O operário Sandro Lima é um pontinho no meio da multidão de homens vestidos de azul que saem apressados do trabalho. Por volta das 14h30, a ciclovia da rua Albano Schmidt fica praticamente intransitável, exigindo atenção. Carros movimentam-se freneticamente de um lado a outro. Ônibus lotam a cada ponto. O bairro não tem pausa, não respira.

Continua depois da publicidade

– Não é mais só nos momentos de pico. É sempre assim esse movimento – conta Sandro, que durante oito horas por dia une-se à população de 17 mil habitantes do Boa Vista, na zona Lorte de Joinville.

Morador do Aventureiro, ele mal tem tempo de conhecer a região onde trabalha, mas assiste do banco da bicicleta àquilo que mais caracteriza o bairro: um turbilhão de gente de um lado para o outro. Sandro trabalha na Tupy, um dos principais símbolos da cidade. Foi por causa da implantação da indústria que o bairro começou a se organizar e a crescer para todos os lados.

Como os operários queriam morar perto, era natural que optassem pelas áreas de morros e manguezais. As características geográficas deveriam limitar a habitação, mas na prática isso não aconteceu. O alto índice populacional ainda é uma forte característica do entorno. Na década de 90, o bairro chegou aos 40 mil habitantes, praticamente o tamanho de uma cidade de pequeno porte. Depois, com o desmembramento do Comasa e do Espinheiros, o número diminuiu a menos da metade.

As peculiaridades geográficas são uma barreira para o crescimento do Boa Vista. Há poucas áreas disponíveis para a construção. A saída definida pelo Instituto de Planejamento Urbano de Joinville (Ippuj) tem nome pomposo: verticalização controlada – ou, simplificando, construção de prédios.

Continua depois da publicidade

– Hoje, o processo de crescimento está controlado. As áreas são bem monitoradas. Prova disso é que não sofremos tanto com a enchente do ano passado como outros municípios – comenta a gerente de pesquisa e documentação do Ippuj, Nilzete Farias Hoenick.

O grande número de moradores e de trabalhadores também causa problemas crônicos no bairro, cujas principais vias, a Albano Schmidt e a Helmut Fallgatter, são dois dos pontos mais movimentados da cidade. Uma das soluções para reduzir o problema é a implantação da “Beira-mangue”, projeto ambicioso que prevê a construção de 12 km de estrada ligando o Boa Vista ao aeroporto, no Aventureiro.