Está ali, bem perto da prefeitura de Blumenau. Por isso é possível acreditar que o vazamento do hidrante seria consertado logo, mas isso não aconteceu. Quem passa diariamente pela Rua República Argentina, no bairro Ponta Aguda, conta que o pinga-pinga de água potável ocorre há tempos. Há uma semana, Fabricio Silveira Ramos, 42 anos, caminhava pelo local e percebeu a situação. Sensibilizado, resolveu buscar ajuda.
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– Ali até é um vazamento pequeno em comparação com o que se vê por aí, mas não deve ser desprezado. A água engana, vai aos pouquinhos, quando se percebe já foi muito embora – diz o contador.
Segundo o Samae, responsável pelo serviço de saneamento em Blumenau, estima-se que em 2017 30% de tudo o que foi produzido se perdeu em vazamentos como o que Fabricio aponta e também em rompimento de tubulações. Em valores, se considerarmos o gasto do Samae para fazer a água chegar à população, que é de R$ 0,00243, multiplicado pela capacidade anual de produção, esse prejuízo chega a R$ 32,8 milhões por ano.
Para se ter uma ideia, imagine você comprar três garrafas de refrigerante de dois litros e ao chegar em casa simplesmente jogar uma delas fora, mesmo tendo pago pelo produto. No caso da água, quem paga a conta é a autarquia, que precisa arcar com os custos de captação, tratamento e distribuição.
Blumenau tem seis estações de tratamento, capazes de gerar 1,4 mil litros de água por segundo. Se trabalharem na capacidade máxima ao longo de um ano, vão fornecer 44,3 bilhões de litros e um terço disso, algo em torno de 13,5 bilhões, será perdido em situações como a da última quarta-feira, na Rua Francisco Becker, no bairro Água Verde. A tubulação rompeu com a pressão da rede e a água corria pela estrada. As equipes de encanadores que fazem os consertos afirmam que é assim todo dia, o dia inteiro. De janeiro a 20 de novembro deste ano, 1991 ordens de serviço para reparar redes foram emitidas pelo Samae. Em média, são seis por dia.
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Pedidos de reparo cresceram 2,31%
Em números globais, os pedidos de reparo cresceram 2,31% em relação ao mesmo período do ano passado. O trabalho é árduo e leva tempo. Sob o sol que queimava na quarta-feira, estava Giovane Monteiro, um dos 16 profissionais contratados exclusivamente para fazer esses consertos. Chegou ao local por volta das 15h40min e às 16h20min acreditava que ainda seriam preciso pelo menos mais 40min de trabalho para restabelecer o abastecimento.
Redes antigas, que não suportam a pressão da água, feitas com materiais nem sempre da melhor qualidade e em estradas em que o solo não está bem compactado, o que favorece o rompimento quando um veículo mais pesado passa, são os motivos de cerca de 10% dos danos que geram 30% das perdas de água tratada, avalia o engenheiro hidrólogo Ademar Cordero. Os outros 90% ocorrem do hidrômetro para dentro dos imóveis, principalmente por problemas nas ligações das residências com as redes.
– É o tipo mais difícil, porque se demora a perceber o que está acontecendo. O Samae precisa ter controle e averiguar a relação entre o que entrega e o que recebe. O cidadão, por sua vez, pode observar se há vazamento quando o solo está muito úmido – diz o especialista.
O diretor-presidente do Samae, Cleverton João Batista, afirma que a equipe noturna trabalha mais na questão preventiva, para tentar encontrar pontos de vazamento e efetuar os reparos antes que se torne uma situação mais grave. Nas regiões onde o consumo é alto, o serviço é feito à noite por geofone. O equipamento capta ruídos que podem indicar um ponto com perda de água tratada.
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Por mês, Blumenau gasta entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões no reparo de redes. Segundo Batista, o valor engloba mão de obra, equipamentos, peças e reposição da pavimentação. Para a autarquia, um valor normal para uma cidade do tamanho de Blumenau. A taxa de perda também não é vista como preocupante. Cordero diz que a média de perda no Brasil pode chegar a 50%.