O alinhamento com o presidente Jair Bolsonaro, que dois anos atrás foi decisivo para a eleição de várias lideranças em Santa Catarina e no país, teve impacto muito menor na escolha dos eleitores para as prefeituras catarinenses nas Eleições 2020. Das cinco principais cidades do Estado, apenas em Chapecó um candidato com discurso abertamente favorável ao presidente venceu a disputa pela prefeitura.
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Em 2018, o discurso alinhado com o então candidato à presidência Jair Bolsonaro (sem partido), à época no PSL, ajudou a eleger ao menos seis deputados estaduais e quatro federais, todos então filiados à mesma legenda e com as mesmas pautas conservadoras do capitão reformado. O Estado ainda elegeu como governador Carlos Moisés, também do PSL, e deu a Bolsonaro 75% dos votos no segundo turno.
Nas eleições de 2020, no entanto, a proximidade ideológica com o presidente não foi sinônimo de sucesso nas urnas para os candidatos a prefeito em cidades como Blumenau, Florianópolis, Criciúma, Joinville, Lages, Itajaí, Balneário Camboriú e Jaraguá do Sul.
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Para o professor e doutor em Sociologia Política pela UFSC, Flávio Ramos, é difícil contabilizar exatamente os resultados pela falta de uma sigla partidária que represente Bolsonaro e seus aliados, mas a eleição mostrou que o presidente fez uma aposta “inusitada e de alto risco” ao governar sem uma estrutura partidária:
— Neste processo eleitoral [Bolsonaro] fez escolhas aleatórias que, em grande parte, fracassaram. Divergências internas esfacelaram o PSL. Caso deseje se reeleger, Bolsonaro precisará mudar sua forma de fazer política. Necessitará de estratégias mais consistentes do que discursos inflamados. A sociedade brasileira deseja resultados. Acredito que isto tenha ficado bem nítido no domingo passado. Bom ressaltar também que o chamado “centrão” tem interesses fisiológicos de acordo com cada momento eleitoral. Confiar nesse grupo é outra aventura.
Os apoios do presidente
Bolsonaro chegou a afirmar que não se envolveria nas eleições municipais de 2020, mas manifestou apoio a candidatos como Celso Russomano (Republicanos) em São Paulo, que terminou em quarto e ficou fora do segundo turno, e Marcelo Crivella (Republicanos), no Rio de Janeiro, que segue na disputa contra Eduardo Paes (DEM).
Na véspera da eleição, Bolsonaro fez uma publicação em rede social pedindo voto para alguns candidatos a prefeito e vereador pelo país – a mensagem foi apagada neste domingo (15). Dos sete candidatos a prefeito recomendados na postagem de Bolsonaro, cinco não passaram nem para o segundo turno. Apenas Marcelo Crivella, no Rio de Janeiro (RJ), e Capitão Wagner (Pros), em Fortaleza (CE), ainda poderão chegar às prefeituras se vencerem nas urnas daqui a duas semanas. Entre os vereadores, apenas dois dos cinco candidatos indicados por Bolsonaro se elegeram.
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Nas semanas anteriores às eleições, Bolsonaro também usou as tradicionais lives nas redes sociais para fazer o que chamou de “horário eleitoral do JB”. Nas transmissões, citou 45 candidatos a vereador pelo país, sendo que 33 deles não se elegeram.
Santa Catarina não teve nenhum desses indicados oficialmente pelo presidente. Mesmo assim, nas principais cidades muitos candidatos buscaram manter o discurso alinhado com as bandeiras de Bolsonaro. Confira abaixo o desempenho desses concorrentes na disputa pelas principais prefeituras de SC:
Florianópolis
Em Florianópolis, Alexander Brasil (PRTB), do mesmo partido do vice-presidente general Hamilton Mourão, vestiu o terno amarelo e foi quem mais construiu a campanha à imagem e semelhança de Bolsonaro. Nas redes sociais, o candidato chegou até a usar a foto de Bolsonaro no material de campanha, além do slogan “#FechadoComBolsonaro”. Alexander terminou a eleição na Capital em quinto lugar, com 6.982 votos – 2,96% do total de votos válidos.
