacional), Juan González, a diretora de segurança de fronteiras do NSC, Katie Tobin, e a diretora do NSC para assuntos caribenhos, Nada Brown.

Antes do encontro, Bolsonaro disse a jornalistas que estava tranquilo e que pretendia usar a reunião para fortalecer a relação com o governo americano. Segundo ele, sua proximidade com o ex-presidente Donald Trump ficou para trás. 

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— Não vim aqui tratar desse assunto. Já é um passado. Vocês sabem que eu tive um excelente relacionamento com o presidente Trump. O presidente agora é Joe Biden, é com ele que eu converso, ele é o presidente e não se discute mais esse assunto — afirmou Bolsonaro, na saída do hotel.

— Precisamos aprofundar nosso relacionamento, sempre tive enorme consideração pelo povo americano, temos valores em comum, como democracia e liberdade, e será um bom encontro com o presidente Biden — disse.

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Bolsonaro defendeu Trump, derrotado por Biden nas eleições de 2020. Na época, o líder brasileiro declarou apoio ao republicano e, depois da votação, chegou a colocar em dúvida a vitória de Biden, ecoando o discurso fantasioso de que o pleito teria sido fraudado -ele fez isso na própria terça (7), antes de viajar aos EUA. 

— Quem diz [sobre fraude] é o povo americano. Eu não vou entrar em detalhe na soberania de um outro país. Agora, o Trump estava muito bem, e muita coisa chegou para a gente que a gente fica com o pé atrás. A gente não quer que aconteça isso no Brasil — afirmou, em entrevista ao SBT.

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Nesta quinta, questionado pelos jornalistas em frente ao hotel sobre a expectativa de obter novos recursos para a Amazônia, Bolsonaro ponderou que a questão é se as promessas serão de fato cumpridas e fez críticas a entidades ambientais. 

— Tem que ficar preocupado com dinheiro usado por ONGs. Tínhamos no Brasil ONGs que pegavam dinheiro do governo e davam para o MST. Cortei isso aí — disse, sem apresentar evidências.

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Biden aceitou se reunir com Bolsonaro como forma de convencê-lo a viajar para a Cúpula das Américas, evento que corria risco de ficar esvaziado. Oito chefes de Estado do continente decidiram boicotar o principal encontro de líderes do continente, em resposta à decisão dos EUA de não convidar os regimes de Cuba, Nicarágua e Venezuela, ditaduras tidas como párias por Washington.

Na abertura oficial do evento, nesta quarta, Biden ressaltou a importância de defender a democracia e os direitos humanos. 

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— Em um momento em que a democracia está sob ataque no mundo todo, vamos nos unir de novo e renovar nossa convicção de que a democracia não é só o fator definidor da história americana, é um ingrediente essencial do futuro das Américas — discursou.

Bolsonaro desembarcou em Los Angeles na manhã desta quinta (9). Ao chegar ao hotel, cumprimentou um pequeno grupo de apoiadoras, chamado Vovós Poderosas de Las Vegas, que viajaram para conhecê-lo. Horas mais tarde, conversou com elas por cerca de meia hora, no saguão do hotel.

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— Rezamos todos os dias para que o presidente possa dar conta de seus desafios. Torcemos muito por ele — disse Suzana Fortes, 66, uma das integrantes do grupo e há 35 anos nos EUA.

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Na noite desta quinta, Biden oferecerá um jantar aos líderes estrangeiros que vieram para a cúpula. Bolsonaro deve discursar em uma das sessões plenárias na sexta (10). O presidente brasileiro fica em Los Angeles até sexta. Em seguida, viaja para Orlando, onde inaugurará um vice-consulado do Brasil na cidade e terá encontros com apoiadores.

*Reportagem de Rafael Balago