O professor de inglês e tradutor Paulo Henrique Cecconi, 31 anos, fez um verdadeiro jogo de tetris com suas finanças e horários no trabalho para poder sair de Blumenau, no dia 12, pegar um ônibus e dois aviões, percorrendo 1.252 quilômetros para chegar até o Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ), que ocorre de dois em dois anos em Belo Horizonte, Minas Gerais, reunindo fãs e atrações do Brasil e do mundo.
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Esta foi a primeira vez que Paulo prestigiou o maior festival do gênero no Brasil. A oitava edição ocorreu na Serraria Souza Pinto, que permaneceu lotada de visitantes entre os dias 13 e 17.
Além de celebrados artistas nacionais – como Laerte, homenageado do ano – e convidados estrangeiros – representados por George Pérez, Boulet e Peter Kuper, por exemplo -, uma das atrações do evento é comprar quadrinhos que só podem ser encontrados no local, em estandes montados por quadrinistas independentes e lojas de todo o país. Para Paulo, que é colecionador desde criança, o atrativo valeu o empenho da viagem.
– Coleciono desde os 10, 11 anos. Começou com super-heróis, porque o meu primo lia. Foi ele quem me trouxe para este mundo. Curtia coisas básicas, gostava de X-Men, Batman. A coisa mudou quando, em 1997, a casa onde morava com os meus pais pegou fogo e perdi toda a minha coleção – lembra.
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Na época, Paulo tinha 15 anos e viu seus quase 1,5 mil volumes serem destruídos. Mas apesar do desânimo e da tristeza, começar do zero provocou uma mudança.
– Foi bem complicado. Demorou para eu engatar, voltar a ler e colecionar. Depois daquele acontecimento trágico comecei a ler coisas mais sofisticadas, mais adultas. Foi de lá pra cá que surgiu essa paixão que comecei a levar a sério – conta.
E para o colecionador o amor pela nona arte tem tudo a ver com outra de sua vida. Sem o incentivo de sua noiva, Luziana Roesener, ele não teria voltado a colecionar quadrinhos e sequer teria ido ao FIQ.
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– Minha noiva me incentivou muito. Ela gosta que eu goste, ajuda, pega autógrafo, fica comigo na fila. Se não fosse ela, não estaria aqui, não teria empenho, ânimo. Talvez nem tivesse voltado a colecionar – revela.
Luziana não lê quadrinhos, mas se empolga com a paixão do noivo como se também fosse fã.
TOP 5 FIQ
Foram mais de mil quilômetros e um investimento de quase R$ 2 mil, que resultou em uma mala recheada com cerca de 80 HQs na volta para Blumenau. Como todo bom nerd, Paulo adora uma lista e enumerou por que valeu a pena todo o empenho de ir ao FIQ.
1. Encontrar os amigos
“Pra mim, uma das coisas mais lindas do festival foi encontrar o pessoal. A gente tem um grupo de quadrinhos no Facebook. Eu fiz um perfil só por causa disso. Nós nos conhecemos pessoalmente lá, saímos pra tomar cerveja, ficamos o dia inteiro conversando, fomos pegar autógrafo juntos. Isso foi o mais legal do evento.”
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2. Conhecer os ídolos
“Ter conhecido o George Pérez, o Peter Kuper, o Sidney Guzman. O George Pérez é uma lenda viva. Achei que não ia ficar nervoso perto dele. Estou com 31 anos, pensei que seria de boa, mas fui fan boy total. Encontrar tanto os ídolos quanto os amigos foi muito bom.”
3. Comprar quadrinhos independentes
“Tem muita coisa independente boa, sou muito fã de quadrinhos nacionais. Tem coisa independente estrangeira que só se encontra lá também. Eu estava há dois meses sem comprar nada pra poder ir ao festival.”
4. Estar no primeiro FIQ
“O evento superou expectativas. Fiquei deprimido de ter que ir embora.”
5. Respirar quadrinhos
“Estar lá falando em quadrinhos, respirando quadrinhos o dia inteiro sem ser julgado. Todo mundo era igual e estava na mesma vibe. Acho que isso é top.”
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