Nos primeiros 105 dias do ano, o município de Biguaçu registrou 108 roubos. É mais de um assalto, quando alguém é vítima de violência ou intimidado por uma arma de fogo ou branca, por dia. Uma das últimas ocorrências de repercussão aconteceu segunda-feira, às 12h15min, quando uma professora foi assaltada em frente a uma creche, no bairro Fundos, que é uma das localidades preferidas dos criminosos.

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A educadora, de 48 anos, chegou ao centro de educação infantil e estacionou o seu veículo na Rua João Paulo. Após fechar o carro, dois homens se aproximaram e anunciaram o roubo apontando uma arma de fogo. Eles levaram a bolsa e o veículo Sandero, de cor vermelha.

Traumatizada com a criminalidade, a professora ainda não conseguiu retornar à creche. Ela é apenas uma das dezenas de vítimas que estão mudando a rotina em virtude do aumento da violência.

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O mesmo aconteceu com uma autônoma, de 36 anos, que foi assaltada quando caminhava para o ponto de ônibus, às 5h22min, na Rua Governador Pedro Ivo Campos, também no bairro Fundos.

— Estava indo para o trabalho com a minha comadre, quando um casal de motoqueiros parou ao lado pedindo informações. O homem não perdeu tempo e anunciou o assalto. Ele agarrou a minha bolsa e ainda lutei para não perder os meus documentos, mas ele me arrastou por alguns metros — lembrou.

Agora, ela pega outra linha de ônibus, que demora mais tempo para chegar ao seu local de trabalho, por medo. A mulher tentou registrar o boletim de ocorrência em Biguaçu, mas a delegacia estava fechada. A estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é de que a cidade tinha 64.488 moradores, em 2015.

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Loja furtada pela segunda vez neste ano

Durante a produção da matéria, a reportagem circulou pelo bairro Fundos por mais de uma hora e não encontrou viaturas da Polícia Militar. Em compensação, havia um carro do Instituto Geral de Perícias (IGP) realizando o levantamento de mais um arrombamento na madrugada de quinta-feira. A vítima da vez foi o comerciante Valmor Mattei, 65 anos, que teve a loja furtada pela segunda vez desde janeiro.

— Todos os dias recebemos histórias de alguém que foi assaltado ou furtado aqui no bairro Fundos. A polícia precisa investigar quem compra essas mercadorias roubadas, porque assim chegará na autoria dos crimes. Eu estou dormindo alguns dias na loja, mas é impossível ficar aqui 24 horas por dia — desabafou o comerciante.

Para entrar na loja, os criminosos abriram uma porta de vidro, um portão gradeado com cadeados, e ainda estouraram uma tranca de veículo, que ele utiliza para reforçar o portão com as grades. Ele informou que perdeu R$ 15 mil em mercadorias na Rua Júlio Teodoro Martins.

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“Minha segurança é só em Deus”

Também na Rua Júlio Teodoro Martins, a comerciante Sidalva Lima Siqueira, de 33 anos, foi vítima de uma tentativa de assalto e outra de furto. Para evitar o pior, ela reduziu o horário de atendimento em sua boutique. O problema é que essas ocorrências não entraram nas estatísticas, porque ela não fez os boletins de ocorrência.

— Minha segurança é só em Deus. Há dois anos realizei o meu sonho de abrir o meu próprio negócio e me programei para trabalhar até um determinado horário, mas quando escurece não dá para ficar na loja. Fico somente quando tem cliente, caso contrário é mais seguro ir para casa — lamentou.

Em 2015, um homem entrou armado, mas acabou fugindo sem levar nada com uma mulher em uma Biz. Em janeiro deste ano, os criminosos forçaram a tranca, mas desistiram novamente.

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Investigação para identificar suspeitos

Trabalhando sozinho para atender as ocorrências nas cidades de Biguaçu, Governador Celso Ramos e Antônio Carlos, o delegado Alan Amorim esclarece que nem todos os boletins de ocorrências registrados na cidade são de ocorrências na região. Ele usou como exemplo a história da autônoma, roubada em Biguaçu, mas que fez o registro em Florianópolis.

— Na semana passada prendemos dois motoqueiros que realizaram um roubo e foram detidos na Caixa Econômica Federal. Estamos priorizando esse motoqueiros que ficam circulando pelo município assaltando as pessoas nas ruas. Além disso, estamos aguardando o mandado de prisão de três pessoas que foram identificadas por roubos a residências — informou o delegado.

Com pilhas de inquéritos policiais em sua mesa, Alan Amorim não consegue sair da sua sala para quase nada.

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Ele precisa fazer dezenas de relatórios para encaminhar os 225 inquéritos instaurados na comarca neste ano. Além de contar apenas com um delegado, a DP de Biguaçu tem somente dois investigadores e dois plantonistas por dia.

Já o 24º Batalhão de Polícia Militar de Biguaçu, atualmente comandado pelo tenente coronel Renato Moacir Bento, informou que até 31 de março ocorreram 163 prisões no município, sendo 47 delas no mês de janeiro, 56 em fevereiro e 60 em março. O setor de inteligência esclarece, porém, que nesse primeiro trimestre do ano, 83% dos presos em flagrante pela PM de Biguaçu já foram soltos pelo judiciário.

Em nota assinada pelo segundo tenente Eduardo Antonio Schwarz, a PM esclarece que “o setor responsável pelo planejamento das operações o faz com base em estáticas, avaliando local, horário e registro de ocorrências, dando maior ênfase aquelas áreas com maiores índices de criminalidade”. Salienta ainda que “todos os dias são montadas barreiras no município, as quais são feitas através da instalação de postos de checagem fixos ou móveis em vias públicas pré-determinadas, considerando incidência de ocorrências policiais”. O Batalhão admite que o efetivo não é o ideal, mas finaliza informando que “tem se esforçado ao máximo para preservar a segurança pública no município”.

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Os números

Crimes em Biguaçu*

Roubos de veículos – 10

Roubos a transeuntes – 86

Roubos a comércios – 12

Furtos de veículos – 39

Furtos em residências – 109

Furtos em comércios – 29

Furtos de celular – 14

* Boletins de ocorrências registrados de 1º de janeiro até as 16h de 14 de abril de 2016

Inquéritos policiais abertos na comarca em 2016

Biguaçu – 181

Governador Celso Ramos – 28

Antônio Carlos – 16