Na contramão dos recordes diários de novos casos de coronavírus nos últimos dias, as UTIs Covid de Blumenau apresentam queda nas internações. Enquanto o número de moradores da cidade em leitos de terapia intensiva era de 15 no dia 5 de janeiro, caiu para seis nesta quarta-feira (12) — dia que o município chegou a 932 diagnósticos positivos em 24 horas, o maior desde o começo da pandemia.
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Especialistas consultados pela reportagem destacam que a redução de quadros graves vivida hoje reflete o avanço da vacinação e também a forma como a Ômicron acomete os pacientes. Em 2022, até agora, apenas um blumenauense morreu vítima da Covid-19 e se tratou de jovem que estava internado há seis meses. Nos últimos cinco dias, nenhum morador da cidade perdeu a vida por causa da doença.
Ainda assim, os médicos ouvidos pelo Santa são unânimes em dizer que é cedo para saber se esse surto tende, de fato, a impactar menos a rede hospitalar como em momentos anteriores da pandemia, quando chegou a faltar leitos em Santa Catarina.
A palavra de ordem, no atual cenário, é alerta.
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Isso porque a nova variante é muito mais transmissível do que as demais identificadas e pode ter encontrado o ambiente perfeito para se propagar no fim de ano com a liberação de festas e aglomerações de réveillon. Entretanto, a Ômicron não acomete os pulmões, por exemplo, com a mesma severidade que outras mutações do vírus, explica o infectologista José Amaral Elias.
Dentro das UTIs Covid o que o médico percebe são pacientes que não tomaram a vacina e com fatores de risco à doença. Essa realidade pode explicar como Blumenau chegou a 932 pessoas infectadas em 24 horas — o maior número desde quando a pandemia começou — e teve 12,1% dos leitos de terapia intensiva ocupados. A cidade tem 72,9% da população imunizada.
— A Ômicron, preponderante no Brasil, tem mostrado não levar a casos mais graves. Claro que ainda é muito cedo porque essa onda que chegou foi principalmente pelas aglomerações de fim de ano. Então precisamos esperar mais um pouco para ver como vai refletir principalmente nos não vacinados ou mesmo nos imunizados, mas com comorbidades ou fator de risco — afirma Elias.
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Falta ação
Amaury Mielle, infectologista, vê com preocupação o novo surto da doença e lamenta a falta de ações efetivas dos governos para frear a transmissibilidade, que está em ascensão e pode não refletir o número real de infectados em virtude da subnotificação, na visão do especialista. O médico alerta que o risco não está restrito à capacidade estrutural de atendimento, mas também ao déficit de profissionais, os quais também acabam acometidos pela doença.
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— Temos um panorama preocupante tendo em vista que não está sendo feito nada para conter esse processo. Mas a gente vai entender melhor como isso vai impactar aqui em Blumenau nas próximas duas semanas, porque esses casos que estão sendo diagnosticados hoje, quando complicam, quando precisam de atenção hospitalar, é daqui a 12 ou 15 dias — explica.
A recente redução no período de isolamento dos infectados, de 10 para 5 dias, pode contribuir para o agravamento do cenário, pontua Mielle. O médico cita estudos que apontam pacientes no quinto dia da doença transmitindo alta carga viral. Colocá-las de volta ao trabalho, por exemplo, pode significar mais pessoas contraindo o vírus.
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Para ele, a medida atende cobranças de empresários com vistas aos impactos econômicos dos afastamentos, mas desconsidera o risco à saúde pública de toda a sociedade.
— Nada tem sido feito para diminuir essa explosão de casos. Deixar que a doença evolua de forma normal pode implicar numa saturação, colapso de tudo, não só da saúde — lamenta.
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O colunista Pedro Machado diz que há uma expectativa de que nesta quinta-feira (13) o prefeito de Blumenau, Mário Hildebrandt (Podemos), anuncie novas medidas para deter o surto da Covid-19.
Ao contrário de momentos anteriores da pandemia, as medidas de agora não devem restringir o horário de funcionamento do comércio e do setor de serviços, como bares e restaurantes. O colunista apurou que pode haver algo relacionado à capacidade de ocupação dos estabelecimentos.
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O caos na rede básica
O atual surto da pandemia apresenta um novo desafio às autoridades governamentais. Se antes eram os hospitais que estavam sobrecarregados, agora são os postos de saúde e prontos-socorros. Os AGs de Blumenau registraram 100 mil atendimentos na primeira semana do ano. É o dobro do mesmo período no ano passado. A alta demanda tem gerado filas, demora e muitas reclamações dos pacientes.
O mesmo ocorre na rede privada.
O fechamento da central de atendimento a casos suspeitos da Covid-19 na Vila Germânica pode estar por trás disso.
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É que antes esse serviço estava centralizado em um único local. Hoje divide espaço com todos os demais tipos de atendimentos de saúde nas unidades básicas. O que se ouve dos pacientes é o medo de ir ao posto fazer um curativo e precisar ficar na fila junto com quem suspeita de Covid-19. A prefeitura diz que não vai reabrir a central da Vila Germânica e que segue orientação do Ministério da Saúde para que a porta de entrada dos casos leves seja uma ESF.
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— No momento agora são as portas [as unidades de saúde] que estão muito sobrecarregadas, até com profissionais sendo contaminados, complicando um pouco o atendimento. E aí as atuações administrativas vão ter que ser em torno disso. Estamos com dificuldades com testes para todos, tivemos aquele apagão no sistema do Ministério da Saúde. É um conjunto de coisas. Mas se essa variante evoluir como nos outros países, acredito que num período de 60 dias isso já não esteja mais nessa situação — acredita o infectologista José Amaral Elias.
A expectativa do médico, considerando o que tem se visto em outras partes do mundo como Europa e África, é que não tenha o mesmo impacto em termos de gravidade e mortalidade que as outras variantes.
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