Foram necessários muitos anos trabalho em uma contabilidade de Blumenau até que Osmar Adriano, hoje com 79 anos, trocasse a cidade dos verões escaldantes pela aposentadoria na brisa da praia de Piçarras. A mudança de cidade só veio em 2011, depois que um acidente vascular cerebral (AVC) interrompeu os planos da mãe de Osmar de completar 100 anos a apenas três aniversários de chegar ao centenário. Ela vivia com o filho, hoje senhor de cabelos brancos e conversa fácil, e a esposa Melania desde que o marido morreu, em 1982. Como morar em terra de maresia não fazia parte dos planos da mãe, Osmar não a contrariou.
Continua depois da publicidade
No sábado que serviu como prévia do verão e fez muita gente cair nas rodovias para pegar o primeiro torrão nas praias, Osmar e Melania fizeram o caminho inverso. Aproveitaram o dia para limpar o túmulo em que os pais de Osmar estão sepultados, depositaram flores e anteciparam as homenagens para evitar o tumulto comum do feriado. Da praia ainda trouxeram um baldinho de areia para formar uma base para as velas acendidas. Finda a missão, partiram para um almoço com a filha, que ainda reside em Blumenau e representa outro forte vínculo do casal com a cidade.
Essa mistura de preocupação com a limpeza e a organização dos túmulos e momentos de carinho e lembrança de quem já partiu foi vivida por dezenas de famílias nesse fim de semana, o último antes do feriado de Dia de Finados. No Cemitério da Rua Bahia, um dos três espaços públicos da cidade, a movimentação era intensa de familiares com baldes de água, vassouras e panos para deixar as lápides em dia para o feriado dedicado aos entes falecidos. Engelberto Welter e Maria Avi Welter admitem que a correria do dia a dia os fez ficarem afastados do local nos últimos meses, mas reservaram o sábado para dar uma geral no túmulo em que jazem os pais de Maria. Entre um pano e outro sobre a lápide, Maria recordava a vitalidade do pai, que morreu com 82 anos sem nunca parar de trabalhar, e Engelberto lembrava dos docinhos que ele sempre dava um jeito de esconder, apesar do quadro de diabetes.
– Ele é que fez certo, aproveitou a vida, teve uma vida intensa – defende a filha Maria.
Com diferentes visões e motivações, famílias se cruzavam nas estreitas passagem entre as sepulturas no cemitério no fim de semana. No setor dedicado aos luteranos, por exemplo, Célia Regina Boehringer e a filha limpavam o túmulo da cunhada, que morreu há 16 anos. Um esforço feito pela familiar, mas também por afeto à sogra, que já tem 82 anos e a mobilidade prejudicada. Quinze ou 20 fileiras de lápides acima, um homem deixava limpo o túmulo dos pais e partia para Pomerode, onde iria repetir a tarefa, desta vez no jazigo do irmão.
Continua depois da publicidade