Em entrevista a Zero Hora, por telefone, na tarde desta quinta-feira, a blogueira cubana Yoani Sánchez agradeceu o visto recebido pelo Itamaraty para viajar ao Brasil. Ainda assim, o documento não é a garantia de que ela possa sair de Cuba. Yoani já teve pelo menos 18 pedidos para deixar o país negados pelo governo nos últimos anos. Leia a seguir os principais trechos da entrevista de Yoani a ZH:

Continua depois da publicidade

Zero Hora: O que você pensa que vai acontecer agora, com o visto para viajar ao Brasil?

Yoani Sánchez: Por um lado, tenho algumas esperanças, porque o Brasil me deu o visto, e o governo está fazendo gestões para interceder por mim. Por outro lado, estou um pouco pessimista. Em Cuba, estamos vivendo dias de muita radicalização do discurso oficial após a morte do ativista Wilmar Villar Mendoza. O governo deu declarações muito fortes e com muita violência verbal contra todos que informaram o mundo sobre o que ocorreu. Tenho a impressão de que estamos justamente em um ponto em que o discurso é muito defensivo, as autoridades estão tratando de mostrar, outra vez, a ideia de Cuba como uma praça sitiada, que todos querem atacar. Talvez não seja o momento mais oportuno para Raúl Castro fazer um gesto de concessão. Esses são os elementos que me deixam um pouco pessimista.

ZH: A concessão do visto é um bom sinal?

Yoani: A concessão do visto é um bom sinal, mas eu vivi situações como a de agora. Tenho um passaporte cheio de vistos. Cada vez que me outorgaram um desses vistos, pensava que era um bom sinal, mas, ao final, o governo cubano nunca me deu permissão para viajar. Estou feliz pelo visto e agradecida, mas o visto é o menor problema que tenho para sair de meu país.

Continua depois da publicidade

ZH: Você pensa que pode haver uma mudança na postura diplomática do Brasil em relação a Cuba?

Yoani: O povo cubano lembra das declarações infelizes de Lula, comparando Orlando Zapata Tamayo a delinquentes comuns. Quem sabe a presidente Dilma Rousseff quer reparar isso e tomar um caminho mais crítico aos direitos humanos e mais próximo à cidadania. Espero que sua agenda política em Cuba não seja apenas para o palácio de governo, chancelaria e de agenda econômica para saber como está a construção do porto. Adoraria saber que na pauta esteja incluída a cidadania, que ela quer escutar ativistas e se reunirá com eles. Seria muito bom escutar isso.

ZH: Você acredita que o governo brasileiro esteja utilizando seu caso para diminuir a pressão sobre o governo brasileiro às vésperas da visita de Dilma a Cuba?

Yoani: Realmente, é muito difícil usar meu caso. Sou uma pessoa que fala por voz própria. E, se consigo sair, vou dizer no Brasil as opiniões diretas e claras que tenho sobre meu governo. Não me podem usar politicamente, porque vou me comportar com a mesma liberdade de expressão que utilizo em meu país, apesar da repressão. Se eu sair, vai ser não apenas pela intervenção de Dilma Rousseff, mas pelas milhares de pessoas que têm pedido, nos últimos anos, para que eu possa sair de Cuba. É um trabalho em equipe, de milhares de pessoas em todo o planeta.