Voar não é para todo mundo: tem muita gente que aperta o braço da poltrona assim que o avião começa a correr na pista, pronto para decolar. Apesar disso, os voos são mais do que comuns no mundo todo. Uma das empresas responsável por grande parte deles é a Boeing, fabricante de aviões comerciais. Mas um modelo chamou a atenção: o Boeing 737, que viu sua popularidade cair e foi até proibido de voar no mundo todo, após dois acidentes que causaram a morte de 346 passageiros.

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Depois de 20 meses de “suspensão”, o Boeing 737, hoje chamado de Max, teve permissão para ganhar os céus novamente. No Brasil. a Gol foi a primeira companhia aérea a retomar voos com o Boeing 737 Max, em dezembro de 2020.

Confira, abaixo, a história e curiosidades sobre o Boeing 737.

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A história do Boeing 737

Mais prático, mais espaçoso

Embora tenha caído em desgraça nos últimos anos, o Boeing 737 é um dos aviões comerciais mais lucrativos da história. O modelo foi lançado em janeiro de 1967 – três meses depois, ele já estava no ar.

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A Lufthansa, companhia aérea alemã, foi uma das primeiras a encomendar o modelo – e foi também a primeira companhia europeia a lançar um novo Boeing. Nos Estados Unidos, a United Airlines recebeu um modelo que era 100 metros mais longo, para acomodar ainda mais assentos.

Com o bimotor 737, a Boeing conseguiu lançar um modelo de avião comercial mais rápido e mais econômico, em comparação com os antecessores 727, trimotor, e 707, quadrimotor.

O diferencial do 737 era a posição dos dois motores: ao invés de ficarem na parte de trás – como os concorrentes BAC-111 e Douglas DC-9, cuja parte traseira da cabine era estreita e barulhenta -, os motores do 737 ficavam embaixo das asas.

O posicionamento dos motores facilitava o abastecimento e a manutenção e, ainda, fazia com que a aeronave fosse baixa: era possível colocar as malas no bagageiro usando apenas um caminhão.

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O modelo 737 também tinha um espaço interno melhor aproveitado: eram seis assentos por fileira, enquanto a grande maioria dos aviões tinham apenas cinco.

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Menos tripulantes, mais economia

Na década de 1960, era comum que, além dos tripulantes, as aeronaves tivessem um engenheiro de voo. O Boeing 737 inovou e foi o primeiro modelo que dispensou essa categoria: era possível pilotar o avião com apenas dois tripulantes.

Com mais tecnologia e equipamentos automáticos, dois pilotos conseguiam manter o avião no ar. Isso significava menos um salário que deveria ser pago pelas companhias aéreas.

Por pressão dos sindicatos, que lutaram para que empregos fossem mantidos, os engenheiros de voo continuaram trabalhando até a década de 1980. Por essa razão, o 737 teve um “boom” comercial menor do que poderia ter atingido. 

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As gerações do Boeing 737

Foi só em 1987 que o Boeing 737 se tornou o avião mais encomendado da história comercial. O sucesso foi resultado da primeira grande reformulação do modelo: em 1984, a Boeing lançou o 737-300. Mais comprida e mais larga, a aeronave acomodava 150 passageiros e tinha um motor mais moderno.

Foi um desafio e tanto para os engenheiros da Boeing: o novo motor era maior e não cabia embaixo das asas. A solução foi diminuir a turbina e realocar os componentes do motor nas laterais, tirando-os da parte inferior da carcaça. 

Isso mostrou à Boeing, que planejava lançar um modelo totalmente novo, que valia a pena aprimorar as aeronaves já existentes.

Em 1993, o 737 seguia em alta: mais de 3.000 aviões já haviam sido encomendados. Naquele ano, a Boeing anunciou outra geração do 737. Ela ganhou um nome bem literal: The Next Generation (A Próxima Geração, em português).

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Os aviões dessa linha apresentaram melhorias nas asas, na capacidade de combustível, no motor, na cabine e no interior e teve seu peso de decolagem aumentado.

As aeronaves passaram a acomodar mais passageiros. O modelo mais longo, o 737-900ER, acomodava até 215 pessoas.

Até 2012, a Boeing ultrapassou 10.000 encomendas de aviões 737.

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O 737 Max

A quarta geração do Boeing 737 chegou em 2011. A linha Max foi lançada porque a Boeing precisava de um modelo que fizesse frente à concorrente Airbus, que tinha aviões com motores mais potentes e econômicos.

Saiba tudo sobre o avião Boeing 737
A Gol é a primeira companhia aérea brasileira a retomar voos com o 737 Max (Foto: Divulgação)

O problema é que isso colocava em xeque uma das principais características do 737: como a aeronave é baixa, os novos motores não cabiam sob as asas (de novo!). Os engenheiros precisaram alongar o trem de pouso dianteiro, para que os motores coubessem mais à frente e mais alto nas asas. Só que isso afetou a aerodinâmica do avião, fazendo-o inclinar perigosamente.

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A solução foi criar um sistema de segurança automático chamado MCAS (Maneuvering Characteristics Augmentation System, ou Sistema de Aumento de Características de Manobra), que equilibraria imediatamente o avião, apontando seu nariz para baixo, caso necessário.

Mas aí veio o grande erro da Boeing: acreditando que raramente o MCAS precisasse ser utilizado, a empresa manteve o sistema de segurança quase em segredo. Nem os pilotos já certificados em modelos anteriores do 737 ficaram sabendo da novidade.

O 737 Max logo caiu nas graças das companhias aéreas. Seus quatro modelos podiam acomodar até 204 passageiros e tinham várias melhorias, como um maior alcance e winglets, as extensões de ponta de asa, voltadas para cima e para baixo como padrão, para aumentar ainda mais a eficiência de combustível. 

