O esporte é feito de ídolos. E a cidade que detém o maior número de títulos dos Jogos Abertos de Santa Catarina (Jasc) – 40 troféus das 57 edições disputadas – viu muitos deles nascerem e apaixonarem-se pelo esporte por aqui nesses 168 anos. Muitos deles ganharam asas, despontaram mundo afora e levaram o nome da cidade para o lugar mais alto do pódio.

Continua depois da publicidade

Foi assim com Tiago Splitter. O primeiro representante brasileiro a conquistar o título da NBA – a liga americana de basquete. Foi campeão da temporada 2013/2014 com o San Antônio Spurs, ao lado de astros como Tim Duncan, Manu Ginóbili e Tony Parker. Virou ídolo no Texas e também na Espanha, onde também fez sucesso antes de ir para a terra do Tio Sam.

O sucesso foi acompanhado de participações defendendo a Seleção Brasileira por 99 partidas. Em 2013, foi eleito o melhor jogador brasileiro de basquete. O ala-pivô anunciou a aposentadoria em fevereiro deste ano, aos 33 anos. O algoz foi uma incômoda lesão no quadril. Mas Splitter segue trabalhando com o basquete, agora na comissão técnica do Brooklyn Nets.

::: Leia todas as matérias do caderno especial Viva Blumenau

::: Confira a programação oficial do aniversário de Blumenau

Continua depois da publicidade

Mais valor ao povo e à cidade

Splitter desenvolve clínicas de basquete para passar experiências a jovens de 11 a 19 anos que desejam seguir carreira no basquete. Os eventos ocorrem em diferentes cidades e já passaram por Blumenau em 2014. A ligação com a cidade é de fato intensa. Por onde passou, Splitter nunca escondeu o orgulho das origens nas quadras da cidade.

– A cidade representa o começo de tudo, onde cresci como jogador, como pessoa, onde aprendi grandes valores e, claro, tenho muito orgulho de falar para todo mundo que sou de Blumenau. A cidade merece continuar crescendo, manter sua cultura, sua forma de ser. Só quando saímos da cidade a gente percebe o quanto somos especiais. Às vezes, a gente tem que dar mais valor ao nosso povo, nossa cidade, nossa cultura – conta.

Pedido de presente de quem conquistou o mundo

Eduarda Amorim é outra que saiu das quadras blumenauenses para brilhar pelo mundo e voltar com glória em desfiles de carros de bombeiros. Em 2017, ela foi considerada a melhor defensora do handebol mundial. Três anos antes, foi eleita a melhor do mundo. Hoje Duda joga na Hungria, um dos países mais fortes da modalidade, e defende as cores da Seleção Brasileira há mais de uma década. Foi um dos principais nomes do time campeão mundial, em 2013.

– Tenho sentimento muito forte, um carinho enorme. Foi em Blumenau onde comecei nos Jogos da Primavera, jogando primeiro pela escola e depois pela cidade. Lá estão meus fãs, minha família e meus amigos que seguem minha carreira até hoje. Sempre me lembro da minha cidade com muito carinho. Sou muito agradecida ao apoio dos meus técnicos que me ajudaram a conquistar essa carreira de sucesso – conta.

Continua depois da publicidade

Duda não esconde: o maior presente que a cidade poderia receber nesses 168 anos seria a reforma do Galegão. Segundo ela, com a quadra ampliada para 20mx40m, o tamanho oficial para a prática do handebol, outras Dudas e outras atletas de renome na modalidade poderiam surgir na cidade.

História é para quem tem

Toda essa trajetória de sucesso teve o caminho aberto por esportistas de uma época mais distante, mas igualmente apaixonante para quem a viveu. O médico e ex-atleta Walmor Belz ajudou o Olímpico a conquistar dois títulos estaduais de futebol: em 1949 de forma invicta, como jogador, com apenas 17 anos, e em 1964 como médico do clube.

