A combinação entre um consumidor cauteloso por conta dos altos juros e do crédito limitado, do varejo mais conservador com descontos e promoções, e da indústria sem excedentes de produção levou a uma Black Friday morna nesta sexta-feira (25).

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A data mais importante para as vendas do varejo, que há anos passou à frente do Natal, foi ofuscada em parte pelo interesse na Copa do Mundo 2022, cuja estreia calhou na mesma semana. O que se viu foi uma procura maior por itens eletrônicos, como smartphones e TVs, assim como produtos de menor tíquete médio, como camisetas da seleção brasileira e tênis. Mas longe de ser uma corrida.

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Pesquisa da Neotrust, empresa de inteligência que monitora o ecommerce brasileiro, em parceria com a ClearSale, especialista em inteligência de dados, aponta que a Black Friday fechou o dia com o faturamento em mais de R$ 3,1 bilhões -valor 34,18% menor que no mesmo período do ano passado.

O número envolve mais de 4,7 milhões de pedidos, cerca de 28,24% menor do que em 2021. O levantamento considera o período de vendas da meia-noite às 19h desta sexta (25).

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Segundo o site Reclame Aqui, pelo menos 90% dos consumidores fizeram compras on-line nesta edição.

— Não foi uma Black Friday eufórica — afirma o especialista em varejo Alberto Serrentino, sócio da Varese Retail. Segundo ele, o calendário deste ano ficou um pouco confuso com da sobreposição da Copa, o que era preocupação para boa parte do varejo:

— Mas não acredito que isso tenha afetado negativamente a Black Friday, porque trouxe uma demanda concentrada em áudio e vídeo e esportes.

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Já na opinião de Edu Neves, presidente do site brasileiro de queixas Reclame Aqui, a Copa, em vez de ajudar, atrapalhou. 

— O jogo do Brasil fez o acesso ao site cair 80% durante a partida. Ao final, o fluxo voltou 20% inferior — diz ele, que também considera, no entanto, que o varejo não conseguiu oferecer descontos atraentes.

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Para Serrentino, a demanda foi limitada pelo atual cenário de inflação, aumento de juros e aperto de crédito. 

— Desde o início do ano, o varejo tem sido conservador na gestão dos estoques, uma vez que estoque em excesso indica alto custo financeiro. Ao mesmo tempo, vem calibrando as promoções, tentando encontrar um ponto de equilíbrio entre crescimento das vendas e lucratividade.

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As vendas on-line arrefeceram neste ano, lembra, porque as empresas estão muito menos agressivas em políticas de frete, desconto e parcelamento. 

— As empresas não estão buscando venda a qualquer preço.

Quanto à indústria, que sempre foi “financiadora” da Black Friday, há ainda um resquício da pandemia, uma vez que as cadeias globais de abastecimento não estão completamente ajustadas, diz Serrentino.

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Embora destaque que a data continua importante para o varejo, uma vez que abre a temporada de compras de fim de ano, Serrentino aposta em uma Black Friday apenas “razoável”. 

— Os sinais gerais que eu tenho visto são de vendas próximas ou inferiores a 2021.

Reportagem por Daniele Madureira e Daniela Arcanjo