Se Napoleão Bernardes (PSDB) chama atenção pelo jeito expansivo e carismático, Mário Hildebrandt (PSB) é um senhor discreto. Duas vezes vereador, presidente da Câmara Municipal, secretário na gestão de João Paulo Kleinübing (DEM) e vice-prefeito eleito em 2016, sempre foi conhecido, a ponto de ser visto como possível nome à Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Mas poucos indicavam que ele chegaria ao principal gabinete da prefeitura. A política é dinâmica e com paciência, um prefeito foi forjado na figura do homem de pequena estatura, cabelos grisalhos e voz calma que assumiu a principal cadeira do Executivo de Blumenau nesta semana.
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Entender o momento de Hildebrandt é parte importante do contexto da renúncia de Napoleão ao cargo de prefeito na última quinta-feira. O tucano não perde a oportunidade de rasgar elogios ao colega de chapa. Transmitiu o cargo aos poucos e deu protagonismo ao companheiro de chapa ao destacá-lo para gerir obras de mobilidade estratégicas para a gestão. Para quem acompanha a trajetória de Hildebrandt, o novo prefeito de Blumenau começou a ser moldado muito tempo atrás.
– A política partidária não estava nele (Mário), as políticas públicas, sim. Eu enxergava nele um administrador, e falta isso na área pública. Ele chegou onde está pelo homem que é – conta Rolf Hartmann, presidente da Cruz Azul no Brasil, responsável por abrir o caminho na área que projetou Hildebrandt, e conselheiro próximo dele.
O Mário do Cerene
Foi aos 25 anos, em 1994, que Mário entrou como voluntário no Centro de Recuperação Nova Esperança (Cerene) de Blumenau. O jovem nascido em Mirim Doce e criado em Taió, filho de pai pedreiro e mãe agricultora, havia recém encerrado a faculdade de Administração na Furb e logo chamou a atenção pela liderança. Rolf, então, o convidou para fazer parte do conselho fiscal da entidade e não demorou para que subisse ao cargo de administrador, onde liderou ONGs da cidade em um momento de atrasos nos repasses de verbas. Foi nessa época, trabalhando e morando no Cerene, que Mário resolveu entrar na faculdade de Assistência Social e focar a carreira na área. Quis o destino, ainda, que na sala da Furb em uma aula de Filosofia, como o único homem em uma turma de 53 mulheres, conhecesse Sueli, a esposa há 17 anos. Com ela, tem duas filhas adotivas – uma de 15 e outra de 17 anos – quatro cães e duas calopsitas.
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Nos anos 2000, como administrador do Cerene, foi então indicado por Hartmann quando o então prefeito João Paulo Kleinübing quis alguém da área para assumir a Secretaria de Assistência Social, em 2005. Começava ali a carreira política.
O Mário da Assistência Social
À frente da secretaria durante o governo JPK, Hildebrandt criou na prefeitura de Blumenau a imagem de trabalhador.
– Ele se dedica 100% a todos os trabalhos que assume – conta a esposa, Sueli.
Segundo ela, a rotina normal é uma tradição: acordar às 4h para fazer exercícios, reunir a família na mesa para tomar café da manhã juntos entre 5h30min e 6h e depois sair para o trabalho. Volta para casa só à noite, mas faz questão de durante o dia ligar para a mulher e as filhas como o pai coruja que é.
E foi nos tempos de secretário que ele teve o desafio que o projetou a voos maiores, ao organizar abrigos para blumenauenses que perderam tudo com a enchente e os deslizamentos há 10 anos.
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– Na tragédia de 2008 ninguém sabia como agir com a situação dos desabrigados. Foi o maior desafio da vida dele e lá ele mostrou a sua capacidade – lembra Genita Lunelli, secretária que o acompanha desde 2005 e, mesmo nos momentos de maior tensão, tem dificuldade em lembrar das vezes em que viu o chefe sair do eixo.
“Até na hora de brigar ele é calmo”, contam os mais próximos no gabinete, em algo que fala muito sobre o perfil de Hildebrandt e que ele levou para o desafio seguinte, ao se eleger vereador e começar o mandato em 2009. Ficou na Câmara Municipal até 2016, onde chegou a ser presidente do Legislativo e se viu no meio da polêmica sobre o Plano Municipal de Educação, quando criou desavenças com grupos da cidade pelo viés religioso. Continuou sendo conhecido pelo trabalho na Assistência Social até ser indicado pelo PSB e entrar como candidato a vice-prefeito na chapa que culminou na reeleição de Napoleão.
– O Mário é um gestor incansável e o vejo como uma revelação política, mesmo que tardia. O trabalho dele como secretário, vereador e vice-prefeito o trouxe até aqui – diz Júlio César Pereira, presidente do PSB em Blumenau e autor do convite que levou Mário do PSD para o partido atual.
O Mário prefeito
A chapa de 2016 foi montada pensando em um vice presente e atuante, que teria o domínio político para o cargo principal mesmo que a eleição de 2018 não pedisse uma renúncia. É por isso que, mesmo tão diferente de Napoleão em seu estilo pessoal, Mário é visto pelos aliados com confiança para um mandato de continuidade, mas com liberdade para trazer suas marcas. Forjado pelos tempos de ONG, da secretaria de Assistência Social, da Câmara de Vereadores e como vice-prefeito para ser protagonista.
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Perfil
· 49 anos
· Formado em Administração e Assistência Social pela Furb, pós-graduado em Ciências Contábeis pela FGV
· Conselheiro Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente de Santa Catarina em 2003
· Secretário Municipal da Assistência Social, da Criança e do Adolescente de 2005 até 2012
· Presidente da Fundação Pró-Família de Blumenau de agosto de 2006 até 2008
· Vereador em Blumenau nos mandatos 2009/2012 e 2013/2016
· Presidente da Câmara Municipal de Vereadores 2015/2016