Em 1990, o que começou como um projeto entre o rapper Ice-T e o guitarrista canhoto Ernie C culminou em um dos discos mais controversos da cena musical de Los Angeles. Não foram todos os que aceitaram passivamente a desconcertante perspicácia desafiadora daqueles negros tocando heavy metal, mas, para uma etnia que presencia a violência e preconceito desde o berço, a reação do norte-americano típico foi¿ típica. E não interferiu muito no desenvolvimento do Body Count.
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Ao longo dos álbuns liberados posteriormente, três integrantes da banda faleceram e Ice-T cravou seu nome também na TV com New Jack City e Law & Order: SVU. Agora o Body Count está lançando o sexto disco, Bloodlust, que, como não poderia deixar de ser, segue pintando cenários exagerados para mostrar que a vida nas comunidades negras continua insustentável, e temas como a corrupção política, racismo, disputa entre gangues e a guerra entre traficantes continuam relevantes na democracia dos Estados Unidos.
Consequentemente, a música continua tão primitiva quanto a mentalidade de alguns governantes dos EUA (e, justiça seja feita, aqui no Brasil também temos nossos espécimes, certo?), abraçando estilos que vão do doom, hardcore e thrash metal – mais ou menos uma fusão de Black Sabbath, Suicidal Tendencies e Slayer, referências assumidas pela própria banda –, mas com aquele cheirão das ruas que impossibilita que o Body Count seja comparado a algum outro grupo.
Empolgante e cru, o repertório traz vários convidados de peso: Dave Mustaine (Megadeth) narrando e solando em Civil War, Randy Blythe (Lamb Of God) na extrema Walk With Me e Max Cavalera (Soulfly) dividindo a voz em All Love Is Lost. Mas Bloodlust está longe de ter os créditos somente vinculados a estas participações, tanto que No Lives Matter e This Is Why We Ride, entre outras, falam por si.
São poucos os veteranos que têm algo a dizer após mais de três décadas, mas a habilidade do Body Count em despejar mensagens de revolta apoiadas no sangue das estatísticas, tendo como fundo o heavy metal, é o que torna sua trajetória tão relevante. Excelente trabalho, tanto que Bloodlust estreou na terceira posição nos charts rock e metal do Reino Unido. E na amada terra natal? Ficou entre os 200 discos mais requisitados¿ lml
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Body Count: Bloodlust
2017 / Century Media – importado
01. Civil War
02. The Ski Mask Way
03. This Is Why We Ride
04. All Love Is Lost
05. Raining Blood (cover do Slayer)
06. God, Please Believe Me
07. Walk With Me
08. Here I Go Again
09. No Lives Matter
10. Bloodlust
11. Black Hoodie
*Ben Ami Scopinho está há mais tempo em Floripa do que passou em sua terra natal, São Paulo. Ilustrador e designer no DC, tem como hobby colecionar vinis e CDs de hard rock e heavy metal. E vez ou outra também escreve sobre o assunto.