Esqueça aquela imagem de uma biblioteca totalmente silenciosa, sem um ruído sequer, com um responsável austero e em um ambiente aparentemente hostil. Em Porto Belo este é o exato oposto do que foi planejado e executado na nova Biblioteca Municipal Donato Ananias D¿Almeida, que tem muita luz entrando pelas grandes janelas, acervo renovado e um espaço dedicado exclusivamente às crianças, com livros infantis e uma programação intensa de visitas dos pequenos.
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Inaugurado em 1977, o espaço sofria com o desgaste provocado pelo tempo e a falta de manutenção. A infiltração e as goteiras no telhado danificavam os livros e o ambiente só afastava o possíveis frequentadores. Para ganhar uma nova vida, foi fechado em janeiro e só reabriu há cerca de um mês e meio, de cara nova e pronto para receber a comunidade. A equipe foi reformulada e hoje é composta por profissionais especializados em educação e gestão de bibliotecas e que promovem ações para manter a frequência de visitantes e usuários. Uma das atividades mais procuradas é a contação de histórias. Turmas escolares de unidades da região passam ao menos uma hora por semana no local ouvindo as narrações feitas pela pedagoga e responsável pela biblioteca Janaira Reis. Para fazer com que as crianças se encantem ainda mais pelos relatos, ela encarna os personagens.
— Esta é uma maneira de trazer essa geração tão conectada para o mundo dos livros, e para conseguir isso nós sempre procuramos valorizar as obras que temos temos na biblioteca — explica ela logo depois de uma sessão com alunos de uma escola da cidade.
As apresentações são abertas e a comunidade também pode acompanhar. Era o que faziam a professora de ioga Paula Lemos de Almeida, 36 anos, e o filhinho Cauã Almeida Rodrigues, um ano, ontem de manhã. A família se mudou de São Paulo para o litoral catarinense no final de 2016, mas só há pouco tempo descobriu que a biblioteca estava aberta para a comunidade.
— Na verdade foi o Cauã que descobriu. Como ele está andando agora e tudo é novo, ele viu e foi entrando, e foi aí que encontramos. A gente vem bastante e está conhecendo o espaço, está muito bacana e é muito bom para as crianças poderem ter acesso a um local como este, com livros, arte, que é bem cuidado, acho que só tem a agregar para a comunidade — avalia a mãe enquanto o pequeno vai descobrindo tudo com as mãozinhas.
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As crianças e os adolescentes, de fato, abraçaram a nova biblioteca. Segundo a presidente da Fundação Municipal de Cultura, Cristiane de Jesus, desde que as portas se abriram o local virou ponto de encontro dos jovens. Todos os dias, no contraturno escolar, eles aparecem para participar de atividades, explorar o espaço ou simplesmente passar o tempo de uma forma interessante, descobrindo novas experiências através dos livros, dos materiais de vídeo e áudio e até do “telecentro” – área com quatro computadores à disposição dos visitantes –, e já se tornaram parceiros da equipe da biblioteca:
— Nós explicamos que isso aqui é deles, que eles precisam cuidar e também nos ajudar a manter esse espaço assim, de uma maneira que seja boa para todos. E eles vêm tanto aqui que já apareceu até pai querendo ver o que tinha na biblioteca, porque o filho estava todos os dias vindo para cá!
Ambiente de leitura e estudos
Jovens e adultos também utilizam o espaço como área de estudo, pesquisa e trabalho, como o assessor jurídico Rodolfo Antônio Knies, 27 anos. Ele, morador de Porto Belo há cinco anos, conta que sempre gostou de estudar em bibliotecas, mas já não frequentava a do município pela falta de estrutura. Agora ele estuda para um concurso público e praticamente “bate ponto” no local todos os dias:
— Hoje eu sou servidor público graças a todo o tempo que eu passei estudando em bibliotecas. A minha casa aqui é na beira da praia, então tem muito barulho, passa muito carro, e aqui é muito mais tranquilo e tem tudo o que eu preciso: bastante luz, silêncio e uma mesa boa.
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A Fundação Municipal de Cultura também reativou o cadastro da biblioteca no governo do Estado, que estava desatualizado e impedia novas aquisições para o acervo. Agora a Donato Ananias conta com cerca de 14 mil obras à disposição da população, que podem ser emprestadas ou apreciadas na biblioteca mesmo, em uma das mesas de trabalho ou no espaço “café e leitura”, que tem sofá e café quentinho.