No dia em que Joseph Alois Ratzinger, o papa Bento 16, renuncia oficialmente ao mais alto cargo da Igreja Católica, bispos e arcebispos de Santa Catarina analisam, com pontos de vista diferentes, o significado deste momento. Bento entra em reclusão. Começa agora os trâmites para a escolha de um novo líder católico.
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Apesar de verem por pontos de vista únicos, bispos e arcebispos entraram num consenso quanto à atitude de Ratzinger: todos acreditam que foi uma atitude de humildade e de coragem. Mas quando se trata do futuro, as opiniões se dividem.
Há quem acredite que vai ser uma oportunidade da Igreja mudar, de se abrir. Para outro, é a vez de levar as crenças para mais lugares e convidar os católicos para acreditarem com mais afinco em Deus. Também há convicção de que a Igreja continuará como está e que pouco será alterado com um novo nome no comando.
Dom Irineu Roque Scherer, bispo de Joinville
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Foto: Fabrizio Motta
Eu acho que o primeiro impacto já passou. Agora é tempo de refletir. O povo católico está com o papa. O povo se colocou na pele dele. Todos avaliam a postura como sensata, muito lógica. Ao mesmo tempo, o povo tem dito que o gesto foi de muita humildade. Ele poderia ter ficado até o fim no poder papal.
O papa Bento 16 deixa um legado de fidelidade de Deus e dos homens. Que lutou pela vida dos mais simples, dos mais humildes. Foi ao encontro de outras religiões e combateu os males do mundo e dentro da igreja. Daqui a algumas horas o papa vai entrar na sua vida de reclusão.
O novo papa vai ter que abraçar a causa da igreja. Claro que não vai precisar resolver tudo de uma hora para outra. Mas vai precisar de energia e empenho para as reformas necessárias. Muita coisa do Concílio Vaticano II ainda não foi colocada em prática. A Igreja está muito cansada no Velho Continente.
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O conteúdo da Igreja, o Evangelho, não vai mudar. O que precisa mudar é o espírito da população. O papa terá que conseguir suscitar no povo esse renovar.
Dom Manoel João Francisco, bispo de Chapecó
Foto: Raquel Heidrich
Essa renúncia foi anunciada no dia 11 de fevereiro. Naquele primeiro momento foi uma surpresa total. Mas era possível. O direito canônico prevê essa renúncia. Mas não se esperava. Foi uma surpresa. Nestes dias, as pessoas foram se adequando à ideia. Percebendo que é um ato de coragem do papa, ao mesmo tempo realista.
O papa tem consciência que tem fragilidade física e de ânimo diante das responsabilidades que são enormes. Não tem mais força física e emocional para enfrentar. Reconheceu humildemente e teve desapego ao poder. Qualquer ser humano tem desejo de poder.
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Estamos consciente que nossa Igreja é uma barca que cinge por mares procelosos. A gente começou a ter consciência de que apesar disso é obra de Deus. A igreja já passou por crises maiores do que esta. A Igreja que está passando por dificuldade é obra de Deus e Deus vai protegê-la. A dificuldade é a pluralidade do mundo. Pluralidade exige muito. A Igreja precisa pregar a crença e respeitar a opinião de todo mundo.
Dom Wilson Tadeu Jönck – arcebispo da Arquidiocese de Florianópolis
Foto: Maurício Vieira
É um momento história. Nunca houve uma renúncia desta forma na história e haverá desdobramentos. Esperamos desdobramentos bons. É um momento histórico e que nos alegra pelo desprendimento e pela humildade em torno dessa decisão. Isso vem a favor da Igreja. Ele (Papa) renunciou o poder que tem. É um grande exemplo.
A vida da Igreja continua. De imediato, tem esse tempo de vacância. Esse tempo será agora. Depois não vejo grandes mudanças. Muda na organização se outro papa renunciar. Tenho certeza de que será um homem espiritualizado. Mas acho que não terá grandes mudanças.
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A vinda de outro dá um novo vigor para a Igreja. Agora é a reunião de todos para que se faça a escolha do novo papa. É o crescimento da Igreja e da sociedade no mundo todo.
Dom Murilo Krieger, Arcebispo de Salvador e nascido em Santa Catarina
Foto: Alvarélio Kurossu
Neste dia 28 de fevereiro de 2013, tenho consciência de estar vivendo um dia histórico. No futuro, esse dia será sempre uma referência quando se falar da Igreja e, particularmente, de seus papas. Acredito que toda a sociedade se lembrará desde dia, sempre que estiver diante de alguém que tem o poder e não quer deixá-lo. Bento 16 nos ensinou que o poder tem sentido quando visto como um serviço – não, pois, como uma honra ou como expressão da vaidade pessoal.
Sou grato ao Papa emérito Bento 16 pelo serviço que prestou à Igreja, desde sua eleição à Cátedra de Pedro. Com solicitude incomum, cumpriu a missão recebida de Jesus Cristo.
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Conclamo os católicos a se concentrarem naquilo que é essencial: rezar pelo Papa Bento 16; rezar para que o Espírito Santo ilumine o Colégio de Cardeais; rezar pelo futuro papa. Somos conduzidos por uma certeza: o destino da barca de Pedro está nas mãos de Deus.