Blumenau está no topo do ranking nacional do cooperativismo de crédito. Pelo menos 45% dos moradores do município são associados a alguma cooperativa financeira. São, ao todo, 148 mil sócios espalhados pela cidade. O saldo é resultado de uma combinação de fatores.
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A vocação ao associativismo do município, o envolvimento dos trabalhadores e a ligação com a comunidade local alçaram Blumenau como exemplo no segmento. Lauro Cordeiro ainda guarda praticamente intacto o recibo do depósito de cota de quando abriu sua conta na CrediHering, hoje Viacredi.
Como cooperado número 140, ele não imaginava que depois dele viriam quase 300 mil sócios. Muito menos que a Viacredi se tornaria a maior cooperativa de crédito em número de associados do país. Cordeiro, hoje aos 84 anos, lembra que ajudou a elaborar o estatuto em 1951. Na época era auxiliar da contabilidade da Cia Hering.
Menor de idade, não pôde constar do quadro de fundadores. Por anos a cooperativa foi operada dentro da empresa têxtil, por isso ele manteve ligação próxima com a instituição. Mais tarde, na década de 1980, chegou a ser diretor da CrediHering e da própria companhia.
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– A cooperativa surgiu num tempo em que era muito difícil um trabalhador conseguir empréstimo bancário e mudou essa perspectiva – conta Lauro, que em 62 anos de cooperado conseguiu aumentar a primeira casa onde morou com financiamento da cooperativa.
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Ter um número grande de cooperativas de crédito e cooperados significa mais dinheiro circulando na cidade, explica Nazareno Schmoeller, professor do curso de Economia da Furb e coordenador do Sistema de Informações Gerenciais e de Apoio à Decisão (Sigad). A lógica das cooperativas de crédito é de lucro zero, ou seja, o sócio recebe de forma proporcional à sua movimentação parte do lucro da cooperativa depois de descontadas despesas e valores, por exemplo, para reinvestimento. Cidades com cooperativas também têm desenvolvimento social maior porque há mais gente tendo acesso ao sistema financeiro.
– Se por um lado é positivo ter o retorno dos lucros, por outro o sócio precisa ser participativo. Estar atento ao que acontece na cooperativa. Ele também é dono, então, se houver dívida, ele vai ter que ajudar a pagar e vai ficar no prejuízo – alerta Schmoeller.
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A presença nos bairros fortalecendo a ligação com a comunidade é responsável por boa parte do sucesso dessas instituições em Blumenau, avalia Márcio Port, presidente da Sicredi Pioneira RS e co-autor livro Cooperativismo Financeiro: percurso histórico, perspectivas e desafios. A cidade tem 55 postos de atendimentos de cooperativas de crédito, boa parte espalhada pelos bairros, enquanto as agências de bancos privados somam 64 e com concentração na região central.
– A grande diferença é que numa cooperativa nós não somos só um número como num grande banco privado. É tudo muito mais fácil e acessível. O atendimento é o diferencial – conclui Gilson Gonçalves Cândido, sócio-fundador da Unicred Blumenau, que inicialmente era direcionada à classe médica e hoje abrange mais categorias.