No dia em que anuncia novas medidas para frear o avanço do novo coronavírus, Blumenau enfrenta o momento mais delicado da pandemia. E não é só pelas UTIs lotadas nos hospitais da cidade, ou então pela quantidade de pacientes ativos. Ao menos outros dois indicadores revelam o cenário preocupante: o alto índice de contágio e a média móvel de novos pacientes que se infectaram.
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Conforme dados obtidos pelo Santa junto às equipes que atuam no combate à Covid-19 em Blumenau, a Taxa de Retransmissão (Rt) — que indica para quantas pessoas um infectado passou o vírus após contraí-lo — chegou a 1,63 no último dia 16. Há três semanas, em 30 de junho, esse número era de 1,17. Em 3 de julho passou para 1,37, foi a 1,58 no último dia 8, e atingiu a maior marca no fim da semana passada.
A média móvel de novos casos — que é o total de novos pacientes infectados em uma semana dividido por sete — também disparou. Passou de 35,8 para 206,7 testes positivos diários da Covid-19 em quatro semanas. Esse indicador (confira no gráfico abaixo) vem sendo utilizado por autoridades de saúde por mostrar curvas mais realistas e, em Blumenau, sugere que o tal “pico” da pandemia do coronavírus ainda nem chegou.
— Pelo que vemos nessas últimas duas semanas, acreditamos que estamos, sim, muito próximos do pico. O que indica isso é justamente a ascensão exponencial do Rt. Essa curva de tendência, mais a média móvel dos últimos sete dias mostra que estamos perto do pico. Quando vamos chegar lá? Só quando chegarmos em um determinado número de taxa de contágio, e aí ele começar a cair — explica a médica infectologista Sabrina Sabino.
“Como se a pandemia tivesse começado agora”
Na avaliação do geógrafo Eduardo Augusto Werneck Ribeiro, professor do Instituto Federal Catarinense (IFC) e pesquisador com participação em uma rede nacional de estudos sobre a Covid-19, é como se a pandemia tivesse começado agora em Santa Catarina. O especialista diz que as medidas tomadas no início, lá em março, serviram apenas para retardar o coronavírus, e não para achatar a curva de contágio.
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— Se você olhar, a curva da média móvel deixa de ser dezena e passa ser centena muito rápido. É como se a pandemia tivesse começado agora, mas em um grau pior. O número me surpreende. São 200 novos casos entrando em circulação por dia. Aquele efeito positivo que se criou por conta da quarentena foi por água abaixo. Colocamos carne fresca para o vírus — avalia Werneck Ribeiro.
“Testagem cavalar”
Outro ponto que destaca o geógrafo é a necessidade de ampliar a testagem. Embora Blumenau tenha começado fazer mais testes já em abril, apenas uma pequena parte da população foi abrangida. Para que se tenham políticas públicas sólidas contra a Covid-19, explica Werneck Ribeiro, é necessário que uma fatia considerável de moradores faça o exame para detectar se tem — ou teve — o coronavírus:
— Se for feita uma quarentena testando, é uma coisa. Já se fizer uma quarentena igual à do começo, vai acontecer a mesma coisa de novo [ao se referir sobre o aumento de casos e mortes]. Sem testagem, não vai mudar nada. Temos que ter um modelo semelhante ao de Pelotas, algo cavalar, na casa dos 25% da população, para ser algo robusto. Hoje, do jeito que está, estamos navegando sem instrumentação.
Situação do coronavírus em Blumenau
Na noite deste domingo (19), o Santa antecipou as medidas restritivas que serão adotadas em Blumenau e região. A decisão foi tomada pelos prefeitos do Médio Vale do Itajaí por conta dessa situação delicada vivida na região. Só nos municípios que compõem a área, são 9,4 mil casos e 60 mortes confirmadas pelo novo coronavírus.
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Em Blumenau, segundo a prefeitura, já são 5.585 moradores infectados com a Covid-19. Foram 90 novos casos em relação ao dia anterior. Na sexta-feira (17), a cidade registrou o maior número de testes positivos em um único dia: 304. O índice de pacientes ativos também se mantém alto, acima da marca de 2 mil pessoas há pelo menos quatro dias.
Já em Santa Catarina, segundo o governo do Estado, são 53.336 casos confirmados do coronavírus, com 685 mortes. Joinville (82) e Itajaí (68) são as cidades que mais registraram óbitos relacionados à Covid-19. Blumenau, na lista oficial da Secretaria de Estado da Saúde, soma 25 — mas na manhã desta segunda-feira (20) a prefeitura já havia confirmado a 28ª vítima fatal da pandemia.