A agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA) alertou, nesta quarta-feira (17), que atravessa sua “crise financeira mais grave”, após o anúncio dos Estados Unidos de bloquear dezenas de milhões de dólares de sua contribuição, uma medida que os líderes palestinos classificaram como cruel e partidista.

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A agência, criada em 1949, fornece ajuda a uma grande parte dos mais de 5 milhões de palestinos registrados como refugiados nos Territórios Palestinos, Jordânia, Líbano e Síria, sobreviventes ou descendentes dos milhares de palestinos expulsos na primeira guerra árabe-israelense, em 1948.

O Departamento de Estado americano anunciou nesta terça-feira que estava agendando até novas ordens o pagamento de 65 milhões de dólares para a UNRWA, dos 125 milhões da contribuição voluntária de Washington para a agência.

O governo de Trump mantém uma guerra há meses com a ONU sobre o uso de contribuições dos Estados Unidos e exige uma revisão “aprofundada” da gestão e do financiamento da UNRWA, da qual foi o principal provedor de fundos em 2017, com 350 milhões de dólares.

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“Os Estados Unidos anunciaram que contribuiriam 60 milhões de dólares para o orçamento do programa”, disse Chris Gunness, porta-voz da UNRWA.

“A redução drástica dessa contribuição implica a crise financeira mais séria da história da agência”, afirmou.

Várias autoridades palestinas reagiram com virulência ao que consideram outra medida da administração de Washington contra eles, depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reconheceu Jerusalém como a capital de Israel.

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Hanan Ashrawi, alta dirigente da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), denunciou a “crueldade” em relação à “população inocente e vulnerável”.

O enviado palestino em Washington, Husam Zomlot, disse que “o acesso a serviços humanitários básicos, como alimentação, saúde e educação para refugiados e crianças palestinas não é um elemento de negociação, mas uma obrigação internacional e dos Estados Unidos”.

Cerca de 500 pessoas protestaram na Faixa de Gaza nesta quarta-feira após o anúncio do bloqueio dos fundos.

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– ‘Pagamentos maciços’ –

Trump desencadeou a indignação dos palestinos depois de tuitar, em 2 de janeiro, que os Estados Unidos pagaram “centenas de milhões de dólares por ano, sem obter reconhecimento ou respeito”.

Por que os Estados Unidos devem continuar com esses “pagamentos maciços” enquanto os palestinos se recusam a negociar?, questionou.

Washington negou o uso da UNRWA para pressionar o presidente palestino, Mahmud Abbas.

Os 65 milhões de dólares “estão congelados neste momento, não foram cancelados”, garantiu a porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert.

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Para desbloquear o segundo pagamento, será necessário fazer “reformas comprometidas” para “fazer que se gaste melhor o dinheiro”, disse.

O chefe da UNRWA, Pierre Krahenbuhl, expressou sua preocupação e pediu ajuda aos outros membros da ONU.

“O que está em jogo é o acesso de 525 mil meninos e meninas a 700 escolas da UNRWA”, bem como a todas as formas de ajuda urgente para milhões de pessoas e seu acesso aos serviços, disse ele.

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Já o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, aplaudiu a nova medida dos Estados Unidos.

A UNRWA “perpetua, há 70 anos, a situação dos refugiados palestinos e a narração a favor do desaparecimento do sionismo”, disse ele da Índia, onde está em uma viagem oficial, segundo a imprensa israelense. “Esta é a primeira vez que tudo isso foi questionado”, acrescentou.

* AFP