Sabe qual é a diferença entre um livro na prateleira e um livro no banco de praça? Os joinvilenses podem descobrir a resposta para esta questão com o Projeto Soltos na Cidade, promovido pela Biblioteca Pública Rolf Colin e a Secretaria Municipal de Educação com o apoio da Confraria do Escritor.
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Setenta livros foram disponibilizados pela biblioteca e entregues à funcionários e a escritores joinvilenses para serem deixados por aí, para que novos leitores os encontrem e transformem o local em ponto de leitura. Pode ser no banco de praça, no ponto de ônibus ou na mesa da praça de alimentação. Qualquer lugar público onde, garantidamente, alguém poderá passar e encontrar o livro para adotá-lo.
A iniciativa não é nova – ela já existe em outras cidades do Brasil e do mundo – mas pode surpreender alguns joinvilenses. Afinal, todo mundo pode pegar um destes livros, ler onde e quando quiser e, depois que o livro tiver cumprido seu papel, “soltá-lo” novamente pela cidade. O objetivo é saciar a vontade de ler de todos, desde os ávidos leitores até os mais tímidos na leitura. A escritora Mariza Vieira Rodrigues, por exemplo, não resistiu quando recebeu a missão de soltar cinco livros.
– A primeira coisa que eu fiz foi levá-los para casa e ler, afinal, eu tinha que saber se eles eram bons, né? -, conta ela, aos risos.
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Surpresas
Na manhã de quinta-feira, Mariza criou coragem para libertar os livros. O primeiro foi “Canos e Marolas”, de João Gilberto Noll, abandonado em um banco da praça da Bandeira e que bateu todos os recordes imagináveis: menos de um minuto depois, quando Mariza ainda estava a poucos metros do livro, o metalúrgico aposentado Milton Cepellos, 65 anos, encontrou o tesouro abandonado.
Segurou, folheou, sentou no banco, leu a etiqueta que explica o projeto colada na primeira página e começou a entrar no mundo do homem em busca de uma filha desconhecida da narrativa de Noll. Só parou porque foi interrompido.
– É seu? Eu ia começar a ler, mas queria mesmo era levar pra casa, porque tenho compromissos agora e não ia conseguir terminar -, disse Milton, e ficou feliz ao descobrir que o livro estava ali, disponível para ele.
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O segundo livro solto por Mariza também encontrou logo um curioso: o pequeno Wilson de Oliveira dos Santos, seis anos, que sentou em um banco da Travessa Bachmann com a mãe e a irmãzinha. Ao lado dele, estava “O Pai Minuto”, leitura não muito própria para a idade de Wilson – ele está em fase de alfabetização – mas que pode ajudar a mãe, Fabiana, se ela quiser conhecer mais sobre comunicação com os filhos. Wilson folheou o livro com curiosidade e receio até mostrar para a mãe, que topou em levá-lo para casa.
A terceira parada da escritora foi a praça Nereu Ramos e os últimos três livros foram deixados nos bancos. Até a hora em que a observação do encontro entre livro e leitor foi concluída, apenas “O Rochedo de Tânios”, de Aamin Maalouf – o preferido de Mariza – foi adotado. Lia Rose, 24 anos, sentou ao lado dele e não teve coragem de pegá-lo na hora.
– Achei que poderia ser de alguém que só tinha largado aqui, mas ainda estava por perto -, comentou ela. Os outros dois ficaram abertos em bancos da praça, esperando que o leitor certo, na hora certa, os encontre para descobrir que um livro é feito para ser lido e compartilhado – na prateleira, é só mais um objeto sem muita função.
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