Chego para trabalhar na última quinta-feira aqui na Redação de Zero Hora, no dia seguinte à derrota do Inter para o Corinthians por 2 a 1 no Beira-Rio. Começo da tarde. Mal tinha terminando de abrir as gavetas e ligar o computador quando toca o telefone da minha mesa. Atendo como se fosse um robô. Movimento mais mecânico, impossível.

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– Esporte, Zero Hora.

É um procedimento padrão que usamos na hora de atender o telefone. Dizemos sempre “Esporte Zero Hora”. Regra básica de bom atendimento ao cliente. Foi o que nos disseram, e tem dado resultado.

– Alô, eu poderia falar com o senhor Diogo, por favor?

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– É ele.

– Boa tarde. Eu sou o pai do Danilo Silva.

Parei de mexer as gavetas, me ajeitei na cadeira e fiquei mudo por alguns segundos. Ainda estava no ar uma crítica, digamos, forte ao lateral-direito Danilo Silva. Nem tanto a ele, exatamente. Mais ao seu colega do outro lado, Marcelo Cordeiro, vaiado pela torcida após uma atuação infeliz no Beira-Rio.

Como entendo que o Inter precisa ter mais profundidade, para deixar de atacar só pelo meio, considero urgente contratar laterais de ofício. Ou produzi-los a partir de improvisações de volantes ou meias, como aconteceu com Cláudio Duarte nos anos 70 e Jorge Wagner nos 90, apenas para ficar em dois exemplos.

O fato é que critiquei Danilo Silva contra o Corinthians quando muitos o elogiaram. E o pai dele, ao telefone, queria entender meus motivos.

Não é uma situação muito agradável, admito. Na crítica, argumentei que o filho do seu Arlindo – este é o nome do pai de Danilo, Arlindo Detinha – havia mostrado velocidade, mas com pouca margem de acerto nos cruzamentos. O gol de Alecsandro, por exemplo: quem cruzou da direita foi Guliano. Ele quis saber se, por algum motivo, Danilo talvez estivesse tendo um relacionamento ruim com a imprensa gaúcha – seu Arlindo mora em São Paulo. Respondi que não. Ao contrário. Lembro de entrevistá-lo uma única vez e colhi ótima impressão. Até acrescentei:

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– A maioria o elogiou contra o Corinthians. Eu é que discordei. Sou minoria.

Expliquei para o seu Arlindo que não se tratava de nada pessoal, mas apenas uma análise técnica, com base no que julgo bom ou ruim em futebol. Quando Danilo for bem, a meu juízo, vou registrar sem problema algum. Lembrei de uma coluna na qual fiz referência positiva ao filho do seu Arlindo e enviei por e-mail. A resposta é um exemplo de grandeza e civilidade. Reparem só:

Diogo, agradeço sua atenção.

Esse texto eu já havia lido entre outros e não me constrangeu por entender que o Danilo não foi perfeito. Porém na última crônica houve uma afirmação que o Inter perdeu por culpa dos laterais, e profeticamente, o Danilo, deixou muito a desejar. Entretanto, não foi mencionado os responsáveis pela derrota, os auxiliares. Mas entendi e respeito seu papel de repórter esportivo. Afinal, a liberdade de expressão completou 30 anos dia 03 de agosto, fato importantíssimo à democracia. No entanto, achei-me no direito em manifestar minha interpretação sobre sua versão. Portanto, fico a sua disposição para futuros diálogos.

Grande abraço

Arlindo Dutra

Depois da conversa por telefone e da troca de e-mails com o pai de Danilo Silva – de quem o filho deve se orgulhar, e muito – cheguei a uma conclusão. Se o Brasil – o Senado, por exemplo – reproduzisse gestos e práticas tão honestas, transparentes e democráticas como as do Seu Arlindo, teríamos menos problemas éticos a discutir.

No reino da intolerância, um pai discorda com serenidade de uma crítica ao próprio filho diretamente com o autor. Sou obrigado a reconhecer: com um ambiente familiar elevado como está claro que possui, Danilo Silva pode evoluir como jogador e firmar-se na lateral-direita do Inter. Tomara que o faça. E que comece hoje, contra o Palmeiras, no Parque Antártica.

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