Camisa em tom sóbrio, postura firme e confiança ao falar. Cauã Henrique Zucatelli teve a missão, uma semana atrás, de apresentar a empresa criada (um site de e- commerce) por ele para um corpo de jurados que avaliou a viabilidade e o impacto social do negócio desenvolvido em parceria com o amigo João Victor Rodrigues. Nem parecia um aluno de apenas 14 anos do 9o ano da EBM João Joaquim Fronza, no bairro Itoupavazinha, em Blumenau. A dupla concorreu com outros quatro projetos e saiu vencedora.
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A dedicação ao trabalho valeu o posto de melhor da classe. João, também de 14 anos, conta que foram horas em casa e na escola planejando, calculando, pesquisando, para no fim, saber, por exemplo, se havia mercado para a C&J Comércio e Varejo, a empresa fictícia. Os meninos descobriram que sim, e que, além de lucrativa, ela poderia ter impacto social, com a possibilidade de destinação de parte da receita para organizações não governamentais e projetos voltados à iniciação científica.
O trabalho fez parte de um projeto criado pelo professor de Matemática, Marco Antônio Vieira. A principal meta era fazer os 28 alunos compreenderem conceitos de custo, preço fixo, preço variável, tributação, impostos, mas nada melhor do que sair dos cadernos e ir para a prática. Planejando as próprias empresas, os alunos ganharam mais do que conhecimento técnico, foram despertados para um caminho de possibilidades que está nas mãos deles.
– A proposta é, além de torná-los autônomos, mostrar que eles são corresponsáveis pela realidade deles – afirma o educador.
Cauã ficou feliz em ser o vitorioso e se diz mais consciente sobre questões que até então não entendia dentro das empresas, enquanto o João saiu ainda mais convicto de que quer ser dono do próprio negócio.
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– Já me sinto realizado. Sei que posso ajudar a minha família, alcançar os meus sonhos e viajar o mundo – diz o estudante, entusiasmado com a possibilidade de ter uma empresa própria.
O projeto do professor Marco foi criado há três anos. Em 2018, além da EBM João Joaquim Fronza, ele desenvolveu também com 72 alunos da EBM Lúcio Esteves. A educação para o empreendedorismo tem se fortalecido em Blumenau ao longo dos últimos anos com inúmeras inciativas. Em 2015, cerca de 1,5 mil alunos das escolas Almirante Tamandaré e Conselheiro Mafra foram contemplados por um projeto chamado Jovens Empreendedores Primeiros Passos, do Sebrae. Atualmente, a rede municipal de Blumenau aborda o tema de forma transversal nas escolas e creches, por meio de um trabalho voltado à educação fiscal, afirma a secretária Municipal de Educação Patrícia Lueders.
Eles cresceram e foram ao trabalho
O jovem Juan Wruck teve a primeira experiência com a abertura do próprio negócio em 2016, durante um projeto da Junior Achievement Blumenau chamado Miniempresa. Na época, o grupo que ele integrava desenvolveu um produto para limpeza de telas de celulares e óculos. A experiência foi tão produtiva que no ano seguinte ele decidiu se tornar um empreendedor. Hoje tem uma loja virtual que comercializa bolsas para todo o Brasil. Aos 20 anos, tem outro emprego paralelo, mas garante que o e-commerce dá retorno financeiro.
– O projeto abriu muito a minha cabeça. A partir do momento que vi o retorno que uma empresa dá, comecei a estudar a possibilidade de abrir outro negócio – conta Wruck.
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Desde quando foi criado, em 1999, o projeto da Miniempresa contemplou aproximadamente 4,5 mil alunos do ensino médio de Blumenau. A coordenadora de projetos da Junior Achievement no Vale do Itajaí, Rosália Corrêa, diz que o objetivo é que os jovens aprendam conceitos de livre iniciativa, mercado, comercialização e produção de maneira prática. Eles criam a miniempresa, planejam e atuam em todas as áreas.
– Percebemos que ao final do programa, os jovens se tornam alunos mais amadurecidos. Uma grande parte deles descobre talentos e estabelece objetivos mais definidos para suas vidas – defende Rosália.
A arquiteta Luana Rezini, 27 anos, não aprendeu na escola o que sabe hoje na prática como empreendedora. Os ensinamentos vieram de dentro de casa, com o próprio pai, que aos 18 anos abriu uma fábrica de telas ativa. Paralelamente, a família tinha um negócio de portas e janelas, mas com o avanço de outros materiais, como o vidro temperado, o mercado ficou escasso. Surgiu a difícil decisão: ou fechavam a marcenaria ou a filha assumia. Ela assumiu o desafio e agora comanda a empresa de móveis sob medida.
– Foi desafiador, mas quando você quer, você consegue – comemora Luana.
Os números de Blumenau
Em 2017, o Índice de Cidades Empreendedoras, elaborado pela Endeavor, mostrou Blumenau como o 11º município brasileiro com melhores condições para abrir e expandir empresas. Foi o terceiro ano seguido que a cidade melhorou de colocação. Em 2015, ocupava a 20a posição e passou para o 13o lugar em 2016. Os números da Praça do Empreendedor, inaugurada em julho de 2015, demonstram o interesse por empreender na cidade. Os trabalhos têm frutificado. Entre janeiro a julho deste ano foram abertos 2.205 negócios em Blumenau.
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Para a professora e doutora Marianne Hoeltgebaum, que leciona sobre empreendedorismo, o trabalho desenvolvido dentro de sala de aula, o auxílio de instituições e as políticas públicas voltadas à abertura de negócios são fundamentais para tornar a cidade referência no assunto.
Ela reforça a necessidade de a pessoa saber do que gosta e fazer com qualidade e de forma única; entender o problema que o empreendedor quer solucionar com seu produto; quem é realmente o cliente; como chegará até o cliente com os produtos; quanto os clientes querem pagar; quanto tempo levará até a empresa poder pagar todo o investimento inicial:
– Essas são questões fundamentais que devem ser analisadas antes de um novo empreendimento sair do papel.