Quando Bruna Gaglianone e Erick Swolkin deram os primeiros passos no balé, entre o fim dos anos 1990 e início dos anos 2000, a chance de existir um bailarino brasileiro no Balé Bolshoi de Moscou era praticamente inexistente. Não havia estrangeiros na companhia russa que, em mais de 200 anos de história, nunca havia aberto audição para pessoas de fora do país.
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Há quase uma década, eles fazem história ao quebrarem a tradição e comporem o seleto grupo de cinco bailarinos de fora do país que assinaram o contrato com o Teatro Bolshoi. Um deles é dos Estados Unidos; os outros são brasileiros e, destes quatro, três passaram pela Escola Bolshoi. A baiana Mariana Gomes foi a pioneira: chegou à Rússia em 2004, como a primeira estrangeira da história a ser contratada.
Naquele mesmo ano, Bruna, ainda com apenas 13 anos, viu o palco do Bolshoi de Moscou pela primeira vez. Ela era aluna da segunda série e não tinha muita certeza se o balé era o que queria para o futuro quando um prêmio internacional, oferecido a ela e a mais quatro meninas do mundo inteiro, a levou às terras geladas que um dia ela chamaria de casa. Além de ganhar o direito a uma visita ao famoso teatro da Rússia, ela conquistou uma bolsa de estudos para a instituição de Joinville, que na época ainda não oferecia gratuidade a todos os alunos.
Erick, que nasceu em São Paulo mas mudou para Joinville ainda na infância, descobriu o balé quando a Escola Bolshoi chegou em Joinville. Ele era aluno de uma escola no bairro Rio Bonito, em Pirabeiraba, e ficou empolgado com a perspectiva de integrar uma das primeiras turmas de alunos. Só no meio da formação decidiu que aquela era mais do que uma atividade extracurricular da adolescência, quando assistiu em vídeo a uma apresentação de Vladimir Vasiliev, patrono fundador do Bolshoi Brasil, fazendo o papel principal de "Spartacus".

Enquanto dividiam os corredores das mesmas escolas — do Bolshoi e do ensino regular —, Bruna e Erick destacavam-se, mas não eram um casal nem mesmo no palco. Foi em 2009, quando ela estava no último ano do Bolshoi e ele era um recém-formado na Cia. Jovem Bolshoi Brasil, que o romance começou. Era também uma parceria que, em 2011, os levou a participarem juntos da primeira audição para estrangeiros do Bolshoi — e a serem selecionados.
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— Eu acho que, se tivesse passado sozinha, eu não viria. O apoio emocional é, até hoje, muito importante — afirma Bruna.
A dedicação ao Bolshoi é total. A rotina começa às 11 horas de terça-feira, com aulas de aquecimento e ensaios, que podem ir até as 21h30 nas noites sem espetáculo, ou até as 23 horas quando há apresentações — que geralmente ocorrem seis noites por semana. O único dia de folga é segunda-feira; e festas e barzinhos não fazem parte dos dias de juventude na maior parte do ano. Mesmo assim, o casal garante: ali é onde mora a felicidade.
— Não existe vitória sem sacrifício. Abrimos mão da família e dos amigos para estar aqui. Então, agora, a ideia é desfrutar ao máximo para ter histórias para contar no futuro — analisa Erick.
— E um dia voltar para a escola e passar todo esse conhecimento — completa Bruna.
Em 15 de março, eles serão os protagonistas do espetáculo "Don Quixote". Ele será apresentado no Centreventos Cau Hansen em comemoração aos 20 anos da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil.
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A história de Erick e Bruna também poderá ser vista no programa especial A Dança da Vida, que irá ao ar na NSC TV neste sábado (14). Saiba mais sobre a programação.