Arnaldo Nazário e Maitê Waldrich não se conhecem e levam vidas completamente opostas. Mas as histórias deles têm em comum a Oktoberfest Blumenau como forma de superação de momentos traumáticos.
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Ele enfrentou a enchente de 1984, quando a família perdeu tudo. A festa, inédita naquele ano, deu fôlego para recomeçar. Ela atendeu um dos primeiros casos suspeitos de coronavírus, ficou na linha de frente da pandemia, e agora aguarda ansiosa a alegria tomar conta dos pavilhões da Vila Germânica depois de três anos.
A Oktober reergueu a autoestima da cidade, deu ânimo e orgulho — conta Nazário, sobre quando a festa começou há 38 anos.
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Não é incomum ouvir que a Oktoberfest Blumenau nasceu justamente para trazer felicidade aos moradores após a grande cheia. Mas há pitadas de lenda nessa história: o evento estava nos planos muito antes disso.
Emílio Schramm recorda que a festa era tema de discussões em 1970, incentivada por membros da Comissão Municipal de Turismo e empresários. O ex-presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) esteve na Alemanha em setembro de 1980 com uma correspondência assinada pelo prefeito da época. O objetivo? Se informar sobre a festa em Munique.
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A ideia de festa não vingou naquele momento, mas nunca se desistiu dela.
O ex-prefeito Dalto dos Reis, atualmente com 76 anos, conta que pedia votos para ser prefeito quando começou a ser questionado pelos eleitores, sobretudo os da região Norte de Blumenau onde há bastante influência germânica, se iria tirar a Oktoberfest Blumenau do campo dos sonhos para a realidade.
Eu, querendo ser eleito, dizia que sim — revela.
A vitória nas urnas veio, Dalto chamou Antônio Nunes para assumir a Secretaria de Turismo e o enviou a Alemanha, para saber como era a festa centenária que reunia milhares de pessoas no país europeu.
Do desfile à sangria do primeiro barril, tudo foi reproduzido em Blumenau com o apoio dos empresários que pediam por mais eventos para movimentar a economia da cidade.
No dia 5 de outubro de 1984, às 19h, houve a primeira sangria do barril na antiga Famosc – hoje Parque Vila Germânica. Nem o próprio Dalto dos Reis, que embarcou na ideia da festa, acreditava que o público iria chegar depois de toda a dor de uma sequência de enchentes.
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O então prefeito recebeu inúmeras críticas ao decidir manter o evento mesmo após as águas atingirem 15,46 metros no dia 8 de agosto, menos de dois meses antes da Oktober.
— O Jornal de Santa Catarina surgiu na prefeitura querendo saber os estragos da enchente e o repórter perguntou se a festa seria cancelada. E eu, num rompante, disse que não. No dia seguinte a informação estava na capa do noticiário — relembra Dalto.
As críticas não foram poucas. Arnaldo Nazário, personagem que abriu esta reportagem, ainda era uma criança naquela época, mas lembra das opiniões principalmente nas rádios.
— “A Famosc suja da enchente? Como assim uma festa?” — diziam alguns, relembra o bancário.
A festa aconteceu e, durante 10 dias, aproximadamente 102 mil pessoas passaram pelo pavilhão. Era a resposta da comunidade depois de tanta tristeza. Nazário, inclusive, estava lá com os pais. O clima de alegria, o cheiro de limpeza, a música, um cenário antagônico à enchente são fortes na memória dele até hoje e se tornou tradição festejar a Oktoberfest Blumenau.
— Comecei a participar do grupo de dança folclórica do clube 25 de Julho e aí todo ano tinha apresentação durante a festa. Foi lá que conheci minha esposa, que hoje se apresenta comigo — diz Nazário com sorriso no rosto e traje em mãos, pronto para 2022.
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Uma “enchente” que durou dois anos
A felicidade habitual de outubro em Blumenau, então, foi interrompida pela pandemia. O medo visto nos olhos de quem enfrentou a enchente também se fez presente diante do desconhecido coronavírus. Quando o primeiro caso se confirmou na cidade ninguém imagina que pela primeira vez a Oktoberfest teria de ser cancelada.
O prefeito Mário Hildebrandt diz que olhando para trás agora sabe que a decisão foi acertada, mas na época eram medidas pesadas, difíceis e impactantes de serem tomadas.
Para quem estava na linha de frente de combate à pandemia, foi a melhor medida a ser adotada naquele cenário, avalia Maitê Luiza Waldrich, enfermeira do Hospital Santo Antônio. Ela é uma apaixonada por Oktoberfest desde pequena, quando o padrasto fazia a montagem de alguns carros alegóricos para os desfiles na Rua XV de Novembro.
Ela, de quebra, tinha a oportunidade de participar das apresentações no Centro de Blumenau. Nessa trajetória de amor com o evento, teve até um encontro especial.
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— Em 2018 eu bati meu recorde 12 dias frequentados na festa, e conheci também meu irmão durante a Oktober. Nós somos filhos do mesmo pai, e ele me viu passado e perguntou: “Aquela lá não é tua filha?”. Foi assim que nos conhecemos em 2011 — conta.
Quando 2020 chegou trazendo a Covid, a enfermeira não imaginava que a situação chegaria ao ponto de fazer cancelar a festa do coração. A doença trouxe medo e exaustão. A incredulidade de muitos quanto ao vírus, a resistência às máscaras, as desinformações sobre as vacinas se tornaram obstáculos para além das paredes dos hospitais.
Maitê conta que não passava um dia sem intubar um paciente e o receio de levar a doença para a família também existia. Uma forma de relaxar foi participar das lives de Oktober, que ela mobilizava os amigos.
Agora, com o cenário bem diferente do enfrentado nos últimos dois anos, quando o palco da maior festa alemã das Américas serviu de central de triagem de casos suspeitos de Covid e depois para vacinação, a expectativa ganha força para a chegada do dia 5 de outubro.
— Vai ser a comemoração do fim de uma fase ruim que a gente teve — almeja Maitê, que deixa um conselho para que os foliões revezem chope com água para não ir para o pronto-socorro.
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Na visão do prefeito Mário Hildebrandt, a retomada após duas edições suspensas vem para coroar o novo momento da cidade.
— A cidade recuperou o ânimo e a Oktoberfest vem para coroar isso. A festa representa essa alegria, essa característica que Blumenau tem de encontrar caminhos para superar as dificuldades e se reinventar. Acho que a Oktoberfest é esse símbolo da resiliência da cidade. É momento de celebrar a vida — afirma.
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