Até hoje as lembranças do ex-jogador são de um tempo em que o futebol e os banhos de rio eram praticamente as únicas atrações dos domingos na cidade. Com isso, a relação dos torcedores com os rivais Palmeiras e Olímpico ficava mais forte a cada fim de semana.

– Isso representou para Blumenau uma afirmação não só no futebol, mas também nas outras áreas esportivas. Até então ninguém em Blumenau e nem no interior tinha sido campeão do Estado. Predominava o futebol da Ilha. O título criou uma emulação, uma vaidade pessoal no blumenauense mostrando a capacidade no futebol – conta.

Continua depois da publicidade

Esporte abre as portas para a inclusão

O esporte em Blumenau também é sinônimo de inclusão. Desde 2011, a administração municipal mantém um programa de paradesporto, que hoje atende mais de 450 atletas em 11 modalidades, como atletismo, bocha, tênis de mesa e natação. Alunos da rede municipal praticam esporte no contraturno escolar e têm o desenvolvimento acompanhado em conjunto pelos professores de sala de aula e do programa. A partir do ensino médio, os alunos entram no paradesporto adulto, mas podem continuar praticando a modalidade. Atualmente há alunos desde os seis meses, caso dos bebês que praticam natação, até 70 anos.

Em alguns casos a prática esportiva também revela talentos. É o caso de Thiago Esser, 24 anos. Ele tem uma paralisia motora no lado direito do corpo. Há um ano, foi conhecer um treino do atletismo do paradesporto por sugestão de uma vizinha, que achou que ele tinha o perfil. No primeiro dia já ouviu da treinadora que seu lugar era mesmo lá.

Ela estava certa. Em pouco tempo, ele já começou a se destacar na modalidade, com um primeiro lugar nos 400 metros e nos 200 metros da etapa regional do Campeonato Brasileiro. Conseguiu uma bolsa que o permitiu deixar o trabalho e se dedicar integralmente aos treinos, que ocorrem todos os dias. No próximo ano, ele sonha em conquistar a competição nacional e também obter o almejado índice que pode colocá-lo na disputa das Paralimpíadas de 2020, em Tóquio.

– Tem sido como um sonho. Está me ajudando na postura, na saúde, a autoestima também melhorou. Já tinha tentado várias coisas. Sinto que encontrei meu lugar – confidencia.

Continua depois da publicidade

Os talentos surgem naturalmente à medida que os alunos recebem oportunidade. Prova disso são os resultados como três convocações de blumenauenses para representar o Brasil no Parapan-Americano de Jovens. Mas o objetivo principal do projeto, que tornou Blumenau uma referência, é buscar o desenvolvimento global dos alunos. A diretora de Desenvolvimento do Paradesporto de Blumenau, Giselle Margot Chirolli, recorda que o trabalho começou com um aluno cadeirante de tênis de mesa, mas que evoluiu graças ao apoio do poder público e de empresas apoiadoras. Em 2013, o projeto foi levado à Secretaria de Educação e teve sete professores destinados especialmente às modalidades. Uma virada de página do programa.

– Mudamos o olhar, buscamos o movimento intersetorial, salas inovadoras, avaliações que não existem em livros, uma metodologia nova. A gente vê hoje as famílias e as transformações dentro delas, os alunos que melhoraram o aprendizado, a socialização por meio do projeto – conta.

CT com moradia assistida é ambição para o futuro

Tudo isso é construído à base de muito esforço, de atletas e professores. E quando eles olham para o futuro, há um grande sonho em comum. É a construção de um CT paralímpico. Uma estrutura que pudesse ser aproveitada pelo paradesporto de todo o Estado e que também comportasse uma moradia assistida. O objetivo ainda está em fase inicial, depende da doação de um terreno, mas é um sonho crescente entre os professores e paratletas da cidade. Quem acompanha a luta dos envolvidos no projeto e vê os resultados, não haverá de duvidar.

(Colaborou Eduardo Cristófoli, da NSC TV).