Nas últimas semanas, o nome da companhia francesa de vanguarda Théâtre du Soleil ganhou destaque na agenda cultural brasileira. Pela primeira vez, a consagrada diretora Ariane Mnouchkine e sua trupe encenaram Os Náufragos da Louca Esperança em São Paulo. Em Porto Alegre, o espetáculo chega em dezembro, dentro da programação estendida do 18º Porto Alegre Em Cena.
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Para quem pretende ver a peça ou simplesmente se interessa pelo trabalho do grupo, consagrado em todo o mundo e já apresentado em Porto Alegre com o espetáculo Les Éphémères, acaba de chegar às livrarias A Arte do Presente. O volume reúne uma série de entrevistas feitas com Ariane pela autora do livro, a crítica teatral Fabienne Pascaud. Pelas palavras da mentora da companhia, o livro recria os primeiros passos do Théâtre du Soleil e mostra o que fez dele um sucesso mundial.
Filha de pai russo e mãe inglesa, Ariane Mnouchkine nasceu em Paris, em 1939. Seu pai, Alexandre Mnouchkine, era produtor de cinema. Na publicação, a diretora lembra dos sets onde esteve ao lado dele.
– Lembro-me especialmente da filmagem de A Águia de Duas Cabeças, de Jean Cocteau. Eu tinha 8 anos. Fiquei maravilhada com a última cena – revela.
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Ainda assim, Ariane diz que nunca teve vontade de trabalhar diretamente com cinema. A relação com o teatro começou durante um período em que ela esteve na Inglaterra, estudando na universidade de Oxford. Foi ali que o teatro universitário conquistou seu coração.
– Pronto, é isso! ê isso a minha vida – recorda-se.
De volta à França, estudou psicologia em Sorbonne e fundou a Associação Teatral dos Estudantes de Paris, ao lado de colegas. Em maio de 1964, nasceu o Théâtre du Soleil. Ariane tinha 25 anos.
A primeira montagem do grupo foi Os Pequenos Burgueses, de Górki, que obteve um certo reconhecimento local. Para dirigir a peça, Ariane conta que fazia a marcação dos atores com soldadinhos de chumbo em uma maquete. Àquela época, os intérpretes mais experientes ainda implicavam com o jeito dela trabalhar.
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Uma das explicações para o êxito do Théâtre du Soleil deve estar na paixão da mestra, que nas passagens do livro fala, encantada, sobre os espetáculos, nos quais diz sempre notar algo novo. Em um dos encontros com a autora de A Arte do Presente, Ariane garante:
– O teatro pode contar tudo! Nós é que nem sempre sabemos fazê-lo.
Humilde, como os sábios são.