Luis Fernando do Rego nasceu quando a Escola Bolshoi entrava no “ano dois” no Brasil. Estava bem distante, no Rio de Janeiro, e ninguém do seu convívio poderia imaginar que o destino de Luís passava pela escola de Joinville. Como menino carioca que cresceu no Morro do Alemão, ele jogava futebol e surfava. Sapatilhas não faziam parte do contexto até o dia em que a irmã mais nova começou a fazer aulas de dança no mesmo prédio onde ele tinha aulas de surf..
Continua depois da publicidade
— O Luís ficava escondido atrás de uma pilastra, assistindo as aulas e repetindo os movimentos, levantando a perna. Ele tinha 11 para 12 anos anos. Eu fui até ele e perguntei se queria participar da aula, mas ele respondeu “não tia, eu tenho vergonha” — recorda Elen Serra, criadora da ONG Vidançar.
Luís criou coragem e aceitou o convite. Dentro da sala de aula, era um destaque. Nas ruas, um ser estranho que havia deixado a bola e o futebol e ia “virar menina” sobre sapatilhas. Precisou mudar de escola por causa do bullying e, mesmo quando conquistou um espaço em outra referência nacional, a escola do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, o preconceito o perseguiu.
— Diziam que eu não podia ser bailarino porque era favelado, tinha pé ruim e por ser negro — conta ele.
Enquanto crescia, Luís driblava as ofertas do dia a dia da comunidade. Bebidas, drogas, trabalhos que prometiam dinheiro fácil. Mas ele buscava planos muito maiores: aos 15 anos, a Escola Bolshoi era um sonho que parecia impossível demais para um menino que não poderia contar com a mãe ou o pai para financiar uma mudança para outro estado e que poderia passar o resto da vida dentro do complexo do Alemão. Foi quando surgiu uma “outra mãe”, Aline Barbosa, que o incentivou a fazer as audições e ofereceu a própria casa para que ele vivesse nos anos de formação do Bolshoi.
Continua depois da publicidade
Em dezembro do ano passado, prestes a completar 19 anos, Luís recebeu o diploma de bailarino do Bolshoi Brasil. No mesmo mês, foi contratado pela companhia semi profissional da instituição e, neste fim de semana, interpreta um dos protagonistas do balé “O Quebra-nozes” no aniversário da escola, o Rei dos Ratos.
— Onde eu morava, eu via várias pessoas que entraram em um caminho do qual não conseguiram sair e o que restou só foi a morte. Então, eu estava determinado a mudar a história da minha família, mudar a minha história e o meu destino — conta o jovem.