Blumenau
Ricardo Alba (PSL) era o nome mais próximo do bolsonarismo na disputa pela prefeitura em Blumenau. Ele se apoiou menos na imagem do presidente nesta disputa do que nas últimas duas eleições, quando se elegeu vereador e deputado estadual, respectivamente. Ainda assim, era o concorrente que mais representava o eleitorado mais fiel ao presidente. Alba terminou em quarto lugar, com 17.487 votos – 10,90% do total. Na onda bolsonarista de 2018, Alba foi o deputado estadual mais votado de SC, com 62 mil votos.
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Além de Alba, Ivan Naatz (PL) também tentou defender bandeiras comuns a Bolsonaro, de olho no eleitorado da cidade em que o atual presidente teve 84% dos votos no segundo turno de 2018. Naatz ficou em sexto lugar, com 7.227 votos, 4,51% do total. Jairo Santos (PRTB), também do partido de Mourão, foi outro que reverberou propostas mais próximas do que defende Bolsonaro. Foi o 10º colocado, com 0,75% dos votos.
O prefeito Mario Hildebrandt (Podemos), que ficou em primeiro lugar e tentará se eleger para um novo mandato no segundo turno, chegou a ensaiar no início deste ano uma ida ao Aliança pelo Brasil, partido que Bolsonaro tenta articular, mas acabou escolhendo se filiar ao Podemos. Desde então, mantém um distanciamento maior em relação às falas e bandeiras bolsonaristas, inclusive na gestão da pandemia. Blumenau, por exemplo, não adotou protocolos com cloroquina e ivermectina, diferente de Itajaí.
Joinville
Eduardo Zimmermann (PTC) e Comandante Nelson Coelho (Patriota) foram os dois candidatos mais próximos do bolsonarismo na disputa pela prefeitura da maior cidade do Estado. Eduardo, que ocupou um cargo ligado ao Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, usou a imagem e frases do presidente nos materiais de divulgação e terminou em nono lugar, com 2,59% dos votos.
O comandante Nelson Coelho, militar, também compartilha das mesmas ideologias e discursos de Bolsonaro, como a defesa da posse de arma, difundidos por ele ao longo da campanha. Comandante Coelho foi o 10º colocado, com 1,66% dos votos.
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Darci de Matos (PSD), que passou para o segundo turno, é deputado federal de partido que integra o centrão, grupo próximo a Bolsonaro no Congresso, mas focou mais no trânsito que dispõe no governo federal do que na figura do presidente na campanha do primeiro turno.
Criciúma
Outra cidade catarinense com forte adesão ao bolsonarismo, Criciúma tinha na advogada Júlia Zanatta (PL) a candidatura que mais representava os eleitores de Bolsonaro. Próxima da família do presidente, Zanatta ganhou apoio declarado de Bolsonaro em um vídeo utilizado na campanha. Ela concorreu pelo PL, sigla que abrigou alguns bolsonaristas que pretendem ir para o Aliança pelo Brasil quando o partido idealizado pelo presidente for oficialmente criado. Mesmo com o apoio, Zanatta terminou em terceiro lugar, com 7,03% dos votos.
Chapecó
Chapecó foi um dos poucos exemplos onde a discussão sobre quem tinha o apoio do presidente Bolsonaro foi um fator determinante na campanha, inclusive com trocas de farpas entre os concorrentes.
Leonardo Granzotto (Patriota) era o candidato apoiado pelo atual prefeito Luciano Buligon e pela deputada federal Caroline de Toni (PSL), uma das mais próximas a Bolsonaro em Brasília, e se apresentou durante a campanha como o nome bolsonarista em Chapecó. Mas o adversário João Rodrigues (PSD) durante a campanha também fez um discurso favorável a Bolsonaro, dizendo ser amigo do presidente, publicando fotos ao lado dele e recebendo apoio de figuras como o empresário Luciano Hang. A situação causou até um impasse durante visita de Bolsonaro a Chapecó, em que os dois candidatos disputaram uma foto com o presidente.
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João Rodrigues foi eleito neste domingo com 47,66% dos votos, e Granzotto ficou em quarto lugar, com 7,61% dos votos.