A comunidade quilombola Beco do Caminho Curto, localizada no Distrito de Pirabeiraba, em Joinville, teria sido alvo de bolsonaristas no final da manhã desta terça-feira (1°). De acordo com relato de moradores, as famílias foram intimidadas após montarem uma barreira na Estrada Fazenda, uma das passagens que dá acesso à BR-101. 

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​A líder comunitária da comunidade, cujo nome foi preservado pela reportagem, conta que mulheres foram para a rua manifestar-se contra os bloqueios na rodovia, que têm impedido crianças que vivem na localidade de ir à escola, além de alguns trabalhadores que não têm conseguido chegar às empresas. 

O ato movido pela comunidade inicou por volta do meio-dia e durou menos de 10 minutos, diz a líder. Ela explica que apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) têm usado a via em frente à comunidade para levar pneus, terra e outros itens para trancar a BR-101. Segundo ela, quando viram a manifestação dos quilombolas, os bolsonaristas teriam ido para cima e tentado invadir a comunidade, além de proferirem xingamentos:

— Nós fomos pra rua, numa boa. Mas, de repente, veio um bando de motoqueiros e carros pra cima, não respeitaram criança, nem nada. Disseram que a gente era uma invasão, nos chamaram de macaco e ameaçaram que se a gente continuasse na rua, iriam voltar e botar fogo em tudo. 

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Para tentar dispersar os bolsonaristas, as lideranças comunitárias atearam fogo em pneus. Imagens gravadas do momento da confusão mostram a aglomeração. Em um vídeo, uma voz masculina narra a situação dizendo que “o pau fechou, é isso aí mesmo. Vamos botar ordem. MST não pode se criar aqui em Joinville”. 

Segundo a líder quilombola, no entanto, todos que vivem no local são quilombolas e não fazem parte do Movimento Sem Terra. As famílias, inclusive, receberam em 2019 a certificação de comunidade remanescente quilombola da Fundação Palmares, o que garantiu, entre outros direitos, a demarcação e a posse das terras em que vivem. 

Ela ainda diz que a Polícia Militar foi acionada. No entanto, como os bolsonaristas já haviam se dispersado, a guarnição apenas passou em frente ao local. 

O tenente-coronel Celso Mlanarczyki Júnior, comandante do 8º Batalhão de Polícia Militar, confirmou que o conflito foi gerado porque moradores da comunidade se manifestaram contra os bloqueios da rodovia. Segundo ele, não houve problema no ato promovido pelos quilombolas, já que eles têm direito de manifestar-se, no entanto, o problema foi gerado porque eles entraram “em rota de colisão” com outros manifestantes, que estão em lados opostos. 

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— Isso gerou um conflito verbal, não chegou a vias de fato, somente ameaças. Com a chegada da Policia Militar, a dispersão já foi feita, não houve qualquer tipo de condução, nem necessidade de atendimento médico de ninguém, porque ninguém chegou a brigar. — garante o comandante. 

Bloqueios seguem em rodovias estaduais e federais

Mesmo após decisões judiciais pedindo liberação imediata das rodovias, a BR-101, em Joinville, segue interditada por manifestantes bolsonaristas que não aceitaram a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), eleito democraticamente no último domingo (30).

Na cidade, os bloqueios e atos antidemocráticos afetam serviços públicos e privados. Unidades de saúde e educação tiveram de remanejar os atendimentos ou suspendê-los.

Em todo Brasil, conforme a última atualização da Polícia Rodoviária Federal (PRF), ainda há 75 pontos de interdição em trechos federais e estaduais. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, determinou, já na noite de segunda-feira (31), que a Polícia Rodoviária Federal e as polícias militares dos estados tomem ações imediatas para liberar vias bloqueadas.​

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