Aos nove anos, Luzemberg Santana chegou em casa e falou:

— Mainha, eu vou estudar em Joinville.

— Tu vai estudar em Joinville aonde, meu filho? — questionou a mãe, Socorro Medeiros.

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— A companhia tá fazendo uma avaliação e quem for bom de corpo vai estudar lá por oito anos.

— Vai, não, menino. Tu não tem jeito nem pra dançar, nem dançar tu sabe.

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Luzemberg não sabia muito bem o que era Bolshoi. A mãe dele, Socorro Medeiros, também nunca tinha ouvido falar. Os jornais de João Pessoa ressaltavam: 64 mil crianças estavam participando dos testes para conseguir uma vaga na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, e Socorro lia e tinha ainda mais certeza: era só sonho de menino, e o filho não partiria para uma cidade a 3.175 quilômetros de distância antes mesmo de entrar na adolescência.

O menino passou, foi embora para Joinville e nunca mais voltou a viver na mesma casa que a mãe e a irmã. Por oito anos, a criança que já se via como o “homem da família” cresceu e estudou balé com um foco: iria virar adulto, ganhar dinheiro e comprar uma casa para a mãe. Formado, foi contratado por companhias do Canadá e, atualmente, é bailarino do Houston Ballet, nos Estados Unidos.

— Eu sempre morei com minha mãe e minha irmã num mesmo quarto. Minha motivação maior era essa, por mais que o pessoal falasse “mas balé não dá dinheiro” — recorda Luzemberg.

A relação de mãe e filho foi mantida em telefonemas e cartas, e na preocupação de Socorro quando deitava a cabeça no travesseiro antes de dormir e pensava se o menino tinha comido, se sentia frio e se estava mesmo feliz. Ela se amparava em uma frase que repetia ao filho e guardava a dor em troca do orgulho ao assistir espetáculos e vê-lo dando entrevistas para jornais e televisões da Paraíba.

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— Eu sempre falei para ele e continuarei dizendo: sempre sufocarei a minha saudade pela sua felicidade — conta ela.

Quando deixou João Pessoa, Luzemberg dividia a cama de casal com a mãe e a irmã. Depois de 11 anos do dia em que saiu de casa, provou que a arte pode ser o caminho para o sucesso: comprou um apartamento para a mãe ter uma casa própria. É para lá que ele retorna quando as férias chegam e as saudades não precisam ser contidas: aconchegados na mesma cama, mãe e filho podem recordar a infância sem as preocupações do passado.