A expectativa da Boeing é que mais de 5.000 aeronaves Max fossem encomendadas – ao todo, o modelo 737 ultrapassaria as 16 mil encomendas. Os acidentes, porém, fizeram com que as projeções não se concretizassem.

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Os acidentes com aviões 737

Há registros de acidentes com aviões Boeing 737 desde a década de 1970. Nenhum modelo ficou livre de incidentes: há registros de desastres com o Boeing 737-100, o primeiro da linhagem, até o Max.

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Confira, abaixo, os cinco principais acidentes com o 737.

Em 2006, no Brasil

A companhia aérea Gol tinha seu voo 1907 no modelo Boeing 737-800. O avião tinha decolado de Manaus com destino ao Rio de Janeiro, além de uma escala programada em Brasília.

Mas o avião sequer chegou na escala. Quando estava a 37 mil pés (cerca de 11 mil metros de altura) e sobreavoava a cidade de Matupá, no Mato Grosso, o Boeing colidiu com outra aeronave, uma Legacy 600, da Embraer.

Destroços do Boeing 737 após acidente no Brasil
Destroços do Boeing 737 após acidente no Brasil (Foto: Folhapress)

Cerca de metade da asa esquerda do Boeing foi cortada. Rapidamente, a aeronave caiu em uma área de floresta tropical. Todos os 154 passageiros, além da tripulação, morreram.

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A aeronave da Legacy não caiu: apesar de ter o winglet esquerdo danificado, a tripulação conseguiu pousar o avião a cerca de 160 quilômetros da colisão.

Em 2010, na Índia

Um 737-800 teve um acidente grave no Aeroporto Internacional de Mangalore, na Índia. Na ocasião, 158 pessoas morreram – apenas oito sobreviveram.

O acidente ocorreu no momento do pouso: o avião saiu da pista e pegou fogo. Naquele momento, por volta das 6h30, chovia muito e a visibilidade era baixa.

Esse foi o primeiro acidente fatal envolvendo a companhia aérea India Express.

Autoridades culparam os pilotos pelo acidente: embora conhecessem bem o aeroporto, que fica em uma região montanhosa, eles fizeram a aproximação a 2.000 pés, cerca de 600 metros a mais do que deveria sobre a pista. Por isso, o avião não teria tido distância suficiente para o pouso.

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Em 2018, na Indonésia

Esse foi o primeiro acidente que causaria a suspensão do 737 Max. 

Em outubro, o Boeing 737 da companhia Lion Air caiu minutos após a decolagem do aeroporto de Jacarta, deixando 198 mortos.

A aeronave já tinha apresentado problemas em ocasiões anteriores. O sistema de navegação de dados de ar da aeronave (ADIRU) estaria indicou dados inválidos e os pilotos haviam se queixado de problemas nas informações sobre altitude e velocidade. O sistema foi reiniciado duas vezes. A aeronave foi liberada para voo.

Mesmo assim, durante duas viagens, o avião apresentou uma pane que indicava instabilidade na velocidade. O sistema de segurança MCAS, que corrige a inclinação do avião, era acionado sem necessidade.

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A tripulação decolou de Jacarta sem ser informada sobre essas panes anteriores. O piloto entrou em contato com a torre de comando, informando alertas no painel e pedindo informações sobre a velocidade e altitude corretas.

Ele não desabilitou o sistema MCAS, que “empurrou” o nariz da aeronave para baixo por mais de 20 vezes, sem necessidade, segundo os registros da caixa preta. Isso provocou uma perda de sustentação crítica, levando ao acidente fatal.

Em 2019, na Etiópia

Enquanto o acidente da Lion Air era investigado, aconteceu o segundo acidente fatal envolvendo o Boeing 737 Max, em março de 2019. Desta vez, na Etiópia e com circunstâncias bem parecidas.

O voo 302 da Ethiopian Airlines caiu seis minutos após a decolagem, matando todas as 157 pessoas a bordo.

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As investigações indicaram que houve novamente uma falha nos indicadores de velocidade e altura do avião.

Dennis Muilenburg, CEO da Boeing, reconheceu que a empresa teve culpa pelos dois acidentes. “É aparente que, em ambos os voos, o sistema MCAS foi ativado em resposta à informação errada do sensor de ângulo de ataque. Como pilotos disseram para nós, a ativação errônea do MCAS pode adicionar mais carga de trabalho, que já é alta. É nossa responsabilidade para eliminar esse risco. Nós temos a solução e iremos fazer”.

Uma investigação minuciosa suspendeu todos os voos com Boeing 737 Max no mundo todo. Em relatório, o Congresso dos Estados Unidos concluiu que a Boeing é responsável pelos desastres: “Eles foram o terrível resultado de uma série de suposições técnicas incorretas dos engenheiros da Boeing, uma falta de transparência por parte da administração da Boeing e uma supervisão grosseiramente insuficiente da FAA [Administração Federal de Aviação].”

O novo Boeing 737 Max

Para que seus aviões voltassem ao ar, a Boeing precisou alterar o sistema MCAS. Agora, ele tem quatro camada de segurança, ao invés de apenas um sensor, como era antes. Nos novos modelos, o MCAS é apenas acionado se dois sensores indicarem inclinação muito alta. Se os sensores indicarem inclinações diferentes, o MCAS não é ativado. Além disso, o sistema só vai “empurrar” o nariz do avião para baixo uma vez.

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Essas medidas foram tomadas para evitar a correção de inclinação errônea, que era ativada sem necessidade em casos de pane.

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