Horas e horas de espera, acordar na madrugada para garantir um lugar na fila às 3h da manhã e ainda precisar torcer para conseguir uma das poucas e disputadas senhas de atendimento. Emitir uma carteira de trabalho em Blumenau virou uma novela neste começo de ano. A Intendência do Distrito do Garcia é, atualmente, o único local na cidade que oferece o serviço, com 40 atendimentos diários feitos por duas servidoras. A Intendência da Vila Itoupava também estava apta para emitir as carteiras, mas desde dezembro enfrenta problemas com a conexão ao novo sistema do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Já a Praça do Cidadão, na prefeitura, que assumiu os atendimentos feitos no prédio da Gerência Regional do Trabalho e Emprego (GRTE) – interditado desde setembro e em obras -, está sem senhas de acesso e não recebeu do Governo Federal os equipamentos necessários para operar com o novo sistema. Nenhuma esperança de normalização foi sinalizada pelo MTE por enquanto. Para piorar, Blumenau está concentrando as emissões de outras cidades da região que ainda não se adaptaram ao novo sistema, como Gaspar, Indaial e Luis Alves.
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A adolescente Bianca Alves tentou nesta quarta-feira pela terceira vez conseguir uma senha para fazer sua primeira carteira de trabalho. A estudante passou em uma seleção e iria começar como menor aprendiz em uma empresa, mas acabou perdendo a vaga pois não apresentou a tempo o protocolo de emissão da carteira de trabalho.
– No fim de ano entraram em recesso e voltaram essa semana só, tentei ontem e não consegui senha, hoje cheguei 5h30min para entrar na fila e mesmo assim não consegui de novo – lamentou.
Daniela Garcia também acordou mais cedo para entrar na fila e ficou mais um dia sem atendimento. Esperando desde as 6h com a filha de oito meses de idade no colo, ela aguardava por um possível atendimento prioritário para mães com crianças de colo, gestantes ou idosos:
– Não tenho como chegar aqui 3h da manhã com a criança no colo. Vim ontem e alertaram que era pra chegar por volta das 5h, mas que mesmo assim iria encarar fila.
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Segundo o gerente administrativo da Intendência, Jaime de Oliveira, o atendimento normalmente é feito com 20 senhas de manhã, das 8h às 10h, e outras 20 à tarde, das 13h às 15. Nesta quarta-feira, por conta da fila de mais de 100 pessoas formada antes do início do atendimento, as 40 senhas do dia foram distribuídas de uma só vez, às 6h30min. Durante o restante do expediente os servidores da intendência fazem os serviços internos da prefeitura e atendimentos de outros assuntos da região.
De acordo com o relato das pessoas na fila, muitas pessoas dormiram na porta da intendência para garantir uma senha. Uma mulher que conseguiu o primeiro atendimento teria chego no local às 22h do dia anterior. A 13ª pessoa atendida nesta quarta-feira foi a alemã Karina Schwalz. Em Blumenau há três meses, ela tentou pela quinta vez emitir sua carteira de trabalho para começar um estágio. Filha de mãe brasileira mas nascida na Alemanha, ela chegou às 3h30min para garantir o atendimento.
– Na Alemanha também tem bastante burocracia, mas nunca vi algo assim – comentou.
Assim como na terça-feira, nesta quarta a Polícia Militar foi até a intendência para acompanhar possíveis confusões entre os que esperavam por atendimento.
Município depende do Governo Federal
De acordo com o diretor da Praça do Cidadão, Jairo Santos, os problemas em Blumenau começaram no início de dezembro, quando houve a transição do sistema do MTE. O novo sistema depende de internet e de novos equipamentos, como leitor óptico, o chamado “kit de imagem” que, segundo Jairo, não foi repassado pelo governo.
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– A intendência do Garcia só está conseguindo fazer pois comprou os equipamentos por conta própria. Aqui na Praça e na Vila Itoupava não temos esse kit – explicou Santos, ressaltando que a responsável pelo MTE em Blumenau está de férias e que ninguém do governo teria sinalizado alguma ação para resolver o problema até o momento.
Com a falta de equipamentos os servidores da prefeitura que estavam trabalhando na emissão das carteiras nos outros locais também não podem se deslocar para a Intendência do Garcia e trabalhar lá, pois não há kits sobrando. Segundo o superintendente do Garcia, Maurício Goll, a intendência utilizou cerca de R$ 5 mil para comprar dois kits de imagem, e está fazendo o possível para suprir a demanda sem prejudicar os outros serviços oferecidos no local, como atendimentos do Procon, Samae e pedidos da comunidade.
A reportagem do Santa tentou contato com a gerência do Ministério do Trabalho e Emprego em Blumenau e com a superintendência estadual, na Capital, mas não teve retorno.