O desabamento de duas pontes e a interdição de outras duas em menos de três meses na mesma cidade chama a atenção. Mas, afinal, por que as pontes de Brusque ruíram? Quais problemas levaram ao bloqueio das estruturas?

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Nesta segunda-feira (9) completam-se dois meses que a última situação ocorreu e o Santa convidou o engenheiro civil Luiz Carlos Gulias Cabral para avaliar as condições de algumas estruturas da cidade.

A conclusão do especialista e ex-professor de Estruturas de Concreto Armado e Pontes da Furb é enfática: todas precisam de algum tipo de manutenção. 

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A prefeitura sabe do problema. Não à toa tratou de lançar licitação para ter uma análise técnica da extensão dos danos. As empresas interessadas em prestar o serviço deveriam ter sido conhecidas na última terça-feira (3), mas ninguém manifestou interesse no processo. Agora o município vai relançar a licitação e torcer para que apareçam interessadas no dia 30 de agosto.

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Até lá, o especialista consultado pela reportagem descreve o que viu nas pontes visitadas na cidade de Brusque. Segundo ele, em alguns casos, há falhas que poderiam ter sido reparadas durante a fiscalização da obra enquanto em outra ele diz que simplesmente foi malfeita. Não são problemas que podem levar ao desabamento imediato das pontes, mas que ao longo do tempo sem os reparos adequados ficam comprometidas. 

— As anomalias que a gente percebe nessas pontes são, na maioria, vícios construtivos, seja de concretagem, de cobrimento de armadura e também de formas que se deslocaram. Isso não seria tão problemático se houvesse manutenção periódica. Problemas instalados nesta fase provocam o aparecimento de patologias que agravam problemas de segurança no médio e longo prazo — diz o engenheiro. 

“Blitz” nas pontes

O Santa esteve em algumas estruturas ao lado do engenheiro, que avaliou a situação de cada uma. Confira:

Ponte da Rua Olímpio Garoto

Rua Olímpio Garoto
Rua Olímpio Garoto (Foto: Patrick Rodrigues)

Mesmo sendo uma estrutura relativamente nova, as vigas apresentam fissuras. Apesar das falhas estarem nas diferentes peças, todas estão no mesmo sentido da ponte. Segundo o engenheiro, seria possível analisar a resistência do concreto e intervir com injeção de resina para evitar futuras rachaduras.

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Ponte da Avenida Bepe Rosa

Avenida Bepe Rosa
Avenida Bepe Rosa (Foto: Patrick Rodrigues)

Algumas ferragens da ponte já estão à mostra. O especialista explica que o recomendado é ao menos três centímetros de concreto cobrindo a armadura. É que quanto exposta, a ferragem oxida e expande rompendo o concreto. A corrosão de armaduras é um dos fatores que levam a queda de pontes. Em primeiro lugar está o problema com fundação. 

Ponte dos Bombeiros

Ponte dos bombeiros
Ponte dos bombeiros (Foto: Patrick Rodrigues)

A tinta nova faz passar despercebido, mas as armaduras da ponte antiga estão expostas na altura que as estruturas novas e antigas se encontram. Na análise de Cabral, o mais indicado era a restauração durante a construção da parte nova. Isso porque é preciso retirar todo o material deteriorado, aplicar anticorrosivo e concretar novamente.

Ponte da Avenida Hugo Schlosser

Avenida Hugo Schlosser
Avenida Hugo Schlosser (Foto: Patrick Rodrigues)

Os problemas se repetem. Há falhas de concretagem corrosão de armadura e sinais de comprometimento do concreto. Para o especialistas, muitos problemas estruturais como os observados poderiam ser corrigidos com fiscalização na execução da obra e manutenção periódica. Isso evitaria o encarecimento das ações de recuperação, como as que devem ocorrer agora em Brusque.

Ponte da Rua Henrique Deichmann

No bairro Guarani, é a última ponte observada pelo engenheiro Cabral e apresenta a situação mais crítica. Ela está na lista da prefeitura para avaliação técnica e definição de obras de restauração. Para o engenheiro, trata-se de uma obra simplesmente malfeita. 

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Apresenta falhas de escoramento que causaram irregularidades na parte inferior da ponte, a estrutura tem grandes falhas na concretagem com furos que permitem a oxidação das ferragens. Onde a armação não ficou exposta com o tempo, o poder público furou para passar barras de ferro. 

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Veja a lista de pontes comprometidas de Brusque:

Ponte João Liberio Benvenutti, no bairro Santa Terezinha, caiu na noite de 21 de abril. Em 1999 já tinha apresentado problemas na fundação e precisou ser reparada. O laudo sobre o que motivou a mais recente queda ainda não foi divulgado pelo município. Agora a nova estrutura está em fase finalização e deve ser entregue à comunidade até 15 de setembro.

Ponte Prefeito Antônio Heil, no bairro Guarani, caiu na manhã do dia 9 de junho, quando uma senhora foi “engolida” pela estrutura ruindo. O projeto está pronto, segundo a prefeitura, e depende de convênio com o governo do Estado para liberação de dinheiro e então começar a construção da nova ponte. De acordo com a prefeitura, um laudo da Defesa Civil aponta que a queda teve relação com a enxurrada que antecedeu o desabamento. 

Ponte Antônio Mohr, entre os bairros Santa Terezinha e Limoeiro, foi interditada em 9 de julho e demolida pela prefeitura por risco de desabamento. A prefeitura detectou fissuras nos pilares da cabeceira e uma nova ponte deve ser construída, mas depende ainda da conclusão do projeto executivo — em andamento — e definição de recursos.

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Ponte DJ003, bairro Dom Joaquim, teve o fluxo reduzido. Caminhões, ônibus e veículos com mais de 2,3 metros de altura não podem passar desde 13 de julho. Segundo a prefeitura, a estrutura passa por reparos desde 2013 em virtude de problemas nas cabeceiras. A ponte deve ser demolida. A prefeitura está em busca de profissional habilitado para elaboração do projeto.

Trânsito

— A gente ainda tem transtornos nos horários de pico, que é quando acumula muito trânsito na Ponte do Trabalhador, que é a opção de cruzamento da cidade por causa da interdição da ponte do Santa Terezinha. As outras está bem tranquilo — afirma Renato Bianchi, diretor de Trânsito.

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