Para os ciclistas, começar o dia pedalando, com o vento no rosto e a liberdade de locomoção, pode melhorar o humor e a disposição no trabalho. Entretanto, o caminho pode ser tortuoso. A descontinuidade das ciclofaixas, alta velocidade dos veículos, ausência de transporte intermodal e a falta de segurança ainda são entraves para quem quer pedalar na Cidade das Bicicletas.
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Confira página especial do projeto Joinville que Queremos
Quando o preço da passagem de ônibus subiu em 2011, a bicicleta tornou-se o principal meio de transporte da designer gráfica Renata Cardamoni, 26 anos. Na época recém-formada, recebeu apoio da ONG onde trabalhava, numa distância de cinco quilômetros de casa. Desde então, ela passou a ir a todos os lugares de bike até mesmo os que exigem roupa social – é só levar tudo na bolsa e se trocar.
Renata afirma que, diferentemente de São Paulo, onde morou anteriormente, Joinville é uma cidade plana e, portanto, favorável às pedaladas. Nas duas cidades, as populações estão presas ao trânsito, por isso o desejo de andar de bicicleta tem aumentado.
– Os ciclistas dão muito mais valor à alimentação, pois sentem que o corpo precisa de combustível. E a bicicleta proporciona uma liberdade incrível. Você vê as coisas de outro ângulo, fica mais próximo da natureza e altera sua percepção de tempo – afirma Renata.
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Mais força corporal e menos estresse são as primeiras sensações de quem começa a usar a bicicleta como principal meio de transporte. A estudante Amanda Silva, 20 anos, trocou o cansaço dos ônibus lotados e do trânsito parado pela disposição de ir de bicicleta ao trabalho.
– Vi que é mais eficiente. Vou mais rápido e mais feliz de bicicleta. O meu trajeto para o trabalho, mesmo sendo longos 10 km, era feito mais rapidamente de bike do que de ônibus. Existem pesquisas que comprovam que quem vai de bicicleta ou a pé para o trabalho tem menor índice de estresse. Parece óbvio, todo mundo fica estressado parado no trânsito, e de bike você está sempre em movimento – diz.
A transição dos motorizados para a magrela foi durante um intercâmbio fora do País, numa cidade pequena e plana. Quando voltou a Joinville, decidiu continuar com a rotina. Embora agora Amanda trabalhe na BR-101, a 30 km de casa, ela usa a bicicleta para ir ao mercado, ao cinema e, às vezes, até para a balada.
De brincadeira a transporte
Além de ser um transporte alternativo, a bicicleta pode trazer lembranças prazerosas da infância. Com a raquete ou o violão nas costas, a consultora de arte Gabriela Carneiro de Loyola, 55 anos, pedalou muito desde menina, quando ia às aulas complementares ou brincava com as amigas. Mais tarde, carregou o filho caçula em passeios pelo bairro. Hoje, mais insegura devido à alta velocidade das vias e a falta de respeito ao ciclista, ela prefere usá-la somente para ir ao lugares mais próximos de casa.
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– Vejo a bicicleta como uma preciosa singularidade do passado da cidade que infelizmente permitimos se perder, como a ligação com as flores. É preciso compreender nossa nova identidade, quem sabe reconstruí-la, e dispor de um novo planejamento urbano. Optamos pelo modelo brasileiro falido e agora entramos na moda das ciclovias – diz.
Segundo Gabriela, para que mais pessoas troquem veículos motorizados pela bicicleta, é preciso promover a conscientização. Não somente sobre os benefícios para a saúde e o ambiente, mas principalmente por meio de políticas públicas e planejamento urbano que respeitem a cultura e as características da cidade.
Ciclistas unidas pelo pedalar com segurança
As ruas lotadas de carros e ônibus que não suprem a demanda do fluxo de pessoa fazem a estudante Mariana Bini Leite, 21 anos, acreditar na bicicleta como um meio de transporte saudável para ela e viável para o meio ambiente.
Contudo, esse ainda é um transporte vulnerável – seja pela alta velocidade dos carros, seja pela violência acometida principalmente contra as mulheres ciclistas. Para combater esse assédio, elas têm se organizado para perder o medo de sair sozinhas.
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Assim, surgiu o grupo Mariazica, um grupo de ciclismo urbano, de caráter feminista, que busca tornar essa prática mais confortável para as mulheres. Para isso, elas praticam a troca de experiências – como manutenção de equipamentos e quais ruas evitar, por exemplo, e debates sobre o plano cicloviário de Joinville.
– Ser ciclista em Joinville não é fácil. Ouvir buzinaços e demais assédios a todo momento – destaca Mariana.
Por ser eficiente, independente, de baixo custo e bom para a saúde, a hoteleira Layane Guedes, 22 anos, considera a bike o melhor meio de transporte. Ela começou a pedalar há três anos, quando se mudou para Joinville.
Entretanto, Layane, integrante do grupo, reconhece que está sujeita a acidentes todos os dias. Para ela, muitos motoristas enxergam os ciclistas como um problema e por isso não respeitam a distância de 1,5 metro e pedalar na calçada pode causar acidentes com os pedestres. No Mariazica, Layane encontrou mulheres com vivências semelhantes.
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– Sempre que estamos reunidas, me sinto forte e feliz em saber que há uma paixão em comum que nos move a fazer esses encontros – conta Layane.