Quando Marli Lia Beims precisa comprar uma calça jeans ela recorre a um antigo truque para saber se a peça servirá: coloca o cós ao redor do pescoço. Se fechar, quer dizer que vai dar certo. A dona de casa, que usa manequim 40, diz que já chegou a comprar 44, tamanha a diferença entre as confecções.
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– Às vezes tenho que vestir calça masculina, que fica melhor no meu corpo do que os moldes femininos. Realmente não há um padrão – comenta.
As diferenças sentidas por consumidores como Marli levaram o Senai, por meio do Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (Cetiqt), a fazer uma pesquisa em todo o país. A intenção é uniformizar os tamanhos das roupas feitas pela indústria brasileira. Com um equipamento chamado Body Scanner, a entidade pretende identificar diferentes grupos corporais dos brasileiros e partir daí criar os padrões.
O aparelho esteve na semana passada em Blumenau. Cerca de 250 voluntários participaram da experiência. A cidade foi escolhida por ser um dos polos têxteis mais importante do país. Joinville, Criciúma e Florianópolis também fazem parte do estudo. Na semana que vem a máquina estará em Jaraguá do Sul.
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O Body Scanner é parecido com um provador de roupas, só que todo preto, incluindo a cortina. Uma vez dentro do pequeno quadrado, 16 sensores luminosos e 32 câmeras tiram 100 medidas corporais do voluntário. São dados minuciosos, como a altura do ombro ou a circunferência abaixo do joelho. Enquanto isso em um computador se forma a imagem pontilhada de quem está no interior do equipamento. A medição é feita em menos de 60 segundos.
Rynaldo Anversa Rosa, pesquisador do Senai/Cetiqt e operador da Body Scanner, diz que as estruturas dos corpos variam muito conforme a região:
– No Norte a estrutura das pessoas é mais larga e baixa, já no Sul é mais alta. Em alguns lugares as mulheres tem quadril mais largo. A partir dos dados teremos informações de medidas regionais.
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Além de ajudar a indústria têxtil e da confecção, os dados serão usados por outros setores, conta Otto Guilherme Bahr, coordenador de consultoria e inovação do Senai de Blumenau.
– As informações poderão contribuir, por exemplo com a medicina. A população mudou, está um pouco acima do peso e com o estudo será possível comprovar isso cientificamente – analisa.
A pesquisa, que começou em 2009 e termina no ano que vem, coletará amostras de 13 mil brasileiros com idade entre 18 e 65 anos. Ao todo serão coletadas 1,3 milhão de medidas corporais. O equipamento já passou pelas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste do país. O banco de dados poderá ser usado pelas indústrias para a customização de produtos e para redução de custos de logística.
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As informações de Blumenau serão computadas junto com as demais cidades de SC incluídas na pesquisa e devem estar disponíveis para o Senai da cidade no final do ano.
Mercado aguarda dados da pesquisa
As informações que serão coletadas com o Body Scanner são aguardadas pelo setor têxtil. Coordenadora do curso de Moda da Furb, Ione Laurindo Florenço diz que hoje as empresas precisam de um arquivo imenso de moldes para se adequar ao público. Ela ainda lembra que em países como os Estados Unidos já existe uma padronização.
O uso das medidas que serão geradas na pesquisa pelas empresas é fundamental para que o estudo tenha sentido, avalia Ulrich Kuhn, presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e do Vestuário de Blumenau (Sintex).
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– O problema é fazer um 38 que seja um 38. Se não seguirem os dados, de nada vai adiantar o levantamento. A falta de padronização é um problema de mercado – diz Kuhn.