Primeiro réu do Caso Bernardo convocado a depor à Justiça em Três Passos nesta quarta-feira, o médico Leandro Boldrini – denunciado por homicídio triplamente qualificado na morte do próprio filho – negou as acusações e disse que não será vencido. Em mais de três horas de fala, ele respondeu a todos os questionamentos feitos e afirmou que está com a vida destruída. Segundo ele, a culpada é a madrasta Graciele Ugulini, que teria confessado o assassinato pessoalmente, já na cadeia.

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– Perguntei a ela: “Você tem participação?”. E ela respondeu: “Tenho”. Eu fiquei indignado. A polícia teve que me segurar quando fiquei sabendo. Ela me traiu – relatou.

Veja como foi odepoimento dos quatro réus

Assista à chegada de Boldrini ao Fórum de Três Passos:

O médico disse que a Polícia Civil e o Ministério Público (MP) o denunciaram baseados na “intuição” e que ele foi colocado dentro da história porque “imaginaram” a sua participação. Boldrini falou que ficou sabendo da morte do menino – ocorrida em 4 de abril de 2014 – apenas quando foi preso, no dia 14, e que a madrasta confirmou envolvimento no homicídio.

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– Perdi meu filho. Cadê o Bernardo? Nem o luto eu pude construir, porque não vi o corpo. Minha vida está destruída. Como estou me sentindo? Eu era uma pessoa respeitada, com dignidade, de família. Estou nocauteado na lona, e o juiz conta os momentos para levantar os braços dos vencedores. Não vão conseguir – disse Boldrini.

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Nos primeiros questionamentos, do magistrado Marcos Luís Agostini, Boldrini negou conhecer os irmãos Evandro e Edelvânia Wirganovicz – também denunciados -, garantiu que tinha boa relação com o filho e ressaltou que o menino tinha “grau de tolerância zero”, por isso precisava de acompanhamento psicológico e remédios controlados. De acordo com o réu, foram gravados vídeos – revelados ao longo do processo – com esse comportamento supostamente agressivo de Bernardo para ajudá-lo:

– Ele jogava celular no chão, controle da casa. Foram feitos registros para esse momento complicado, até para mostrar para a própria polícia. Ele precisava de ajuda.

“Nunca foi agredido, física e moralmente”

No decorrer do interrogatório, Leandro Boldrini afirmou, algumas vezes, que a relação entre Bernardo e a madrasta se deteriorou em meados de 2013, quando nasceu a filha do casal, Maria Valentina. Ali, assegura ele, “começaram a se odiar”. Ele se disse um apaziguador dos conflitos e rechaçou as acusações de que o menino era agredido física e moralmente:

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– Tínhamos uma relação boa, o Bernardo me obedecia. Existia troca de afeto. Nunca fiz isso (agressões). O que havia eram contenções.

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Perguntado por que ele não impedia a madrasta de ameaçar o garoto, como no vídeo em que ela fala que ele teria o mesmo destino da mãe – morta em 2010 -, Boldrini disse que achava que nada de grave aconteceria e pediu que os fatos fossem analisados dentro de um contexto:

– Eu tinha certeza de que ela (Graciele) era incapaz de fazer isso.

Boldrini também explicou como funcionava o controle de medicamentos em sua clínica e informou que somente a secretária Andressa Wagner tinha acesso às requisições para remédios como o midazolam, sedativo encontrado no corpo do garoto na autópsia. Ele viu a assinatura da receita da droga, atribuída a ele e anexada ao processo, e negou ser o autor.

“O filho era meu, era minha responsabilidade”

Boldrini reconheceu que durante um tempo teve dificuldades de afeto com o filho por causa da carga excessiva de trabalho e que, após ser chamado para uma audiência no Fórum de Três Passos para melhorar a situação familiar, mudou o comportamento. Disse que levava o filho a eventos,que se aproximou e que nunca pensou em passar a guarda dele para outra família:

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– Era meu único filho homem, o filho era meu, era minha responsabilidade.

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Ele também salientou que o garoto jamais foi impedido de entrar em casa e que houve um pacto para que ele respeitasse “coisas salutares” impostas pela madrasta:

– Ele nunca foi impedido de vir para casa, tinha o controle e a senha do alarme monitorado. Quem diz isso é mentiroso. (…) O pacto de convivência entre eles era assim: o Bernardo era obrigado a obedecer coisas salutares.

O dia da morte e as buscas

Por fim, Boldrini explicou sua versão sobre o dia 4 de abril, em que Bernardo foi assassinado. Ele disse que trabalhou na clínica até o final da tarde, que o garoto tinha atividades programadas e que não sabia que ele ia com a madrasta a Frederico Westphalen, onde morava Edelvânia.

Ao chegar em casa, ele viu a televisão e o aquário – usados por Graciele como isca para levar o menino ao destino fatal – e ainda ficou satisfeito que Bernardo tivesse ido junto com ela, pois achava que a relação entre os dois estava melhorando.

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Entenda detalhes da audiência do Caso Bernardo

No final da noite, ele retornou novamente para casa, após realizar cirurgia em um paciente, e ouviu que Bernardo havia ido para a casa de um colega. Ele só começou a se preocupar, de acordo com o depoimento, na segunda-feira, por volta das 19h. Disse ter “exaurido todas as possibilidades via telefone” e, então, fez boletim de ocorrência pelo sumiço. Nesse meio-tempo, ele garantiu que não ouviu falar de Edelvânia e que Graciele não disse nada. No dia 14, o corpo foi achado em uma vala em Frederico Westphalen, Edelvânia confessou o homicídio e Boldrini foi preso.

Veja fotos da audiência: