Quando Magic Paula coloca o pé direito no Ginásio Galegão e observa as cadeiras azuis, um fenômeno único ocorria com as 50 meninas que, em uma roda no centro da quadra, aguardavam ansiosas a presença da ex-jogadora. Vidradas, elas sabiam que vivenciavam um momento único. Cutucavam-se, olhavam umas para as outras e utilizavam ao pé da letra o dedo indicador.

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Os sorrisos das jovens meninas praticantes de basquete logo se misturaram com o de Paula em um daqueles instantes singulares que o esporte pode proporcionar entre fã e ídolo. E foi só a campeã mundial na Austrália, em 1994, começar a falar, que a voz doce, suave, hipnotizou as jovens atletas. Os raros momentos de silêncio total – que rolavam apenas quando Paula parava para respirar entre uma palavra e outra – mostravam o quanto cada uma de suas frases estavam sendo captadas.

Humilde, seu primeiro pedido ao pegar o microfone em mãos foi para que os pais ficassem no entorno. Diz que o esporte sem a participação de pais e mães não é a mesma coisa e fala com tanta, mas tanta propriedade de cada um dos detalhes de sua carreira, que faz as pessoas terem vontade de praticar esporte.

Quando comenta sobre os obstáculos que teve para poder se tornar uma das maiores atletas brasileiras de todos os tempos, Magic Paula faz com que qualquer empecilho seja apenas uma pequena lombada na vida, que você rapidamente ultrapassa. As coisas difíceis, que podem ser cruciais na trajetória de uma atleta que venha a pôr um ponto de interrogação sobre seu futuro no esporte, mal se transformam em uma pequena pedra no caminho em suas palavras.

A vinda de Magic Paula para prestigiar o basquete feminino de Blumenau ocorreu justamente em um ano que se inicia com a discussão sobre os rumos do esporte da bola laranja no Brasil. Com uma dívida que ultrapassa os R$ 17 milhões, a Confederação Brasileira de Basquete (CBB) sofre uma intervenção da federação internacional (Fiba), Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e Ministério do Esporte. Nesse contexto, todos pagam o pato, mas o basquete feminino – que já vinha em decadência, sem conseguir formar grandes nomes – acabou por ficar ainda mais prejudicado. Para Paula, parafraseando Galvão Bueno, é preciso repensar.

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O que a gente quer para o basquete feminino? Queremos continuar indo para competições pensando em resultados imediatistas que não estão vindo, ou queremos pensar em um planejamento a longo prazo, para aumentar o número crianças no esporte, mostrar essa modalidade sedutora que é gostosa de praticar? Com isso podemos ter uma liga mais forte, repatriar jogadoras, trazer atletas de fora. É algo que tem que ser construído com várias forças juntas – comenta.

Em quadra, Blumenau

começou melhor

A presença de Magic Paula ilustrou o cenário de festa do esporte no Ginásio Sebastião Cruz, o Galegão. Mais de 700 pessoas marcaram presença nas arquibancadas para ver o time blumenauense encarar o líder Corinthians e começar melhor. E a equipe precisava disso. Com uma defesa sólida e eficiente no ataque, as comandadas de João Camargo Neto terminaram o primeiro período na frente: 18 a 15. Embaladas pelo público que foi gradativamente deixando o silêncio de uma partida de tênis de lado, as meninas conseguiram manter a vantagem ao fim do primeiro tempo, com 32 a 28 no placar.

E quando tudo parecia que ia dar certo, com Blumenau à frente do marcador por todos os três quartos do jogo, a coisa desandou. Abusando dos erros no ataque, tanto nos arremessos quanto em passes durante o segundo tempo, o time da casa deixou espaço aberto para que as paulistas tomassem conta do jogo, ponto a ponto. Nem a pressão da torcida ou das meninas em quadra nos instantes finais foi capaz de reverter o resultado final: derrota por 68 a 60.

Com o resultado, Blumenau permanece a dois pontos de Sampaio Corrêa-MA, quarto colocado e hoje na zona de classificação aos playoffs semifinais da Liga de Basquete Feminino (LBF). A equipe de Blumenau volta à quadra nesta quarta-feira, às 20h, novamente diante do Corinthians em jogo válido pela sétima rodada da competição. Se vencer, o time blumenauense volta a encostar nas maranhenses em busca de uma das vagas à segunda fase e coloca pressão para as seis últimas partidas.

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